Posted by : Angie Sep 18, 2022


            A manhã despertava na cidade de Motostoke. As engrenagens e mecânicas tecnológicas iniciavam mais um dia de trabalho. As ruas começavam a ganhar vida à medida que os operários se deslocavam para as fábricas da cidade e as famílias saíam de suas casas, prontas para enfrentarem mais um dia atarefado.

 

No sul da cidade, as portas do Pokémon Center abriam-se, revelando a figura de dois jovens que caminhavam de forma calma. O olhar do rapaz parecia um pouco distante, apesar das suas pernas caminharem rumo a um destino específico. Ao seu lado, a rapariga esfregava os olhos e abria a boca, bocejando e revelando um ar ainda ensonado.

 

            - Odeio acordar cedo. – resmungou, passando os dedos pelos fios de cabelo.

 

            - A ideia foi tua. – ripostou o outro.

 

            - Tínhamos de ir embora. Não podemos ficar aqui para sempre.

 

            - Gloria…

 

            - Victor. – cortou a gémea. – O Hop não vai voltar. Nós esperámos vários dias.

 

            - Eu pensava que a Sonia ia conseguir convencê-lo a voltar atrás…

 

            - Não sabemos o que aconteceu. Nenhum deles nos atende às chamadas. – afirmou, confirmando o seu Rotom Phone, que continuava sem qualquer notificação. – O Hop só precisa de espaço.

 

            - Achas que é mesmo só isso? Eu tenho medo de que ele faça alguma loucura.

 

            - Se a Sonia estiver com ele, então o Hop não vai fazer nada de que se possa arrepender mais tarde.

 

            - E se eles não estiverem juntos?

 

            - É melhor não pensarmos nisso. – murmurou.

 

            - Vamos pensar no quê então!? - exclamou o rapaz. – Como é que vamos seguir viagem sem o nosso companheiro?

 

            - Victor, temos de o fazer. O Hop não iria querer que nós ficássemos fechados num Pokémon Center à espera dele. Temos de seguir em frente. E esperar que ele faça o mesmo.

 

            Naquele momento, os gémeos aproximavam-se da saída da cidade. Os grandes portões de Motostoke voltavam-se agora para os terrenos infinitos da Wild Area. Os dois observaram a paisagem à sua frente, respirando o ar puro que deixava para trás a poluição citadina.

 

            - Vamos lá, então. – cedeu o rapaz, de contra vontade.

 

• • •

 

            A chuva caía em Motstoke Riverbanks. Os montinhos de erva localizados abaixo da ponte que ligava a Route 5 a Hulbury ganhavam vida através das poças de água que se começavam a formar, criando aglomerados de lama. Os ramos das árvores agitavam-se graças ao vento que acompanhava os aguaceiros, mas nem isso impedia uma dupla de Treinadores Pokémon a enfrentar desafios desconhecidos.

 

Avery e Klara desafiavam diferentes criaturas lado a lado. O rapaz fitava atentamente através das suas lentes, pingadas da chuva e embaciadas pela sua respiração quente. Do outro lado, Klara retocava o grande laço ao cimo da sua cabeça, enquanto os seus fios de cabelo rosa dançavam ao som da forte ventania no local.

 

À frente do jovem de cabelo loiro e comprido erguia-se uma criatura voadora. O seu corpo esférico era decorado com padrões coloridos a preto e verde. A sua cabeça negra era formada apenas por um olho cinzento que penetrava a figura de Avery. As suas asas eram amarelas, com apontamentos azuis e vermelhos. Na zona inferior do seu corpo, uma cauda era colorida com as mesmas tonalidades.

 


- Sigilyph, um Pokémon Psychic-Type e Flying-Type. – falou o Rotom Dex do rapaz. – Os seus poderes voadores são fornecidos através das habilidades psíquicas. Estudos indicam que esta espécie era guardiã de antigas civilizações.

 

Diante de Klara, por sua vez, ganhava forma uma criatura semelhante a uma estrela-do-mar. O seu corpo arroxeado era coberto por tentáculos azuis com espinhos venenosos. No topo da sua cabeça, um bulbo roxo e amarelo ameaçava envenenar os seus adversários, ao mesmo tempo que os seus olhos claros e as presas afiadas se voltavam para a figura da rapariga de cabelo rosa.

 


- Mareane, um Pokémon Poison-Type e Water-Type. – anunciou o aparelho eletrónico. – Quando se é atacado por uma criatura desta espécie, sente-se uma dormência que se transforma em comichão intensa e muito desagradável.

 

- Hatenna, dá-lhe com Disarming Voice!

 

- Nidoran, Fury Swipes.

 

A Fairy-Type abriu a sua boca, lançando ondas de som em tons rosados na direção de Sigilyph, que fora atingido enquanto se tentava esquivar. Do outro lado, o Poison-Type lançara-se contra Mareanie, arranhando com múltiplos ataques. No entanto, o Water-Type aproveitara-se da proximidade do adversário para contra-atacar com Bite, ferindo a criatura de Klara.

 

- Continua com Psybeam!

 

- Levanta-te, amiga! Poison Sting.

 

Do outro lado do recinto improvisado, Sigilyph defendeu-se, atacando também com Psybeam. Os raios psíquicos dos dois Pokémon uniram-se num só, provocando uma pequena explosão no ar. Ao mesmo tempo, Nidoran voltava a aproximar-se de Mareanie para espetar o seu ferrão no adversário que se preparava para contra-atacar com Peck, voltando a bloquear a investida da adversária.

 

Avery cerrou o punho e Klara deixou escapar um pequeno grito de frustração, sinal de que os seus planos não estavam a correr como esperava. Os dois jovens entreolharam-se no meio de toda a confusão. Não precisaram de trocar qualquer palavra, parecia que procuravam apenas o conforto no olhar um do outro.

 

- Força, Hatenna. Confusion!

 

- Scratch.

 

Os olhos de Hatenna iluminaram-se de encarnado e uma energia súbita cercou o corpo de Sigilyph enquanto este era arremessado de um lado para o outro no ar. Nidoran dava início a outra investida, desta vez atacando Mareanie com as suas presas afiadas. Por sua vez, Sigilyph soltou-se do ataca da criatura Fairy-Type com a ajuda de Air Cutter, lançando Hatenna pelo ar enquanto Mareanie soltava um líquido espesso e pegajoso dos seus tentáculos, técnica conhecida como Venoshock.

 

Enquanto Hatenna se recuperava do ataque do adversário voador, Nidoran demonstrava mais dificuldades em continuar em frente com a disputa. O seu corpo encontrava-se agora caído sobre o chão molhado, envolto de veneno.

 

- Estamos prontos para continuar, Hatenna? – Avery perguntou à criatura, recebendo um grunhido afirmativo da mesma.

 

- Nidoran… - murmurava Klara, agachando-se perto da Pokémon. – Estás bem, amiga?

 

            A pequena felpuda deixou escapar um longo suspiro. O seu corpo parecia tenso e os seus membros mexiam-se com bastante dificuldade. Os olhos da criatura Poison-Type fitaram os da jovem aventureira, que transmitiam carinho e preocupação.

 

O corpo de Nidoran iluminou-se. A Pokémon sentiu os seus músculos renascerem à medida que cresciam e se fortaleciam. A sua fisionomia continuou a alterar-se, até que a luz se dissipou, dando lugar a uma nova criatura. Agora os membros inferiores da Poison-Type eram tão fortes que permitiam que a criatura quadrupede se mantivesse de pé apenas com a ajuda das suas pernas. Os seus braços também eram maiores, assim como os espinhos venenosos nas costas azuladas. Os olhos vermelhos da Pokémon penetravam o rosto de Klara, que observava a criatura sorridente.

 


- Nidorina, uma Pokémon Poison-Type. – Klara voltava a segurar no Rotom Phone, procurando agora informações sobre a sua Pokémon evoluída. – É bastante protetora do seu grupo, atacando os adversários com o auxílio dos espinhos venenosos das suas costas.

 

A Pokémon levantou-se do chão e abriu a sua boca, lançando um alto grunhido na direção de Mareanie. Growl era responsável por diminuir o poder de ataque do adversário.

 

- Uau! – exclamou Avery, surpreso.

 

- Que coisa magnifica… - murmurou Klara, abismada. – Nidorina, agora que estás mais forte que nunca, vamos concluir este desafio!

 

Hatenna voltou a lançar um Psybeam na direção de Sigilyph, atingindo o Flying-Type e fazendo-o cair ao chão. Ao lado, Nidorina voltou a atacar com Scratch. Uma vez que a sua velocidade aumentara com a evolução, agora estava mais rápida do que o adversário Water-Type, fazendo-o tropeçar na lama do local.

 

Avery e Klara precipitaram-se para procurar Poké Balls vazias dentro dos seus bolsos e, como uma coreografia previamente treinada, arremessaram as cápsulas esféricas contra os Pokémon selvagens. Os objetos vibraram no chão e, momentos depois, as duas capturas estavam concluídas.

 

Os jovens aventureiros saltaram de entusiasmo, acompanhados pelos seus Pokémon. Naquele momento, parecia que se esqueceram completamente da pequena tempestade que acontecia naquela zona da Wild Area. A felicidade e a excitação dos adolescentes tomavam conta do ambiente.

 

• • •

 

Marnie encontrava-se no interior da tenda. A treinadora vestia as suas roupas habituais enquanto segurava o Rotom Phone nas duas mãos de forma descontraída. Na tela do aparelho eletrónico surgia a figura de Piers,

 

- Portanto, decidi voltar e trazer aquilo que me pertencia. – explicava, mostrando um pequeno crachá brilhante.

 

- A Fire Badge! – exclamou o irmão mais velho, do outro lado da ligação. – Conseguiste dar uma lição ao velho Kabu. – riu.

 

- Ele deu muita luta. – sorriu. – Achei-o bastante inspirador, admito.

 

- Ele é, sem dúvida, dos Líderes de Ginásio mais fortes de Galar. Mas a questão é… quem é que não é forte com uma Dynamax Band no pulso? Assim é fácil. – atirou.

 

- Praticamente, todos os Treinadores Pokémon têm uma. É quase um requisito obrigatório para participar no Gym Challenge.

 

- São pessoas como tu e eu, querida irmã, que se destacam e se mantêm verdadeiras aos poderes autênticos dos Pokémon.

 

Marnie calou-se, acenando apenas a cabeça em tom de concordância. No entanto, a sua cabeça começava a girar. Até então, a jovem não tivera coragem para admitir que também no pulso dela se encontrava aquele mecanismo que Piers tanto antagonizava. Todo um ódio sem explicação e que Marnie não entendia.

 

- Já é hora de começar o dia, não? – ouviu-se uma voz do lado de fora da tenda.

 

O fecho do tecido abriu-se, revelando os caracóis platinados de Bede. O rapaz espreitou para o interior da tenda e piscou os olhos, virando o olhar para o Rotom Phone que Marnie segurava.

 

- Desculpa, vou já. – murmurou a rapariga.

 

- Oh. Não queria interromper. – lamentou.

 

- Não faz mal. – a especialista em Dark-Type sorriu. – Aproveito e apresento-vos. – falou, virando o telemóvel para Bede. – Piers, segui o teu conselho e arranjei um companheiro de viagem. Pelo menos, por enquanto.

 

- Ah! Que bom! – exclamou o adulto. – Olá rapaz.

 

- Bom dia, Piers. O Líder de Ginásio mais odiado de Galar. – falou num tom irónico. – Eu sou o Bede.

 

- Eu mesmo. – riu. – É um gosto conhecer-te. Como estão a correr as vossas aventuras?

 

- Por hoje está tudo calmo. A Marnie ainda não saiu da tenda. – respondeu, lançando um olhar à jovem.

 

- Temo que seja responsável por esse pequeno obstáculo. Precisávamos de pôr a conversa em dia. Mas podemos voltar a falar noutra altura, maninha. – sorriu.

 

- Está tudo bem. – respondeu Marnie. – Eu vou enviando atualizações.

 

- Com certeza! Cuidem-se!

 

O rosto de Piers desapareceu do ecrã do Rotom Phone, que se voltou a escurecer. Marnie arrumou o aparelho dentro da sua mala, voltando-se para a figura de Bede.

 

- Não podias ser mais rude?

 

- Desculpa, mas o que eu disse é verdade. – ripostou. – Não pude deixar de ouvir a vossa conversa lá fora. Não percebo a insistência dele contra o Dynamax. E pior, tu ainda não lhe contaste que andas a usar isso a teu favor!

 

- Bede… é muito complicado… eu não sei como explicar.

 

- Sabes que a probabilidade de ele assistir a um dos teus combates contra qualquer Líder de Ginásio é bastante elevada, certo? Existem drones nos recintos de cada Stadium.

 

- Sim, eu sei… sou tão estúpida! – exclamou.

 

- Eu não sei o que é ter um irmão mais velho. – murmurou o platinado. – Mas não te podes submeter aos ideais dele. Tu és a tua própria pessoa e tens a tua própria opinião. Certo?

 

- Tens razão, sim. Mas esta é uma conversa que se deve ter pessoalmente.

 

Bede assentiu.

 

- Mas isso não vai acontecer tão cedo. Portanto, tem cuidado com o que fazes.

 

- Estás mesmo a dar-me bons conselhos? Tu, Bede? – provocou.

 

- Não… - cortou o rapaz. – Só estou à espera de que saias daqui para poder arrumar o acampamento e continuarmos viagem.

 

- Como queiras. – riu Marnie.

 

Os dois jovens arrumaram os sacos da cama e os pertences que se encontravam no interior da tenda, passando depois a desmontar a casa improvisada das últimas noites. Na parte de fora, existia uma pequena mesa com dois bancos onde faziam as suas refeições.

 

Encontravam-se em Giant’s Seat, na Wild Area. A flora daquela zona era composta por relva baixa e densa, algumas árvores com Berries e rochas de vários formatos e tamanhos. Um grande lago recortava o solo do local, que era acessível através de uma ponte de madeira que atravessava o manto de água.

 

Ouviram-se alguns passos sob as tábuas de madeira, que se foram aproximando do acampamento dos dois viajantes. No entanto, nenhum se virou. Ambos se encontravam atarefados com as arrumações e as suas cabeças estavam ocupadas com os caminhos que ainda tinham por percorrer.

 

- Vocês por aqui?

 

Bede e Marnie sobressaltaram-se. Ao virarem-se, encontraram as figuras de Victor e Gloria. Os dois irmãos observaram o acampamento dos rivais com curiosidade.

 

- Os meus gémeos preferidos! – exclamou Marnie, largando os seus afazeres e correndo para abraçar os dois.

 

- O que fazes com… ele? – a gémea perguntou, preocupada.

 

- Estou a mantê-la refém. – brincou Bede.

 

- Depois do nosso último encontro e de vocês regressarem para Motostoke, o Bede ajudou-me a preparar para o confronto com Kabu. Sim, foi muito simpático da parte dele. – comentou, observando o ar de surpresa dos dois irmãos.

 

- Nós conseguimos vencê-lo! – exclamou Victor. – Então e tu?

 

- Também. – sorriu. – Foi aí que percebi que precisava de alguém que puxasse por mim para me tornar na melhor Treinadora Pokémon possível. – admitiu.

 

- E essa pessoa sou eu. – o platinado abriu os braços no ar, de forma irónica.

 

- Por enquanto, estamos a viajar juntos. Mas cada um é livre de seguir o seu caminho quando assim achar melhor. – explicou Marnie.

 

- Parece-me justo. – assentiu Victor, observando a figura de Bede.

 

- Esperem, então e vocês? Onde está o vosso amigo irritante?

 

- Hop, Bede. Esse é o nome dele. – corrigiu Marnie.

 

- O Hop decidiu viajar sozinho. – respondeu a gémea. – Pelo menos, durante algum tempo.

 

- Problemas no paraíso? – questionou o platinado.

 

- Ele só precisa de estar sozinho por um pouco. – explicou o rapaz, sem se alongar.

 

- Parece-me normal e saudável. – comentou Marnie. – Tenho a certeza de que se voltarão a encontrar em breve. – sorriu.

 

Gloria, que até então permanecia mais calada do que o habitual, voltara a sua atenção para uma estranha luz que surgira alguns metros à frente do local. Parecia que um raio encarnado tinha início no solo e se dirigia ao céu. A jovem pediu a atenção dos restantes, apontando na direção daquele fenómeno.

 

- Aquilo é…

 

- Um Pokémon Den! – exclamou Victor.

 

- É mesmo? – Marnie parecia abismada e surpreendida.

 

Um silencio instalou-se no local, enquanto os quatro jovens fitavam atentamente a luz hipnotizante. Transmitia uma sensação de alarme, insegurança, mas ao mesmo tempo de curiosidade e desafio.

 

- Quem quer participar numa Max Raid Battle? – convidou Bede, com um ar empolgado.

 

• • •

 

Bridge Field localizava-se entre a zona sul e norte da Wild Area. Os campos verdejantes prolongavam-se por planícies decoradas com lagos, árvores e arbustos. Naquela zona existia um pequeno Pokémon Nursery que funcionava a tempo inteiro, recebendo, dia e noite, Treinadores Pokémon que viajavam de forma destemida.

 

Era ali que Hop se abrigara desde que se aventurara, noite adentro, pelos inúmeros percursos da Wild Area. O rapaz de Postwick estava hospedado num dos pequenos quartos do estabelecimento. Mas o jovem não estava sozinho. Sonia encontrara-o na mesma noite em que saíra de Motostoke. Depois de discussões e lutas que pareciam não ter fim, o moreno cedeu e acabou por aceitar a companhia da ruiva, que agora se encontrava também hospedada naquele humilde edifício, no quarto ao lado.

 

Naquele momento, alguém batia à porta do quarto de Hop. O rapaz, que permanecia deitado na cama desde a manhã com os olhos presos ao teto, sobressaltou-se, sentando-se sob a colcha que cobria o colchão.

 

- Sim? – murmurou, como resposta.

 

A porta da pequena divisão abriu-se e o rosto de Sonia apareceu entre a brecha. Esboçava um sorriso iluminado, contrastando com o rosto cansado de Hop.

 

- Olá. – saudou a jovem. – Tudo por aqui? Ainda não saíste do quarto hoje.

 

- Andas a controlar-me, é?

 

- Não. – respondeu prontamente, fechando a porta atrás de si e caminhando na direção da cama, sentando-se ao lado do mais novo. – Estou apenas preocupada contigo.

 

- Não precisas de tomar conta de mim, Sonia.

 

- Diz-me. Desde que chegámos aqui, já saíste deste quarto deprimente?

 

Um silêncio instalou-se na pequena divisão e Hop aproveitou o momento para observar o cómodo onde se encontrava. As paredes em madeira eram escruas e sem vida. Existia uma pequena cama, onde se encontravam sentados naquele momento, um armário modesto e uma pequena janela por onde conseguia avistar a flora da Wild Area.

 

- Não tenho vontade de sair daqui. – respondeu de forma curta.

 

- E porquê?

 

Hop encolheu os ombros.

 

- A minha cabeça continua pesada com toda aquela informação que o Leon partilhou. – confessou. – Não consigo esquecer aquilo que ele disse.

 

Sonia suspirou.

 

- Agora sabes como eu me sinto desde aquele dia. E eu vivenciei tudo aquilo.

 

- Como conseguiste seguir em frente?

 

- Ao princípio não foi fácil, confesso. – a voz da ruiva ficou mais séria do que o normal. – Mas a minha avó ajudou-me a encontrar o caminho. Aprendi que fazer aquilo que realmente gosto é o melhor para a nossa saúde mental. Poucas pessoas falam disso, não é? – murmurou, deixou escapar uma gargalhada rouca. – Não valia a pena continuar a mentir a mim mesma e insistir em fazer algo com o qual não me identificava.

 

- Estás a falar do Gym Challenge?

 

- Exatamente.

 

- Admiro a tua coragem. Parece que existe uma grande pressão para seguir esse caminho.

 

- E existe, de facto. Mas não me parece que essa pressão te chateie muito. – a rapariga deu um pequeno abanão no ombro do rapaz. – Eu vejo a forma como tu defendes os teus Pokémon. Os teus olhos brilham tal como os do…

 

- Não digas isso. – cortou.

 

- Eu sei que estás desiludido com ele. Mas é verdade.

 

- Eu não quero ter nada a ver com o Leon.

 

- Não podes deixar que o teu ressentimento influencie as tuas escolhas, Hop.

 

- Ele era o meu ídolo, Sonia… a melhor pessoa do mundo. – a voz de Hop saiu fraca e rouca. – Eu confiava nele para tudo. – suspirou.

 

- Eu sei que sim. Ainda me lembro da forma como me trataste quando nos conhecemos. – a ruiva deixou escapar uma gargalhada. – Trataste-me como se eu fosse uma verdadeira vilã.

 

- Fui tão estúpido. – lamentou. – E olha agora onde estamos. O destino é tão irónico.

 

- Chama-lhe aquilo que tu quiseres… mas eu acredito que, algum dia, tudo fará sentido.

 

- Eu não sei como poderei voltar a confiar nele. Ou nas pessoas à minha volta. – afirmou.

 

- Os teus verdadeiros amigos não merecem que tu penses dessa maneira por causa do erro de outras pessoas. – Sonia aclarou a sua voz. – Aposto que neste momento eles andam por aí super preocupados contigo.

 

- Ficar sem bateria no Rotom Phone também não veio nada a calhar. Principalmente quando ficas hospedado num edifício rústico como este.

 

Os jovens voltaram-se a calar por breves segundos. Sonia levantou o olhar para a janela, observando diferentes criaturas que brincavam no exterior das instalações do Pokémon Nursery.

 

- Eu não quero desistir do Gym Challenge. – confessou o moreno.

 

- Não tens de o fazer.

 

- Mas o Leon é o Campeão de Galar. Vou ter de lidar com ele a qualquer momento.

 

- O Leon também é o teu irmão, Hop. – relembrou a pesquisadora. – São da mesma família. Mais cedo ou mais tarde, vais ter de o reencontrar,

 

- Não consigo imaginar esse momento. – confessou.

 

- Acho que é demasiado cedo para pensares sobre isso. Mas falar sobre estes assuntos faz bem. Não guardes estes pensamentos para ti. Podes falar comigo sempre que precisares.

 

Hop voltou o olhar para a ruiva, esboçando um sorriso tímido e honesto.

 

- Obrigado.

 

- Não tens de agradecer, pequenote. – brincou a jovem. – Vamos mas é sair daqui. – disse, levantando-se da cama.

 

- E para onde vamos?

 

- Acho que tenho uma ideia.

 

• • •

 

Depois de arrumarem o acampamento, Victor, Gloria, Bede e Marnie correram até à luz encarnada. A origem daquele fenómeno tinha lugar numa perfuração no solo, rodeada por pequenas rochas, que se localizava entre um lago azul e uma colina rochosa.

 

Agora que estavam mais próximos, conseguiam distinguir um ruido emitido pelo feixe de luz encarnado. Apesar da curiosidade, os quatro mantinham-se em silêncio, tentando perceber a funcionalidade daquele acontecimento.

 

- Estás estranhamento calado. – murmurou Gloria, quebrando o silencio por fim. – Onde está a tua sabedoria?

 

- Lembro-me de ler sobre Pokémon Dens e Max Raid Battles, mas não me recordo de uma explicação sobre como participar nas mesmas.

 

- Eu sei que é necessário haver vários Treinadores Pokémon para enfrentar um único adversário. – sublinhou Bede.

 

- Um Pokémon Dynamax, certo? – interveio Marnie.

 

- Sim. – Victor assentiu. – Mas, como chegamos até lá?

 

Bede fechou a cara e analisou atentamente a luz à sua frente. Depois, voltou a atenção para a perfuração no solo e inclinou a sua cabeça para a frente, tentando analisar melhor aquele buraco. No momento em que se o seu corpo tocou a fonte de energia, Bede desapareceu, como se tivesse sido engolido pela força misteriosa que surgia do interior do solo.

 

- Bede?! – gritou Marnie, perplexa.

 

- Onde é que ele foi?! – Gloria também parecia confusa.

 

- Esperem… - Victor abriu os olhos com força, sentia o seu raciocínio a ser processado.

 

- Esperar pelo quê, Victor?! Tu não viste o que acabou de acontecer?

 

- Eu não acredito que o meu companheiro de viagem me abandonou desta forma. – Marnie começara a choramingar.

 

– Não, não… É isto. – afirmou. – É assim que entramos numa Max Raid Battle!

 

• • •

 

Avery e Klara enfrentavam uma tempestade de areia em Dusty Bowl. Os dois jovens tentavam proteger a cara colocando os braços à frente da cabeça, mas tornava-se cada vez mais complicado seguir a trajetória.

 

- Precisamos de encontrar um sítio para nos abrigarmos! – exclamou Klara.

 

Avery não respondeu. A atenção do rapaz voltara-se para um pequeno objeto que reluzia, sobressaindo-se no meio dos grãos de areia que eram soprados pelos ventos da Wild Area. Sem pensar muito sobre o assunto, precipitou-se na direção da pequena esfera, caída entre algumas rochas.

 

- Mas que tesouro.

 

O jovem baixou-se, segurando o objeto brilhante entre as suas mãos. Em silêncio, Klara aproximou-se do companheiro de viagem, confusa com toda a situação.

 

- Avery? Ouviste-me!? – chamou Klara com os braços no ar. – Oh. – murmurou, reparando então na esfera cintilante. – O que é isso?

 

- Uma Moon Stone! – exclamou o outro. – Estava a reluzir no meio desta horrível tempestade. Parecia que estava a chamar por mim.

 

- Uau! – exclamou. – Para que serve isso?

 

- Para o futuro.

 

• • •

 

- Os Pokémon Dens funcionam no subsolo da Wild Area. É lá que está armazenada a energia Dynamax, que nós vemos através destes raios de iluminação vermelhos. – explicava Victor, analisando agora um livro que entretanto descobrira no meio da sua mala. – Agora lembro-me. É claro, faz sentido. – murmurava, batendo com a mão na testa. – Quando o corpo humano toca na energia Dynamax, o mesmo é transferido para o subsolo. O processo acontece também ao contrário, para regressar à superfície. E é assim que conseguimos participar em Max Raid Battles.

 

Marnie confiara na explicação de Victor. Os pensamentos da jovem especialista em Dark-Type concentravam-se agora em encontrar Bede e, por isso mesmo, colocara de imediato a mão sobre a luz encarnada, desaparecendo de imediato.

 

- Eu não acredito que isto é real. – a voz de Gloria revelava incerteza e insegurança.

 

- Mas é verdade. Vivemos num mundo onde os Pokémon existem. – riu o gémeo. – Isto não é assim tão descabido.

 

- E se alguma coisa correr mal lá em baixo?

 

- Vamos estar juntos! – incentivou.

 

- Victor…

 

O gémeo esticou o braço, pegando na mão da irmã e observando os seus olhos com atenção.

 

- Vamos. Eu faço isto contigo.

 

Gloria olhou em volta, tentando procurar alguma forma de escapar àquela situação peculiar. A insistência e certeza nas palavras de Victor, por outro lado, ecoavam na sua cabeça. Eram raras as vezes em que o rapaz errava.

 

- Que se lixe.

 

Os dois gémeos sorriram e entrelaçaram os dedos das suas mãos. De seguida, cada um colocou a outra mão sobre o feixe de energia e, gradualmente, sentiram o seu corpo ser invadindo por uma onda de iluminação e uma sensação de formigueiro. O ruido emitido pela luz encarnada ficou mais forte, mas a visão dos dois jovens ficara escura, como se as suas consciências tivessem adormecido.

 

Quando voltaram a despertar, encontravam-se num local completamente diferente. O solo era composto por terra, tal como a Wild Area, no entanto, ali não existiam árvores, montinhos de erva, arbustos, montanhas ou lagos. Era um local plano, envolto por nuvens e energia colorida em tons de vermelho, azul e roxo.

 

Os corpos dos gémeos estavam caídos sobre o solo. Olharam ao seu redor e rapidamente encontraram as figuras de Bede e Marnie de pé. Os dois precipitaram-se a aproximar-se dos irmãos, ajudando-os a levantarem-se.

 

- O-onde estamos? – a voz de Gloria saiu arrastada.

 

- Estamos dentro de uma Max Raid Battle. – anunciou Bede.

 

- Aquilo que o Victor explicou é mesmo verdade. – confirmou Marnie.

 

Atrás do grupo, o pilar de luz encarnada continuava a marcar presença, garantindo o regresso á superfície de qualquer elemento do confronto que estava prestes a ter lugar.

 

- Ali está o nosso desafio.

 

Victor apontava para um grande vulto que começava a ganhar forma entre as nuvens de energia. A criatura caminhava a passos largos na direção do grupo, revelando o seu corpo de grandes proporções.

 

Era um Pokémon bípede, com o corpo assente em duas rochas cinzentas conectadas por músculos laranja. Da sua cabeça castanha surgiam quatro longos braços, cada um com um olho e várias presas afiadas. A figura monstruosa equilibrava-se em duas pernas fortes e musculadas, protegidas por garras cortantes.

 


- Barbaracle, um Pokémon Rock-Type e Water-Type e a forma evoluída de Binacle. – explicava o Pokédex. – Barbaracle é o resultado da união de sete Binacle. A cabeça dá as ordens e orientações aos restantes elementos do corpo. Ao ter um olho na palma de cada mão, permite-lhe uma visão periférica em todas as direções.

 

A criatura gigante lançou diversos rugidos de seguida, voltando a atenção para o grupo de jovens minúsculos à sua frente. A disputa estava prestes a começar. Victor pegou numa Poké Ball, lançando-a ao ar. O corpo de Toxel apareceu à sua frente, confuso e intimidado com todo aquele ambiente sombrio. Ao seu lado, Gloria fazia-se acompanhar por Gossifleur, que esvoaçava à volta da cabeça da rapariga. Bede e Impidimp também já estavam prontos para entrar em ação, assim como Nuzleaf que se colocava à frente de Marnie, como se estivesse a proteger a jovem treinadora.

 

- Isto é muito assustador. – confessou Gloria, olhando em volta. Nunca tinha estado num sítio tão intimidante como aquele.

 

- Mas nós estamos juntos. Vamos reunir toda a nossa força para enfrentar este Barbaracle Dynamax. – afirmou o gémeo, tentando transmitir uma sensação de calma e segurança.

 

- Ouviram o que o Rotom Phone disse. – Marnie falava, sem tirar os olhos da figura gigante à sua frente. – Ele tem olhos em todo o lado. Temos de atacar em equipa.

 

- E assim será. – assentiu Bede. – Impidimp, Assurance.

 

- Nuzzle.

 

- Leaf Tornado, Gossifleur!

 

- Nuzleaf, começa com Air Cutter!

 

Os quatro desafiantes prepararam-se para atacar, mas a figura gigante do seu adversário em comum fora mais rápido, invocando a técnica Max Rockfall. Uma grande coluna de parede surgiu entre Barbaracle Dynamax e os restantes elementos da batalha.

 

- Corram! – exclamou Gloria.

 

Toxel assustou-se e fugiu na direção de Victor, procurando abrigo entre as duas pernas do jovem. Gossifleur levantou voou, escapando às partículas rochosas que acompanhavam a ameaça maior. Impidimp, por sua vez, apanhava boleia de Nuzleaf, que carregava o companheiro de equipa às costas. Os quatro aventureiros baixaram os rostos, protegendo a visão com a palma da mão. Ouviu-se um estrondo quando a grande rocha embateu no chão, acompanhado de outro rugido de Barbaracle. A sua técnica falhara, mas uma tempestade de areia permanecia em jogo, causando desconforto a todos os presentes.

 

- Agora! – berrou Bede.

 

Nuzleaf regressou à linha da frente da arena improvisada. Impidimp saltou das suas costas, lançando-se na direção da criatura Dynamax, atacando com Bite. O Pokémon de Marnie também aproveitou a deixa para atacar com Razor Leaf e o outro Grass-Type disparou Leaf Tornado. Toxel correu para acompanhar o grupo, mas as suas capacidades ainda se encontravam nitidamente por desenvolver. Um pequeno curto-circuito foi disparado na direção de Barbacle, mas o Nuzzle parecia não ter grande efeito naquele corpo gigante protegido por areia no ar.

 

- Conseguimos magoá-lo, sequer? – murmurou a jovem de Spikemuth.

 

- Não me parece. – respondeu Victor.

 

Naquele momento, Barbaracle Dynamax preparava-se para voltar a atacar. Desta vez, abriu a boca, unindo a sua energia e disparando-a num brilhante Max Strike. O raio de luz atingiu Nuzleaf e Impidimp, enquanto Toxel e Gossifleur se esquivavam para o lado contrário.

 

- Synthesis!

 

Nuzleaf concentrou as suas forças para recuperar energia. Durante o processo, a folha no topo da sua cabeça iluminou-se.

 

- Impidimp, mantem-te firme! – exclamou Bede. – Vamos voltar a atacar com Assurance!

 

- Ajuda-o Toxel!

 

- Gossifleur, acompanha-os com Razor Leaf.

 

- Rollout.

 

Impidimo partiu na frente do grupo, atingindo a criatura Dynamax com força. Seguiram-se Gossifleur, atacando com folhas cortantes e Nuzleaf, que se enrolava em si mesmo, utilizando o peso do seu corpo várias vezes contra a figura de Barbacle. Toxel, o mais lento, aproximava-se a toda a velocidade com pequenas faíscas nas suas bochechas. Mas a criatura Dynamax antecipou-se, batendo com as suas duas pernas no solo e lançando múltiplos estilhaços contra o corpo do Electric-Type. A técnica Max Quake, super-efetiva contra o Pokémon de Victor, deixou Toxel imediatamente inconsciente.

 

- Não! – gritou o gémeo, correndo na direção do Pokémon e entrando no cenário de batalha, ainda envolto numa tempestade de areia.

 

- Sai daí, Victor! Estás maluco!? – a voz de Bede saiu num tom preocupado, algo que admirou todos os presentes. – O Barbaracle pode atacar a qualquer momento!

 

- Não se eu o conseguir impedir! Sing.

 

Todos taparam os ouvidos para não serem atingidos pela melodia hipnotizante de Gossifleur. Até mesmo Barbaracle colocava os braços à frente do rosto, bloqueando a passagem sonora. Apesar da técnica não causar qualquer efeito, serviu de distração e Victor conseguiu recuar para um local mais seguro com Toxel nos braços.

 

- Desculpa… - murmurou quando o Pokémon começou a despertar. – Eu não sei onde estava com a cabeça quando te enviei para uma Max Raid Battle. É óbvio que tu ainda não tens capacidades para enfrentar um desafio deste tamanho. – suspirou. – Vamos treinar com adversários à tua altura.

 

Como resposta, Toxel lançara outro Nuzzle contra Victor, fazendo-o cair no chão. O jovem observou o Electric-Type à sua frente, surpreso com aquela reação. A pequena criatura, apesar de ser frágil, revelava ser corajosa e até mesmo destemida. O rapaz ainda não percebia muito bem o que levava o Pokémon a ter tais atitudes, mas, a partir daquele momento, esse tornara-se o seu principal objetivo.

 

Mais à frente, Gloria, Bede e Marnie uniam esforços para enfrentar o jato de água gigante disparado por Barbaracle. Max Geyser foi responsável por atingir todos os Pokémon em campo, deixando todo o solo molhado. A técnica anulara a tempestade de areia que permanecia ativa então, mas, subitamente, provocara uma tempestade de chuva por todo o recinto.

 

- Já foram expostas todas as estratégias. – afirmou Bede. – Barbaracle, vamos arrumar contigo de uma vez por todas! – exclamou, tomando a frente de combate. – Não podes eliminar um dos nossos companheiros e esperar que não façamos nada.

 

- Não vais eliminar mais nenhum de nós. – defendeu Marnie.

 

- Isso mesmo! – Gloria concordou. – Está na hora de utilizarmos o Dynamax deste lado!

 

A gémea fitou a Dynamax Band no seu pulso. Até então, não tivera oportunidade de a utilizar. Mas isso estava prestes a mudar. Depois de recuperar o corpo de Gossifleur para o interior da Poké Ball, a jovem ativou a mecânica. A energia que se encontrava no interior da Dynamax Band começou a movimentar-se ao mesmo tempo que a esfera bicolor que segurava na mão crescia de tamanho.

 

- Força equipa! – incentivava Victor, alguns metros mais atrás.

 

Gloria esboçou um sorriso nos seus lábios. Sabia que era aquilo que tinha de fazer para recuperar o poder e o controlo daquela batalha. Com o auxílio das duas mãos, lançou a Poké Ball para a frente, revelando o corpo gigante de Gossifleur. Todos se surpreenderam com tamanha transformação, até mesmo a criatura que estranhava a sua nova forma.

 

Agora em formato Dynamax, o Grass-Type apresentava novas mecânicas que antes permaneciam por desbloquear. Gloria consultava as alterações no Rotom Phone.

 

- Vamos terminar com isto de uma vez por todas. – murmurou, fitando a figura de Barbacle do outro lado do campo improvisado. – Max Overgrowth.

 

- Nuzleaf, acompanha-os com Razor Leaf! Potência máxima!

 

- Bite.

 

Várias lianas gigantes de erva saíram da flor amarela no topo da cabeça de Gossifleur, atingindo Barbaracle em cheio. O Pokémon rugiu alto, sentindo a energia abandonar o seu corpo. Mais a baixo, múltiplas folhas cortantes atingiam as rochas que formavam o corpo do Pokémon Dynamax, enquanto os seus músculos laranjas eram atacados pelas fortes dentadas de Impidimp.

 

Barbaracle Dynamax deixou soltar um último grunhido antes de cair de joelhos no solo. O olho na sua cabeça fitou as figuras dos jovens à sua frente, antes de se apagar e cair inconsciente no chão.

 

Gloria permaneceu imóvel, observando o corpo gigante de Barbaracle caído no chão. Gossifleur continuava na sua forma Dynamax, observando tudo à sua volta de um ponto de vista diferente. Impidimp regressava para junto de Bede e Marnie celebrava a prestação de Nuzleaf.

 

- Eu disse-te que conseguíamos. – Victor apareceu atrás de Gloria.

 

- Seu estúpido. – murmurou a rapariga, abraçando o irmão e pousando a cabeça no seu ombro. – No que estavas a pensar quando te meteste à frente daquele grandalhão?

 

- Só queria tirar o Toxel dali. Foi estúpido da minha parte colocá-lo em combate.

 

- Fizeste muitas coisas estúpidas. – sorriu. – E obrigaste-me a usar o Dynamax pela primeira vez.

 

- Fica-lhe bem! – exclamou Marnie.

 

- É verdade. – concordou o platinado. – A Gossifleur Dynamax meteu o Barbaracle a um canto.

 

- Obrigado. – a gémea sorriu. – Mas não conseguiria sem vocês. Isto foi um trabalho de equipa.

 

- É verdade. Esse é o conceito de Max Raid Battle. – afirmou Bede, voltando-se para Victor. – E sobre o Toxel, posso ajudar-te a treiná-lo, se quiseres.

 

Victor surpreendeu-se com a proposta do rival. Até então, Bede mostrara sempre uma faceta mais distante e ríspida. Parecia que algo começava a mudar no rapaz.

 

- Podemos tentar. – respondeu, esboçando um sorriso enquanto fitava os olhos do outro.

 

- Então vão juntar-se a nós, é isso? – questionou Marnie. – Vamos fazer um acampamento gigante! – exclamou.

 

- A mim parece-me bem. – concordou Gloria.

 

- Ainda temos muito para explorar na Wild Area. Vamos a isso! – Victor deixou escapar uma gargalhada.

 

Depois de Gloria retroceder o corpo gigante de Gossifleur e de desativar a mecânica Dynamax, o grupo preparou-se para regressar à superfície da Wild Area. Voltaram a aproximar-se do pilar de energia vermelho, responsável por transfigurar os seus corpos até ao subsolo. Agora, o mesmo poste energético iria percorrer o trajeto contrário, levando-os de volta ao mundo real.

 

Victor, Gloria, Bede e Marnie deram as mãos, formando um círculo à volta da luz encarnada. Os seus olhares cruzaram-se entre a iluminação vermelha e, logo depois, deram um passo em frente. Os seus corpos foram invadidos por uma sensação de sensibilidade e tudo ficou escuro novamente.

 

• • •

 

            Thwackey e Roggenrola seguiam as ordens de Hop, desferindo ataques múltiplos contra as rochas presentes em Bridge Field. Na mesma zona, Skowvet enchia as bochechas de Berries enquanto Ivysaur ajudava nas investigações.

 

- Afinal estamos à procura de quê? – questionou Hop, voltando o olhar para Sonia.

 

- Se te dissesse perderia a piada. – riu. – Mas posso dizer-te que são objetos que existem apenas aqui, na Wild Area.

 

- Que grande mistério. – atirou o moreno. – Thwackey, usa Double Hit e Roggenrola utiliza o teu Smack Down contra as rochas!

 

- Muito bem. Ivysaur, usa Seed Bomb e Take Down nesses pedregulhos! – exclamou a ruiva. – E Skowvet, derruba mais Berries com Tackle e partilha-as com o resto do grupo!

 

As criaturas assentiram e seguiram as indicações dos seus Treinadores Pokémon, trabalhando em equipa. Tudo funcionava em perfeita sintonia. Enquanto Thwakey utilizava os seus galhos de madeira para atacar as rochas, Roggenrola lançava esferas que explodiam contra as mesmas. O mesmo acontecia com as sementes explosivas lançadas por Ivysaur, que deitavam diversos pedregulhos ao chão. As fortes investidas do Grass-Type, por sua vez, serviam para avançar nas escavações, criando um pequeno túnel na parede. O esquilo Normal-Type atirava-se contra os troncos das árvores, fazendo com que bagas de cores diversas caíssem ao chão, servindo para alimentar as criaturas empenhadas no trabalho árduo.

 

Horas depois, cada um dos Pokémon envolvidos no treinamento regressava para junto dos jovens aventureiros, segurando diferentes itens.

 

- Mas o que temos aqui?! – exclamou Sonia, abrindo os braços.

 

- O que é isto? – Hop tentava decifrar os artefactos que as criaturas carregavam.

 

Thwackey segurava uma rocha amarelada com o rosto de um pássaro esculpido e Roggenrola empurrava outra rocha, esta de cor azul, e com o perfil de um dragão desenhado. Ivysaur carregava no seu dorso um artefacto colorido a verde e com um peixe esculpido, enquanto Skowvet tentava não deixar cair uma pedra arroxeada com uma cauda desenhada.

 

- Aquilo são um Fossilized Bird e um Fossilized Drake. – explicou Sonia, apontando respetivamente para cada um deles. – E aqui temos um Fossilized Fish e um Fossilized Dino.

 

- Fósseis? – murmurou o moreno. – Aqui?

 

- Exatamente. Não é fantástico?

 

- Mas o que vamos fazer com isto? – indagou.

 

- Com sorte, conseguimos reanimar alguns Pokémon do nosso passado.

 

- Sonia, isto faz parte das tuas pesquisas, não é?

 

A ruiva calou-se, sentindo as suas bochechas ficarem mais quentes.

 

- Sim, é. Pronto, admito.

 

- Podias ter-me dito desde início. – Hop deixou-se rir.

 

- Assim tinha mais piada. – sorriu. – Divertimo-nos juntos, certo?

 

- Foi bom voltar a estar aqui. – o moreno murmurou, olhando à sua volta com atenção. Desde que ali chegara, não se dera ao trabalho de explorar aquela zona. Questionava-se agora sobre tudo o que a Wild Area tinha para oferecer. – E agora acho que foi estúpido da minha parte ter estado fechado naquele quarto durante tanto tempo.

 

- Felizmente, ainda vais a tempo de compensar pelo tempo perdido.

 

- Acho que devemos continuar viagem. – anunciou, por fim. – Aceito a tua companhia. Isto é, se tu quiseres.

 

- Finalmente! – Sonia exclamou, começando a saltitar. – Vamos lá!

 

Os Pokémon juntaram-se à jovem pesquisadora, criando uma roda de dança improvisada e saltos desengonçados. Hop ficou parado, observando os seus companheiros em silêncio. Por mais que sentisse a falta de Victor e Gloria, sabia que precisava de estar sozinho ou, pelo menos, com outras companhias, para meter as ideias em ordem e decidir as suas verdadeiras prioridades. E agora sabia que Sonia era a pessoa mais indicada para o ajudar a seguir viagem enquanto a insegurança insistia em tomar conta dos seus pensamentos.


                  

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  1. Sónia, certifique-se que o Hop não faz nada de errado. Ele está nas suas mãos!
    Aliás, gostei muito de saber que ela vai viajar um bom tempo com ele, a Sónia é uma personagem que eu gosto muito!

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    1. Quando decidi separar o trio protagonista, eu sabia que Sonia teria que se juntar a um deles. E a melhor decisão foi uni-la a Hop. E recordar que, no início da história, Hop não gostava dela? Eu adoro "brincar" com os caminhos das personagens e inverter aquilo que é esperado do público. Será que Sonia vai conseguir tomar conta do recado?

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