Galardões - Temporada 1: Resultados
O pequeno
auditório era iluminado com cadeeiros de baixa iluminação, tornando o ambiente
mais reservado e intimista. O palco estava vazio, contrastando com as bancadas
que se começavam a encher de rostos e personalidades animadas e bem conhecidas.
Na primeira fila, Victor, Gloria e
Hop faziam-se acompanhar dos seus fiéis companheiros. Drizzile ocupava a
cadeira confortável ao lado do seu Treinador, enquanto Scorbunny se sentava de
forma sorridente no colo da gémea. Thwackey e o moreno, por sua vez, discutiam
sobre alguma coisa, provavelmente, irrelevante.
Marnie e Bede estavam mais atrás.
Aguardavam, em silêncio, o que ali se iria passar. Sonia e Magnolia também
marcavam presença. A avó e a neta conversavam baixinho, enquanto os outros
elementos ocupavam os seus lugares. Na fila a seguir, Leon sentava-se com Rose,
que consultava o seu relógio e abanava a perna, pensando em todas as horas de
trabalho que estava a perder. Milo, Nessa e Kabu também estavam presentes no
auditório. Os três Líderes de Ginásio conversavam com entusiasmo, partilhando
experiências e relembrando memórias vividas. Sordward e Shielbert sentavam-se
numa fila mais afastada, acompanhados dos seus seguranças de proteção. Por fim,
no fundo da sala, Carter e Gale observavam em redor, começando a pensar em
alguma forma de arruinar aquela cerimónia.
Quando, por fim, as luzes do palco se
acenderam, todos se voltaram para a frente. No entanto, nenhuma figura surgiu
no local. Em vez disso, as colunas de som foram ativadas e, subitamente,
começou a ouvir-se o som de um teclado a escrever. A confusão era clara nos
rostos dos elementos presentes no local, mas, por fim, uma voz fez-se ecoar
pelas quatro paredes.
- O-olá?
- Quem está aí? – rematou Gloria, desconfiada
e visivelmente desconfortável.
- Sou eu. O vosso criador.
- Arceus?! – exclamou Victor,
perplexo.
A voz riu-se pelas colunas.
- Não. Sou o Angie.
- Quem? – questionou Hop. – Não
conheço ninguém com esse nome…
Todos os restantes presentes soltaram
exclamações de concordância, instalando um murmúrio de surpresa na sala.
- Sou o escritor de Aventuras em
Galar. A história a que todos vocês dão vida.
- Estamos todos a ter um sonho
coletivo… - murmurou Sonia.
- Eu já não tenho idade para estas
coisas! – reclamou Magnolia. – Já estou viva há demasiados anos para perceber
que isto é a vida real e não uma história de fantasia.
- Lamento informar, mas todos
vocês são personagens de uma história de ficção.
- O quê?! – o rosto de Bede contorceu-se.
- Mas não se preocupem… tudo isto
está a acontecer apenas na minha imaginação. E, na realidade, não faz parte da
história principal de Aventuras em Galar. É como se fosse uma narrativa à
parte. Um conteúdo especial, se lhe quiserem assim chamar. Portanto, nenhum de
vocês se irá lembrar que isto aconteceu.
- Mas, afinal, o que é que estamos a
fazer aqui? – questionou Marnie.
- Ao longo das últimas semanas, os
leitores de Aventuras em Galar estiveram a votar na primeira edição dos
Galardões, a cerimónia que festeja as diversas temporadas da nossa, e da vossa,
história. Foram criadas dez categorias distintas, de forma a selecionar as
personagens e as narrativas que mais se destacaram ao longo da Temporada 1. E
agora, finalmente, estamos aqui reunidos para receberem os prémios atribuídos.
- Peço desculpa, mas… será que
podemos despachar isto? Eu tenho muitas coisas para fazer. – o tom
condescendente de Rose invadiu a divisão.
- Concordo. – murmurou Leon.
- Muito bem. Vamos começar pela
primeira categoria. Os nomeados para melhor protagonista foram Victor Walter,
Gloria Walter e Hop Bennett. – o trio remexeu-se nas cadeiras,
entreolhando-se de forma curiosa. – Os resultados ditam que o Galardão de
melhor personagem principal vai para… Hop Bennett!
Os presentes no auditório aplaudiram
a vitória do moreno. Os dois gémeos abraçaram o companheiro de viagem e Leon
lançou exclamações de orgulho enquanto o seu irmão subia ao palco.
- Obrigado a todos os que votaram em
mim… - afirmou, esboçando um sorriso. – Não consigo perceber exatamente porquê,
mas espero que vos deixe orgulhosos, de alguma forma. Obrigado, também, aos
meus queridos amigos. Victor e Gloria, sem vocês, eu não estaria aqui. E,
claro, obrigado a todos os meus Pokémon, que confiam em mim e acreditam que eu
posso chegar longe!
A audiência voltou a aplaudir
enquanto Hop se sentava de novo ao lado de Thwackey.
- De seguida, temos a categoria
que agrupa as personagens secundárias. O público podia votar entre Marnie,
Bede, Leon e Sonia. Mas só um pode vencer o Galardão de melhor personagem
secundária… Marnie!
A jovem Treinadora de Spikemuth
levantou-se da sua cadeira e caminhou até ao palco ao mesmo tempo que todos os
presentes no auditório a aplaudiam. Marnie esboçou um grande sorriso, iluminada
pela luz da ribalta.
- Melhor personagem secundária? Nunca
iria imaginar… - riu. – Obrigado a todos os que votaram em mim. Tenho a certeza
de que os restantes nomeados seriam tão merecedores deste prémio. Aproveito
também para agradecer aos meus irmãos, Piers e Marley, e aos meus queridos
Pokémon! Força Dark-Type!
- Parabéns Marnie! Sabias que também
estiveste nomeada, juntamente com o Bede para a categoria que se segue? – a
jovem revelou um ar de surpresa enquanto caminhava de volta para o seu lugar. –
O Galardão de melhor rival vai para… Bede!
Mal Marnie se voltou a sentar, Bede
levantou-se do seu lugar, recebendo uma palmadinha nas costas da jovem Treinadora.
Todos saudaram a premiação do jovem rapaz. Os olhos de Rose pareciam brilhar
enquanto via a sua grande aposta subir ao palco. Já Victor batia palmas em
silêncio, com um olhar penetrante no rosto do adversário.
- Obrigado por reconhecerem o meu
propósito. – o jovem deixou escapar uma curta gargalhada, olhando a plateia à
sua frente. – Gosto de ser um rival. Um bom rival. Também é graças ao esforço
dos meus Pokémon que o consigo fazer. Quero agradecer ao Presidente Rose por
ter confiado em mim. Espero conseguir deixá-lo orgulhoso. – terminou, antes de
sair do palco e dar uma rápida vista de olhos ao trio protagonista.
- Fui o único a sentir a tensão no
ar? Ai… ai… por falar em tensão, em perigo, em alarme… Carter e Gale foram os
nomeados para melhor vilão. Mas qual o membro da Team Yell que vai roubar o
prémio? O Galardão de melhor vilão pertence a Gale!
Os aplausos do público foram
escassos, quase ninguém pronunciou qualquer exclamação de entusiasmo enquanto
Gale se levantava do lugar e caminhava em direção ao palco, onde se voltou para
encarar todos aqueles que os seus planos já tinham prejudicado. Apenas Carter
se mostrava feliz pela colega.
- É meu! – gargalhou de forma
estridente. – Pela primeira vez, não tenho que roubar algo para ser meu… um
verdadeiro objetivo alcançado! – exclamou, levantando a estatueta no ar.
– Obrigado aos meus fãs, ao meu público, a todos aqueles que torcem pela Team
Yell. Nós sabemos que vocês estão aí, nós ouvimos-vos e nós gritamos por vocês!
Nunca desistam!
- É isso mesmo! – gritou Carter do
fundo do auditório.
- As peripécias da Team Yell
prejudicam sempre o rumo das nossas personagens, mas isso não quer dizer que o
público não goste de ver um momento com mais drama e ação, não é verdade? –
Gale voltou a rir enquanto fazia o caminho de regresso ao seu lugar. – Na próxima
categoria, foi reunido um leque de personagens bastante interessante. Leon,
Rose, Magnolia, Sordward e Shielbert estiveram a disputar o papel mais
revolucionário da Temporada 1 de Aventuras em Galar. E o público decidiu que o Galardão
de melhor personagem revelação vai para… Leon!
- A que custo? – murmurou Sonia,
revirando os olhos.
Leon levou alguns segundos até se
levantar da cadeira. Todos o aplaudiram,
á exceção do trio protagonista e de Sonia, os únicos elementos da plateia que
tinham conhecimento do seu segredo.
- Obrigado. – murmurou, assim que
chegou ao palco. O seu olhar recaiu sobre o rosto inexpressivo de Hop. – Espero
que seja uma revelação positiva para todos. – falou, deixando escapar um riso
nervoso. – Obrigado a todos, mais uma vez.
O Campeão de Galar, invencível e
sempre pronto para enfrentar os seus medos, parecia estar sem palavras para
agradecer a premiação do público. O jovem regressou ao seu lugar, recebendo um
forte abraço de Rose e um aceno cordial de Sordward e Shielbert.
- Fica a pergunta se esta é, de
facto, uma revelação positiva ou negativa.
- Eu posso responder a isso… -
murmurou Hop entre dentes.
- Milo, Nessa e Kabu foram os
Líderes de Ginásio responsáveis por dificultar a vida das nossas personagens
durante esta temporada da história. O público decidiu que o Galardão de
melhor Líder de Ginásio pertence ao ardente Kabu!
O homem levantou-se do seu lugar,
cumprimentando os seus colegas de profissão com um ar sorridente. De seguida,
correu até ao palco, demostrando a todos a sua boa forma física.
- Obrigado, pessoal! – exclamou,
recebendo aplausos de todos os presentes. – É preciso trabalhar muito para a
nossa prestação ser reconhecida e conseguir chegar até aqui. A minha missão
como Líder de Ginásio de Motostoke é preparar os jovens Treinadores para os
desafios do futuro, fazer com que todos consigam aprender algo sobre si mesmos
e, obviamente, defender a força dos Fire-Type até ao fim! – afirmou com
toda a garra.
O homem saltou do palco e regressou
ao seu lugar, cumprimentando pelo caminho os jovens Treinadores que o tinham
enfrentado ao longo da temporada.
- Mas não ficamos por aqui. O
público também teve a missão de decidir qual o confronto de ginásio mais
memorável desta temporada. Entre Hop VS Milo, Victor VS Milo, Gloria e Hop VS
Nessa e Victor, Gloria e Hop VS Kabu, a disputa foi bastante renhida, assim
como estes combates! – os protagonistas e os Líderes de Ginásio
entreolhavam-se ansiosos, relembrando os momentos dramáticos passados. – O Galardão
do melhor confronto de Ginásio vai para… Gloria e Hop VS
Nessa!
A modelo e os dois companheiros de
jornada levantaram-se das suas cadeiras, subindo ao palco e abraçando-se em
conjunto. Os seus rostos transmitiam felicidade e orgulho.
- Apesar de ter perdido, é bom saber
que esta foi a batalha mais memorável da temporada. – brincou Nessa. – Graças a
todo o esforço destes dois jovens, mas também aos nossos Pokémon, responsáveis
por darem vida a uma disputa tão acesa, que tão cedo ninguém irá esquecer.
- Foi a primeira Badge que consegui
vencer, portanto isto tem um grande significado para mim e para a minha equipa!
– agradeceu Gloria.
- O meu Pokémon Inicial evoluiu
durante este confronto. – Hop sorriu, apontando para Thwackey, que acenava com
o seu tronco de madeira. – Obrigado pelo reconhecimento!
Os três premiados desceram do palco,
voltando a ocupar os seus lugares na audiência.
- Estamos quase a chegar ao fim
desta premiação. Mas antes, vamos voltar a atenção para os Pokémon que também
fazem parte da narrativa, verdade? Sobble, Scorbunny, Grookey, Morpeko e
Impidimp disputaram o lugar de melhor Pokémon Inicial. No final, o vencedor do Galardão
de melhor Pokémon Inicial pertence ao Sobble de Victor!
O protagonista e o Water-Type
caminharam em conjunto para o palco, recebendo o aplauso de todas as
personagens ali presentes.
- Na verdade, agora é Drizzile,
Angie… - brincou Victor. – Mas, tudo bem. A relação que eu e o Sobble criámos
foi, desde início, muito forte. E penso que isso se traduziu no poder que agora
está reunido no corpo de Drizzile. Certo, amigo? – o Pokémon deixou soltar
exclamações de felicidade, evolvendo o corpo do jovem à volta dos seus membros.
– Obrigado!
- A relação entre estes os dois é
inegável.
- Eu tenho a certeza de que o público
também te adora, Scorbunny. – murmurou Gloria, acariciando o pequeno coelho de
fogo que limpava as lágrimas com a sua pata.
- Finalmente, chegámos à última
categoria. O Galardão de melhor Capítulo era de resposta aberta, dando a
total liberdade para qualquer pessoa escolher o seu momento favorito da Temporada
1. Contudo, a resposta do público foi quase unânime. O Capítulo 25 vence
esta categoria!
O trio protagonista cruzou olhares
antes de se voltar a levantar. Sonia ergueu-se da cadeira, caminhando na
direção do palco, sendo seguida por Leon de cabeça baixa.
- Bem… parece que vocês gostam mesmo
de um bom drama, não é? – a jovem pesquisadora questionou num ar irónico.
- Ou de um bom mistério. – Gloria
encolheu os ombros.
- De uma disputa acesa entre irmãos.
– interveio Victor.
- Ou então adoram ver-me sofrer
psicologicamente. – lamentou-se Hop.
- Oh, vá lá… vocês vão mesmo ficar
chateados comigo para sempre? Eu já vos disse que não o fiz por mal…
- Mas porque é que estão chateados
com o Leon? – a voz de Rose fez-se ouvir do meio do público.
- O seu querido Campeão guarda um
segredo obscuro... – afirmou Sonia.
- Chega! – todos se calaram de
súbito, respeitando as ordens da voz que se fazia ecoar pelo local. – Não
vão arruinar a primeira cerimónia dos Galardões. Nem pensem. E a verdade é que,
aqui, sou eu quem manda. Vocês dizem e fazem aquilo que eu imaginar. Portanto,
acabou-se.
As luzes do auditório apagaram-se e
os corpos das personagens desaparecem todas em simultâneo. Agora ouvia-se
apenas o som do teclado que redigia palavras.
Angie observava a tela do computador
à frente dos seus olhos. Depois de guardar o documento do Microsoft Word, encerrou
a aplicação e abriu uma pasta chamada “Capítulos”. Os seus olhos desceram pela
tela, até encontrarem as palavras “Temporada 2”. Em silêncio, o jovem escritor
esfregou os olhos e passou os seus dedos pelo cabelo despenteado, permanecendo
com um ar pensativo. Estava na hora de começar a trabalhar no futuro.
Galardões
Galardões - Temporada 1: Categorias e nomeações
Eram várias as pastas que por ali existiam – todas com nomes, tamanhos e formatos distintos – não fosse Angie uma pessoa de variadíssimas curiosidades. O jovem selecionou a pasta “Aventuras em Galar” e, de imediato, uma onda de pastas surgiu. O seu olhar passou por todas elas, parando numa em particular. Havia algo de diferente nela. A sua data era a mais recente.
“Galardões” – era assim que se chamava a pasta selecionada. Existia apenas um ficheiro em formato Microsoft Word com o título “ideias???”. Era uma simples página em branco, com pequenas frases soltas espalhadas sem grande sentido. O jovem observou o ecrã do portátil em silêncio. Parecia debater-se consigo mesmo.
- Devo fazer isto?
- Achas que alguém vai querer saber? – ecoou uma voz na sua subconsciência.
- Eu não sei… mas gostava de o fazer. Era uma maneira engraçada de celebrar a conclusão da primeira temporada de Aventuras em Galar. Certo?
- Deixa-te disso e começa a escrever novos capítulos!
O rapaz esfregou os olhos e abanou a cabeça em protesto.
- Vou fazê-lo.
- Mas o Canas já fez isso em Aventuras em Sinnoh. The Omascar! Essas sim eram celebrações a sério… sabes, ainda durante a era dos blogs.
- Cópia falsa, é o que é…
- E que categorias vão ser? Aposto que ainda nem sabes…
- É claro que sei! Primeiro, devemos começar com “Melhor personagem principal”. Aqui a disputa será entre o trio protagonista, é claro.
- E que mais?
- É verdade, ao longo da primeira temporada houve disputas interessantes…
- Por isso mesmo, também pensei nas categorias “Melhor Líder de Ginásio” e “Melhor confronto de Ginásio”. Sendo que cada um se destacou de maneira diferente, penso que é interessante avaliar essa distinção.
- Na verdade, eu só queria que o Milo e a Nessa surgissem mais vezes juntos…
Angie passou as mãos pelo cabelo, tentando concentrar-se novamente.
- “Melhor personagem revelação” foi uma categoria sugerida pelo próprio Canas.
- Mas que raio é isso?
- Está bem, está…
- E claro, “Melhor Pokémon Inicial” não podia faltar.
- Isso é óbvio. É…
- Isso é tudo muito bonito… mas qual vai ser a duração das votações?
- Esse tempo todo é só porque não queres passá-lo a escrever novos capítulos, não é? Que grande Snorlax…
3 anos de Aventuras em Galar
Todos os direitos reservados ao autor. Fonte: Pinterest |
2019 foi o
ano em que teve início esta jornada. E que bonita que ela está a ser. Juntos,
continuamos a viajar pelas localidades de Galar, conhecemos pessoas,
enfrentamos desafios, fazemos amizades e crescemos em conjunto. É tudo isto que
Aventuras em Galar significa para mim.
É com
muito orgulho que todos os anos dedico algum do meu tempo a escrever e a
alimentar o meu mundo imaginário. Da mesma forma, também adoro sentar-me descontraidamente
na minha secretária para escrever, anualmente, mais uma passagem neste caderno
digital. A verdade é que aqui tudo fica registado para mais tarde recordar. E
desde que Aventuras em Galar se estreou, o mundo não parou de girar.
Já atravessámos
uma pandemia mundial (que continua presente, apesar de muitos pensarem que não);
a crise climática continua a revelar o lado mais negro e egoísta do ser humano;
e, mais recentemente, a eclosão de uma guerra europeia que ameaça a segurança
de famílias infinitas. Às vezes, no meio de todo este caos, é inevitável não
nos sentirmos pequenos, inúteis, insignificantes. No entanto, aqui sei que
posso ser eu. E que posso ser feliz na minha imaginação. E por mais que isso
não seja realidade, de uma certa maneira, transmite-me calma e serenidade. Este
é o meu refúgio.
A verdade
é que os últimos meses não têm sido muito produtivos no que toca à escrita. A
minha cabeça tem andado demasiado ocupada com projetos no mundo real,
nomeadamente o meu mestrado. Estou a descobrir novas características sobre mim
mesmo que eu próprio desconhecia. Pela primeira, estou a morar fora da casa dos
meus pais, o que é sinónimo de independência, mas, ao mesmo tempo, de muita
disciplina e organização. Fazer as minhas refeições, tratar da casa, ir às
aulas, estudar, trabalhar e ter uma vida social. Tudo isto ao mesmo tempo. Às vezes
é esgotante e a única vontade que tenho é não sair da cama. Mas sei que lá fora
tenho todo um mundo à espera de ser descoberto. É isso mesmo, eu sou o
protagonista da minha própria história.
Apesar da
continuação da história de Aventuras em Galar se encontrar em stand-by,
estou a preparar uma celebração especial para os próximos meses. O primeiro
semestre de 2022 irá trazer algumas surpresas para Aventuras em Galar! E
talvez, na segunda metade do ano, voltemos à estrada com os nossos
protagonistas. Quem sabe?
Resta-me
agradecer a toda a equipa da Aliança Aventuras, que me tem acompanhado nesta
viagem inesquecível. E, está claro, aos leitores que por aqui permanecem. Sem
vocês, nada disto seria possível, nem sequer faria sentido!
Feliz Aniversário, Aventuras em
Galar!
Filme: Moonlight
O tom altera-se quando a câmera acompanha uma criança que corre enquanto foge de um grupo de rapazes. A agitação e o desfoque da imagem refletem o medo e a insegurança que o menino sente até se refugiar no interior de uma casa abandonada. É neste momento que, lá fora, os bullies se fazem ouvir, “enchendo” a cabeça do rapaz de sons agudos e desconhecidos, transmitindo uma sensação de perigo para o público. É neste momento que Juan entra em cena. De início, a criança afasta-se do desconhecido, relutante e desconfiada, no entanto, o homem convence o menino a acompanhá-lo até um café, onde come uma refeição. A criança mantém uma postura defensiva durante toda a cena, aparecendo de cabeça baixa e em silêncio enquanto Juan tenta apurar informações sobre a sua identidade. Ao longo da cena, o enquadramento vai-se fechando cada vez mais, à medida que se aproxima das duas personagens, sendo que o plano individual de cada uma delas se vai alterando em cortes sucessivos, representando a falta de interação e intimidade entre os dois.
É em casa de Juan que a personagem Teresa (Janelle Monáe) é apresentada, como uma jovem mulher simpática, responsável e amável. É na sua presença que a criança revela a sua identidade. O seu nome é Chiron (Alex Hibbert), no entanto, os rapazes da sua escola tratam-no como Little – nome que intitula a primeira parte do filme –, de forma depreciativa. É nesta cena que, pela primeira vez, o espectador ouve a voz de Chiron e conhece o seu nome – o facto de o público receber estas informações ao mesmo tempo que as outras personagens em cena, faz a audiência sentir-se dentro do próprio filme, criando uma sensação de imersão na história. É também neste momento que a câmera se começa a movimentar de forma mais fluída e contínua entre as várias personagens sentadas à volta da mesa, transmitindo a ideia de aproximação.
Quando Juan leva Chiron até casa, o público conhece Paula (Naomie Harris), mãe do menino. Pelo seu discurso e postura, aquela não é a primeira vez que o rapaz desaparece ou passa a noite fora, revelando uma relação disfuncional entre os dois familiares. A mulher rejeita a ajuda de Juan e pede-lhe para se afastar do seu filho, revelando a grande necessidade de controlo sobre o pequeno Chiron, sem, no entanto, ter capacidades para tal. Este é o grande dilema de Paula ao longo do filme: a personagem navega entre ser uma boa mãe para o seu filho, enquanto lida com a dependência de drogas.
Kevin (Jaden Piner) é o único amigo de Chiron. Numa cena onde o grupo de rapazes é apresentado, Chiron é avistado à parte, num plano isolado. No entanto, mais tarde, Kevin aproxima-se do menino, aconselhando-o a não se deixar intimidar pelos outros. Esta é a primeira interação de uma relação íntima entre as duas personagens.
Segue-se uma das cenas mais simbólicas de todo o filme. Na praia, Juan ensina Chiron a nadar no mar. “Hey, I got you lil' man, I got you”, garante o homem mais velho enquanto enumera os passos à criança. No entanto, neste momento, Juan não está a ensinar Chiron apenas a nadar. Juan também o conforta, garantindo-lhe que estará ao seu lado para o resto da vida, auxiliando-o em tudo aquilo que for necessário. Nesta cena, a câmera está colocada à altura da água, fazendo com que o público se sinta presente no local, ao mesmo tempo que a banda sonora de Nicholas Britell se intensifica, exponenciando o valor simbólico de toda a sequência. O momento demonstra também a complexidade da personagem de Juan: para além de ser o líder destemido de uma rede de tráfico de droga, consegue também ser uma figura paternal com uma certa vulnerabilidade. A cena continua fora de água, onde Juan conta, com o som de fundo da maré e da brisa do mar: “This one time... I ran by this old, old lady (…) In moonlight’ she say, ‘black boys look blue. You blue,’ she say.” É este o diálogo que dá título ao filme e serve de mote para toda a história. Na realidade, a luz do luar e a cor azul significam ser verdadeiro, sincero e genuíno. Este é o grande desejo e debate interno de Chiron, assim como das outras personagens durante toda a longa-metragem.
Desamparado, Chiron refugia-se onde se sente realmente confortável: na praia. É à noite, debaixo do luar e junto ao mar, enquanto ouve a maré e a brisa do oceano, que o jovem reencontra o seu amigo Kevin (Jharrel Jerome). Os dois conversam sobre a brisa: “Sometimes round the way, where we live, you can catch this same breeze. It come through the hood and it’s like everything stop for a second ‘cause everybody just wanna feel it. Everything just get quiet, you know?”, afirma Kevin, seguido por Chiron: “And its like all you can hear is your own heartbeat, right?”. Os dois rapazes partilham as suas inseguranças porque, no fundo, sentem-se confortáveis um com o outro. Chiron chega mesmo a dizer: “I cry so much sometimes I think one day I’m gone just turn into drops.”, revelando a sua vulnerabilidade para Kevin. É neste seguimento que os dois partilham um momento mais íntimo e a personagem principal tem a sua primeira experiência sexual. É de notar que toda a transparência e genuinidade demonstrada ao longo desta sequência ocorre sobre a luz do luar, a luz azul, que remete para o mote inicial de todo o filme – ser genuíno e estar em sintonia com a nossa realidade.
O último arco da história tem o nome de “Black”. É assim que, enquanto adulto, Chiron (Trevante Rhodes) é conhecido nas ruas. Fisicamente mais forte e bastante semelhante a Juan, Chiron lidera uma rede de tráfico de droga, exercita o seu corpo para reprimir as suas emoções, vive sozinho e mantem uma relação afastada com a sua mãe abusiva. Ao longo dos diálogos, é revelado que, durante o time jump entre a segunda e a terceira parte do filme, Chiron foi preso por agredir o seu próprio agressor. Depois de cumprir a sua pena, o caminho trilhou-se de forma automática para as ruas da cidade. Parece que, no fundo, a pequena criança tornou-se naquilo que mais temia, reprimindo, ao mesmo tempo, a sua verdadeira essência, a mesma que a sociedade teima em não aceitar. No entanto, tudo parece mudar numa noite em que Chiron recebe a chamada de um velho conhecido. Do outro lado da linha, a voz de Kevin faz-se ouvir ao mesmo tempo que a expressão facial e a postura corporal de Chiron se transformam, passando de um tom mais ereto e rijo para uma forma mais emocional e vulnerável, à medida que o plano se vai fechando no rosto do ator, transmitindo todas as sensações para a audiência.
A última vez que Paula surge na película revela uma faceta completamente diferente daquela explorada até então. Agora a viver num centro de reabilitação, a mãe de Chiron mostra-se arrependida e magoada com o passado e com todo o sofrimento que causou ao próprio filho: “I messed up baby. I fucked it all up, I know that. But yo’ heart ain’t gotta be black like mine, you hear me? I love you baby. I do, I love you Chiron. You ain’t gotta love me, lord knows I didn’t have love for you when you needed it, I know that. So you ain’t gotta love me but you gon’ know that I love you, you hear?” Esta é uma das cenas mais marcantes da longa-metragem, graças à performance apresentada pelos dois atores, responsáveis por transmitirem todas as emoções necessárias para o público que, sem se aperceber, sente que está, de facto, presente no mesmo local que as personagens. Os ângulos por cima dos ombros e os planos fechados, próximos dos rostos das personagens, também ajudam a criar o efeito de proximidade e contacto com a audiência.Esta é também a tentativa de Paula se redimir ao próprio filho, maltratado e abandonando durante grande parte do seu crescimento. No entanto, a mulher acredita que Chiron possa ser melhor que ela, melhor do que aquilo em que ele se transformou enquanto “Black”.
“Moonlight” é uma obra de arte altamente simbólica, subjetiva e introspetiva. A densa narrativa completa-se com os diálogos ricos e profundos entre personagens que apresentam várias camadas e, apesar de serem fictícias, graças ao alto desempenho de todo o elenco, se tornam reais e genuínas, engolindo o público para o interior da narrativa. Esta não é uma história sobre a dependência de drogas, a homossexualidade, a pobreza, o bullying ou os maus-tratos familiares. É uma história sobre o próprio crescimento individual e como as várias fases da vida se sucedem e influenciam umas às outras, quer por motivos externos ou por razões internas.
Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐
Notas do Autor - Capítulo 25
Erros do passado
Fim da primeira temporada
Chegámos ao último capítulo da
primeira temporada de Aventuras em Galar! Meu Arceus, nem parece verdade! E
pensar que o prólogo foi publicado em janeiro de 2020. E agora, quase dois anos
depois, estamos a encerrar a primeira temporada desta grande aventura. E isto é
apenas o começo! Há muito mais para vir! Eu adorei todo o percurso até então e
não podia deixar de estar mais orgulhoso de todo o trabalho realizado. Acredito
que cresci muito ao longo deste processo, com a ajuda de todos os membros da
equipa da Aliança Aventuras e os feedbacks dos queridos leitores. Muito
obrigado!
Toxel
Pensavam
que eu me tinha esquecido do ovo de Victor? Confesso que, enquanto escrevia
alguns capítulos, me esquecia de o mencionar. Oops! No entanto, lá voltei atrás
e resolvi esse problema. No entanto, não tinha encontrado qualquer oportunidade
mais cedo para o fazer eclodir. Então, acabou por ser neste momento. E acho que
acabou por funcionar de forma positiva, fazendo a ligação com a chegada de
Sonia até ao grupo.
O que
acharam desse pequeno Toxel? Sei que ainda é muito cedo, mas já alguém tem
palpites sobre a sua natureza, que terá impacto na forma da sua evolução?
Jantar de despedida
Desde que
iniciei a temporada sabia que era assim que queria que ela terminasse. Um
pequeno jantar de despedida, disfarçado de celebração, é claro. Os três pratos
mencionados foram adaptados da gastronomia tradicional inglesa (obrigado
Google), misturando com alguns Pokémon que acho icónicos. Claramente, a Sonia
teria de ser a vegetariana do grupo.
Entre
conversas paralelas, rapidamente o momento é conduzido para a intriga entre
Leon e Sonia, que está presente desde o início da história. No entanto, apenas
agora conseguimos perceber a razão por de trás de tudo o que aconteceu.
Flashbacks
Aí está. É
através de vários flashbacks do início da jornada de Leon e Sonia que
percebemos tudo aquilo que aconteceu. Leon queria apresentar Sonia a Wild, no
entanto, quando chegaram ao local, os episódios do último capítulo de Wild já
se tinham sucedido e, como tal, a criança já estava morta.
Ao
encontrarem o corpo sem vida, no entanto, as reações dos dois jovens são
distintas. Leon, escolhe fugir, com medo de que aquela situação prejudique a
sua carreira, enquanto Sonia decide afastar-se das luzes da ribalta, ajudando a
pobre criança morta. É isto o centro da questão: a vida ou a morte, ajudar ou
ignorar quem precisa de ajuda, ser verdadeiro ou falso.
Acredito
que este seja um capítulo marcante para a história de Aventuras em Galar e para
o desenvolvimento de cada uma destas personagens. Até mesmo para os leitores,
que agora têm outra perspetiva sobre o que aconteceu entre Leon, Sonia e Wild.
Espero que
tenham curtido de todo esse drama. Para mim foi super interessante “montar”
esse capítulo, viajando entre presente e passado e apresentado as várias
perspetivas e sentimentos das personagens.
É tudo!
Até à próxima temporada!