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Notas do Autor - Capítulo 22



CAPÍTULO 22

Estudar os adversários


Wimpod


            Pensavam que ele tinha ficado esquecido? Claro que não! O Wimpod voltou a dar as caras e, desta vez, Hop foi mais inteligente e conseguiu capturá-lo sem levantar grande confusão.

            Antes deste momento, testemunhámos ainda uma conversa entre os dois gémeos. Gloria quer certificar-se de           que Victor não se sente sozinho ou tem pensamentos sombrios que o possam prejudicar. É aqui que percebemos, mais uma vez, a forte ligação que os dois irmãos nutrem um pelo outro. Por ser mais tímido, o rapaz retrai os seus sentimentos com maior facilidade, mas isso não quer dizer que a rapariga não o perceba.

 

Bede VS Marnie


            É no Motostoke Outskirt que reencontramos as figuras de Bede e Marnie. Enquanto a jovem treinadora tenta capturar um Pawniard selvagem, o rapaz aparece e, surpreendentemente, auxilia a rapariga.

            Depois de uma troca de palavras e provocações, os dois acabam por decidir combater um contra o outro. Confesso que já queria trazer uma batalha entre estes dois há algum tempo, mas pareceu-me que esta seria a melhor altura na história para o fazer.

            Numa primeira ronda, onde Bede usa Cutiefly e Marnie Nuzleaf, os movimentos acontecem de forma rápida e, nesta fase inicial, os tipos dos dois Pokémon são fundamentais para o resultado final. Cutiefly vence a Nuzleaf, mas é derrotado logo depois de Morpeko entrar em campo com uma nova coloração.

            Esta questão em específico do Morpeko continuará a ser abordada e desenvolvida ao longo da história. Como repararam, apesar da sua habilidade ser Hunger Switch, o Pokémon manteve o mesmo aspeto durante toda a batalha. Não é um erro. Penso que é mais interessante mostrar a forma como esta habilidade pode ser desenvolvida e treinada entre Marnie e o próprio Morpeko, ao invés de mostrar logo como tudo funciona habitualmente.

            Voltando ao combate, a última ronda é feita entre Impidimp (do lado de Bede) e Morpeko (do lado de Marnie). Um clássico entre os dois Pokémon Iniciais de cada treinador. A conclusão é bastante esclarecedora: empate. Logo, os dois encontram-se ao mesmo nível, ou, pelo menos, os seus Pokémon. Penso que é uma altura muito precoce na história para dar vitória a qualquer um destes personagens, sendo que ambos partilham o mesmo nível de importância na trama. Então, vamos com calma!

 

Victor VS Bede


            Novamente, tenho de admitir que já queria há muito ter trazido um confronto entre estes os dois! A história de ambos vai evoluir para lá do que qualquer um imagina (penso eu) e, como tal, é importante que os dois partilhem mais cenas em conjunto.

            De um para um, Victor usa Corvisquire (que já não dava as caras desde o Capítulo 15!) e Bede escolhe Ralts. Após vários ataques sucessivos, a Fairy-Type evolui para Kirlia e ganha um poder completamente novo, desenvolvendo a sua habilidade especial, que lhe permite antever os ataques usados pelos seus adversários. É esse poder que lhe dá a vitória, permitindo a Bede sair por cima.

            Aqui, parece claro que Bede tem mais experiência do que Victor – se olharmos apenas o número de Badges que cada um tem, isso parece ainda mais óbvio.

            No entanto, após um confronto aceso, os cinco jovens baixam as suas defesas e voltam a ser adolescentes normais. O capítulo termina com o grupo a unir-se em torno de histórias e recordações que os unem: a jornada Pokémon.



Capítulo 22


            Galar Mine Number 2 acordava em silêncio. Os primeiros mineiros começavam a entrar na enorme gruta, dando início às explorações de um novo dia. Ao mesmo tempo, os Pokémon que por ali habitavam saíam à superfície, assistindo, com curiosidade, os movimentos dos humanos.

 

            Numa zona mais afastada e pacata da caverna, uma modesta tenda marcava presença. No seu interior, permaneciam os três jovens viajantes. Victor começou a despertar aos poucos, movimentando-se no interior do seu saco-de-cama. Ao virar-se, já de olhos bem abertos, encontrou o rosto de Gloria, a sua irmã, já desperta.

 

            - Bom dia. – murmurou, numa voz sonolenta.

 

            - Já estás acordada? Nem parece teu.

 

            - Não tenho culpa. – bufou. - O chão de uma caverna não é o colchão mais confortável para uma rapariga dormir.

 

            - Acho que tens razão. – concordou, deixando escapar um pequeno riso.

 

            - Dormiste bem?

 

            - Dentro do possível. – disse vagamente, ignorando todos os pensamentos que ocupavam a sua mente.

 

            - Eu sei que tu sentes que a Team Yell te estragou as possibilidades contra a Nessa. Mas não deixes que essa amargura tome conta de ti. – Gloria falou, de forma direta, surpreendendo o rapaz.

 

            - Não sei do que falas. – mentiu.

 

            - Claro que sabes. Esqueces-te que somos irmãos gémeos? Eu conheço-te bem.

 

            - Porque dizes isso?

 

            - Eu vi a forma como estavas naquela tarde, depois do desafio. Os teus olhos estavam… tristes, perdidos. Na altura, pensei que fosse apenas por causa do que acontecera, mas ontem percebi. Quando a Team Yell apareceu e ameaçou levar o teu ovo e o Timburr… o teu rosto mudou. Os teus olhos não ficaram perdidos, mas sim focados em dominá-los, derrotá-los. – a rapariga explicava, gesticulando com as mãos. – Não digas que não é verdade.

 

            Victor mordeu os lábios, tentando encontrar alguma resposta para contra-argumentar a irmã. Mas nada saiu da sua boca. Sentia que, naquele momento, a sua gémea o conhecia melhor do que ele mesmo.

 

            - Ta-talvez tenhas razão. – sussurrou entre um suspiro. – Mas eles precisam de ser travados! O mal que eles já fizeram… já me prejudicaram a mim, ontem magoaram o Hop… eu não quero que aconteça o mesmo contigo, Gloria. Ou com outro inocente qualquer. – explicou. – Quando o Kabu apareceu, ontem, uma pequena esperança surgiu de novo. Mas aqueles patifes conseguem escapar sempre, dê por onde der.

 

            - Sendo assim, precisamos de melhorar para a próxima vez que os confrontarmos. – incentivou a treinadora. – Com certeza, isso não será um problema. A tua equipa está a ficar cada vez mais forte. Ainda ontem o Timburr e o Roggenrola colocaram as suas diferenças de lado, uniram forças e lutaram com o mesmo objetivo.

 

            - Concordo com essa ideia. – a voz do terceiro elemento do grupo fez-se ouvir pela primeira vez naquela manhã. Hop apareceu do outro lado da tenda, já com a sua roupa de viagem vestida. – Do que estão à espera? Levantem-se! Temos mais um dia pela frente.

 

            Os dois gémeos assentiram e a conversa entre os dois ficou por ali. Apesar de uma troca de ideias tão profunda ou reflexiva não ser regular entre os irmãos, ambos sentiam-se mais aliviados por saberem que podiam contar com a ajuda do outro. Se, por um lado, Victor agradecia a atenção e vigilância da sua irmã face aos seus próprios comportamentos, Gloria sentia-se mais tranquila em poder ajudar o irmão dali em diante.

 

            Enquanto os gémeos arrumavam o interior da tenda, Hop abriu a entrada da mesma, colocando a cabeça de fora e sentido o ar fresco da caverna. Os seus olhos, no entanto, voltaram-se de imediato para uma pequena criatura que permanecia silenciosa e imóvel no local. O moreno abriu bem os olhos, surpreendido com a sua descoberta. De seguida, recolheu a sua cabeça para o interior da tenda, em silêncio, e voltou-se para os dois amigos.

 

            - Ele está ali fora! – exclamou, num sussurro.

 

            - Quem? – Gloria perguntou confusa.

 

            - Aquele Pokémon de ontem… o-o…

 

            - Wimpod? – falou Victor.

 

            - Isso!

 

            - Tens a certeza que é ele? – insistiu a jovem.

 

            - Tem o mesmo ar de fugitivo e assustado… - murmurou.

 

            - Vai capturá-lo, então! – exclamou ela.

 

            - Calma. – murmurou o gémeo. – Se é o mesmo Wimpod de ontem, então já sabes que ele vai tentar escapar quando te aproximares. Terás de o abordar de uma forma diferente da habitual.

 

            - Como assim? – o moreno parecia confuso.

 

            - Apanha-o de surpresa. Tenta capturá-lo sem o desafiares.

 

            - Isso é possível, sequer? – contrapôs a gémea.

 

            - Se não o vou enfraquecer, talvez deva usar uma Poké Ball diferente… – sugeriu Hop.

 

            - Sim! Compraste alguma em Hulbury? – questionou Victor.

 

            O moreno pegou na sua mochila e remexeu o seu interior, retirando uma esfera de cor azul, com pequenos apontamentos vermelhos.

 

            - Esta Great Ball. – murmurou. – Será que serve?

 

            - Só há uma maneira de descobrir. – falou Gloria.

 

            Hop assentiu e voltou costas aos dois amigos. Aproximou-se da entrada da tenda e colocou, novamente, a cabeça de fora. Wimpod encontrava-se no mesmo sítio. Permanecia sem se mexer ou deixar escapar qualquer grunhido. Parecia adormecido. O moreno respirou fundo e, depois de fazer pontaria, lançou a Great Ball na direção da criatura selvagem, que se surpreendeu ao sentir a esfera bater contra o seu corpo. Mas já era demasiado tarde para tentar escapar. A cápsula abriu-se e sugou a figura de Wimpod, agora em forma de luz encarnada, para o seu interior, encerrando-se por fim. Vibrou, vibrou e voltou a vibrar. Mas, finalmente, parou. A captura fora concluída com sucesso.

 

            - Conseguiste! – exclamou Victor, colocando a cabeça de fora da tenda.

 

            - Tens mais sorte do que juízo! – brincou a jovem, observando a esfera azul no chão.

 

            O rapaz, por sua vez, não respondeu. O seu rosto formava um enorme sorriso, que tão cedo não se iria desvanecer. Sentia o orgulho e a felicidade tomarem conta do seu corpo. Aos poucos, a sua confiança voltava.

 

• • •

 

            Motostoke Outskirts era uma pequena zona localizada nos subúrbios da grande cidade. A meio da manhã, o local era invadido por Pokémon que por ali habitavam e treinadores aleatórios que treinavam as suas equipas em crescimento.

 

            Naquele momento, Bede caminhava pelo local, observando em volta atentamente. Apesar do olhar curioso, mantinha uma postura aparentemente tranquila, aquecendo as suas mãos no interior dos bolsos do casaco roxo.

 

            Após algum tempo de passeio, o rapaz abrandou o seu passo, parando junto de um grupo de árvores. Agora, os seus olhos pousavam sobre uma jovem treinadora que, alguns metros à sua frente, enfrentava um Pokémon selvagem. O rapaz de cabelos platinados permaneceu ali, em silêncio, observando a disputa com a máxima atenção.

 

            - Vamos a isto, Nickit!

 

            A voz de Marnie fez-se ouvir. Acompanhada pela pequena raposa, as duas observavam a criatura que se encontrava à sua frente. Era um Pokémon bípede, semelhante a um pequeno besouro. A cabeça era redonda, vermelha e preta, com uma lâmina prateada na parte da frente. O seu corpo era cinzento, à exceção dos membros vermelhos. Na ponta de cada braço, erguiam-se duas lâminas bem afiadas. Naquele momento, os seus olhos amarelos observavam as figuras das duas oponentes. A jovem respirou fundo e usou o seu Rotom Phone para procurar mais informações sobre a criatura desconhecida.

 


            - Pawniard, um Pokémon Dark-Type e Steel-Type. – falou o robô. – Afia as suas lâminas em rochas duras, fortalecendo-as para enfrentar os seus adversários com toda a força.

 

            O Pokémon saltou na direção de Nickit, surpreendendo com um forte Metal Claw. A pequena raposa rebolou no chão por alguns metros, mas logo se levantou, seguindo as indicações da sua treinadora.

 

            - Quick Attack.

 

            Aproveitando a proximidade do adversário, Nickit atingiu-o com uma placagem, fazendo com que também ele caísse ao chão. Mas o efeito da técnica não perdurou por muito tempo. Pawniard levantou-se e, erguendo as suas lâminas, preparou-se o seu melhor Fury Cutter. Graças às rápidas declarações de Marnie, a pequena raposa conseguiu escapar ilesa, contra-atacando com Assurance. Pawniard voltou a cair ao chão com a técnica usada e Marnie aproveitou o momento para arremessar uma Poké Ball na sua direção. No entanto, após a primeira vibração, a esfera bicolor voltou-se a abrir, revelando a figura do Pokémon selvagem que, aparentemente, continuava com toda a força para combater.

 

            - Não o vais conseguir capturar com essas técnicas a meio gás. – Marnie surpreendeu-se com a voz do rapaz que aparecia por trás de uma árvore ali perto.

 

            - Bede? – murmurou confusa. – O que estás aí a fazer?

 

            - A observar-te. – respondeu prontamente. – É melhor agires agora, antes que esse Pawniard consiga escapar definitivamente.

 

            Marnie assentiu e voltou a concentrar-se na batalha à sua frente. Naquele momento, a criatura selvagem voltava a atacar, desta vez com Scratch. Os ferimentos em Nickit, por sua vez, não eram de grande intensidade.

 

            - Snarl.

 

            A pequena raposa abriu a boca, lançando vários anéis roxos na direção do adversário, que se deixou atingir pela técnica. Apesar de sentir o seu corpo enfraquecer lentamente, a forte personalidade de Pawniard não o deixava desistir facilmente. O Pokémon ergueu novamente as suas garras, preparando a técnica Fury Cutter.

 

            - É o tudo ou nada. – murmurou Bede.

 

            - Nickit, contra-ataca com Assurance!

 

            A raposa saltou no ar, indo de encontro ao corpo do adversário. Os dois Pokémon atingiram-se mutuamente, aterrando no chão em simultâneo. Ambos se mantinham de pé, com respirações ofegantes e olhares cerrados. Nenhum dos dois queria mostrar parte fraca.

 

            Marnie cerrou o punho e, visivelmente impaciente, lançou outra Poké Ball contra o corpo de Pawniard. Desta vez, a Poké Ball fez duas vibrações antes de anunciar a conclusão da captura. A pequena raposa deixou escapar um alto suspiro antes de cair no chão, exausta. Agora que o trabalho estava concluído, era a sua vez de descansar do treino intenso. A treinadora resgatou Nickit para o interior da sua cápsula e apanhou a outra do chão, guardando a sua nova aquisição no interior da mala que usava ao ombro.

 

            - Esse Pawniard vai ser um bom acréscimo à tua equipa. – afirmou Bede, enquanto a rapariga se voltava para ele.

 

            - Espero que sim. Estou a apostar numa equipa diversificada, mas forte. Até agora, já capturei cinco Pokémon. – afirmou.

 

            - Por muito entusiasmante que isso possa soar, espero que saibas que quantidade não é sinónimo de qualidade. – ripostou o rapaz.

 

            - Estou a fazer o meu melhor para treinar cada membro da minha equipa.

 

            - Esse Nickit parece precisar de um pouco mais de atenção. – apontou.

 

            - És sempre assim tão frontal e desagradável, Bede? – questionou a jovem, inclinando a cabeça enquanto observava o rosto do rapaz à sua frente. – Quando nos conhecemos, a minha primeira impressão tua não foi a melhor. E tenho de admitir que as coisas continuam iguais.

 

            - Lamento não te agradar. Mas não fui feito para essas coisas. Estou a dar apenas a minha opinião, com base naquilo que sei. – explicou.

 

            - Curioso. Não me lembro de ter pedido a tua opinião. – contrapôs Marnie, adotando uma postura mais defensiva.

 

            - Achas que o teu irmão está orgulhoso do teu percurso até agora? – perguntou o platinado, ignorando a afirmação da treinadora.

 

            - O quê? – murmurou, deixando escapar um pequeno riso.

 

            - Sim. És irmã do Piers, não é? O grande especialista dos Pokémon Dark-Type. E, sendo tu uma treinadora com o mesmo objetivo, qual é a opinião dele?

 

            - O que é que isso te interessa? – rematou. – Ele é meu irmão e dá-me todo o apoio do mundo, como é claro. Somos uma família unida.

 

            - E por ser teu irmão ele não te diz a sua opinião sincera?

 

            - Quem disse o contrário?

 

            - Parece-me que, por vezes, as pessoas que achamos que se preocupam mais connosco são aquelas que nos protegem mais da realidade.

 

            - O que queres dizer com isso?

 

            - Talvez o teu irmão não esteja assim tão orgulhoso de ti. Talvez ele só diga que te apoia de forma incondicional porque não te quer magoar.

 

            - Francamente, Bede! – exclamou a jovem, com uma expressão chocada no rosto. – Tu não tens qualquer sentido de empatia pelos outros?

 

            O rapaz ficou em silêncio, voltando o seu olhar para a local onde se encontravam, sem prestar atenção a grandes detalhes.

 

            - Eu só queria perceber se estás à minha altura. Quero desafiar-te para um combate. – confessou.

 

            - Tenho a certeza de que há maneiras mais fáceis de fazeres essa abordagem. O que é que o meu irmão tem a ver com isto?

 

            - É um Líder de Ginásio. – murmurou. – Certamente, deves ter aprendido alguma coisa com ele. E eu estou à procura de um bom adversário.

 

            - Para tua sorte, aceito o desafio. – afirmou. – Mas, desde já, tenho a certeza de que não terás outra adversária tão forte e interessante como eu.

 

            - Isso é o que vamos descobrir.

 

            Bede correu para o outro lado do local, voltando-se de imediato na direção de Marnie. Os dois treinadores olharam-se enquanto a brisa no local parecia aumentar ligeiramente, acompanhando a subida da tensão entre ambos os jovens.

 

            - Dois Pokémon de ambos os lados. Vez à vez. Os primeiros a ficarem inconscientes perdem. – sugeriu a rapariga. – O que achas?

 

            - Perfeito.

 

            Os dois assentiram e pegaram numa das suas Poké Balls. Depois de uma última troca de olhares comprometedora, as esferas foram lançadas ao ar. Do lado de Marnie, o corpo de Nuzleaf marcava presença. Sob a cabeça de Bede, a figura de Cutiefly esvoaçava pelo ar.

 

            - Nuzleaf, começa com Razor Leaf!

 

            Quando o Grass-Type lançou a sua técnica na direção do pequeno inseto, Bede levantou o seu braço no ar, orientando os movimentos do Pokémon que se esquivava agilmente. Marnie surpreendeu-se com o feito, mas tentou não demonstrar a admiração que sentia naquele momento.

 

            - Fairy Wind.

 

            Cutiefly começou a rodopiar o seu corpo pelo local, fazendo surgir várias ondas de vento de uma coloração rosa brilhante. Marnie antecedeu-se e Nuzleaf contra-atacou com Air Cutter. Quando os dois ataques se atingiram na atmosfera, ambos foram cancelados, anulando o respetivo dano.

 

            - Fairy-Type. – murmurou a treinadora. – É essa a tua especialidade?

 

            - Talvez. – Bede respondeu, esboçando um sorriso sarcástico.

 

            - Desafiar um adversário com desvantagem no tipo parece fácil. – retorquiu.

 

            - Mostra-me que estás à nossa altura, Marnie! – Bede voltou a levantar o seu braço no ar. – Stun Spore.

 

            Vários poros de energia elétrica alcançaram o corpo de Nuzleaf, paralisando-o. A jovem cerrou o punho e respirou fundo, antes de comandar a utilização da técnica Rollout. Utilizando a sua força para combater a paralisia que ameaçava travar os seus músculos, o Grass-Type rolou o seu corpo pelo chão, impulsionando-se na direção de Cutiefly, que acabou por ser atingido e arremessado na direção do solo. O corpo de Bede tremeu com a caída do Bug-Type, mas o jovem acreditava no poder e determinação do seu Pokémon.

 

            - Agora sim. Vamos a isto. – Marnie murmurou, em tom de provocação.

 

            - Vamos ter de recuperar a energia perdida, Cutiefly.

 

            O pequeno inseto assentiu e, depois de se erguer do solo de terra, começou a voar na direção do seu adversário. Nuzleaf, por sua vez, tentou escapar-se, mas os músculos paralisados começavam a limitar os seus movimentos. Cutiefly aproximou-se do rosto do Grass-Type e, gentilmente, depositou um beijo na sua bochecha. De imediato, o seu corpo rodeou-se com um brilho encarnado e várias esferas energéticas foram transferidas da figura de Nuzleaf para Cutiefly. Enquanto o Bug-Type recuperava energia, o Grass-Type sentia os seus membros desfalecerem.

 

            - Nuzleaf! – exclamou Marnie, observando o seu Pokémon imóvel. – Faz alguma coisa!

 

            - É tarde demais. – anunciou o rapaz do outro lado do campo. – Foram apanhados pelo nosso poder.

 

            Bede abriu os dois braços no ar, sentindo a brisa contra o seu corpo. Quase em sintonia, Cutiefly começou, de novo, a rodopiar pelo ar do local, deixando atrás de si, um rasto de vento rosa e cintilante. Nuzleaf tentou mover o seu corpo, esquivar-se ou contra-atacar, mas a paralisia parecia aumentar a cada turno. O Dark-Type deixou-se atingir pela técnica do pequeno Fairy-Type e tombou para trás, perdendo a consciência.

 

            - Oh… não.

 

            A jovem treinadora correu em auxílio do seu Pokémon. O corpo adormecido no chão era lamentável. Pelo menos, agora, parecia já não estar em sofrimento. Marnie retrocedeu o corpo de Nuzleaf para o interior de uma Poké Ball e retirou outra da sua mala.

 

            - Deste alguma luta, mas não a suficiente para saíres vitoriosa. – provocou Bede.

 

            - O próximo e último Pokémon que vou usar é o meu companheiro desde o primeiro dia. – anunciou a jovem, ignorando as palavras do adversário. – Eu sei que ele não me vai desiludir. Vamos a isto, Morpeko!

 

            O pequeno rato saiu da Poké Ball. No entanto, Marnie surpreendeu-se com a aparência da sua própria criatura. Estava diferente do normal. O seu pelo era agora colorido em tons escuros de preto e roxo. Os olhos eram encarnados e curvados e a boca abria-se, revelando uma expressão de raiva e fúria. O Pokémon permaneceu imóvel sobre o solo, com uma respiração pesada, enquanto observava à sua volta com uma expressão desconfiada.

 


            - Morpeko, um Pokémon Electric-Type e Dark-Type. – anunciou o Pokédex da rapariga. – Em Full Belly Mode, Morpeko armazena alimentos nos seus bolsos para saciar a fome. Quando fica sem comida e a fome fala mais alto, altera a sua designação para Hangry Mode. Neste estado, as hormonas afetam o seu temperamento e torna-se uma criatura violenta. – Marnie clicava no aparelho, tentando obter mais informações sobre aquele fenómeno. – A habilidade de Morpeko é conhecida por Hunger Switch.

 

            - Nem sequer conheces o teu Pokémon Inicial? – murmurou o rapaz.

 

            - Esqueci-me de lhe dar mais comida desde a última vez… - sussurrou a treinadora, reticente com o que poderia acontecer. – Morpeko? Tenho aqui algumas Berries… queres?

 

            O Dark-Type virou-se para a treinadora com o seu olhar desconfiado. Em silêncio, a jovem lançou-lhe uma pequena baga, que ele comeu de imediato, sem, no entanto, provocar qualquer alteração no seu estado físico ou de espírito. Em vez disso, voltou-se para a frente, concentrando o seu olhar na figura de Cutiefly. Sem qualquer ordem de Marnie, Morpeko apanhou todos de surpresa e lançou um forte Thunder Shock contra o oponente. O Fairy-Type caiu no chão desmaiado.

 

            - O quê?! – exclamou Bede, tentando esconder o seu ar de surpresa.

 

            - A fúria de Morpeko torna as suas técnicas mais… fortes? – murmurou Marnie, observando a criatura com atenção. Por momentos, parecia que não estava a reconhecer o Pokémon oferecido por Piers. Era como se um novo poder dentro de si tivesse sido desbloqueado.

 

            Bede abanou a cabeça e recuperou o corpo de Cutiefly para o interior da sua Poké Ball. Logo a seguir, lançou outra ao ar, revelando o corpo de um Impidimp saltitante.

 

            - Este é o meu Pokémon Inicial. Oferecido pelo Presidente Rose. – anunciou.

 

            - Interessante. – comentou a rapariga. – Que comece o último confronto! Quick Attack.

 

            Numa rápida investida, o pequeno roedor partiu na direção do adversário, atingindo-o com uma placagem. O corpo de Impidimp abanou, mas o Pokémon segurou-se nas suas patas. Com apenas um aceno do seu treinador, contra-atacou, abrindo a sua boca e revelando as presas afiadas. Morpeko foi atingido pelo Bite, fazendo-o recuar em silêncio. A expressão no seu rosto manteve-se cruel e irritada, mas isso não era suficiente para intimidar o Pokémon de Bede.

 

            - Mostrem-nos o que valem! – provocou.

 

            - Flatter!

 

            Morpeko levantou os pequenos braços, concentrando a sua energia e atenção na figura de Impidimp, que foi rodeada por um brilho encarnado. O Pokémon de Bede sentiu o seu corpo contorcer-se enquanto a mente ficava cada vez mais confusa e perturbada. Quando tentou contra-atacar, seguindo os comandos do treinador, o seu corpo não se movimentou.

 

            - O que se está a passar? – murmurou o rapaz, confuso.

 

            - A técnica que usámos coloca o nosso adversário sobre um estado confuso. – explicou Marnie, um tanto surpresa. – Não sabias disso? – deixou escapar uma curta gargalhada.

 

            - Apanhaste-me um pouco desprevenido. – assumiu o jovem platinado.

 

            - Azar o teu! Continua com Power Trip.

 

            Sem qualquer forma de escapar ao ataque, o Fairy-Type deixou-se atingir por Morpeko. O seu corpo caiu para trás e, subitamente, o embate com o solo fez o corpo da criatura despertar. Agora, voltava a sentir os seus músculos funcionarem.

 

            - Hora de recuperar o tempo perdido! – anunciou Bede. – Fake Tears.

 

            Os olhos de Impidimp encheram-se de lágrimas e, de repente, a criatura começou a chorar. Os seus soluços chamaram à atenção do oponente que, despercebido, viu o seu nível de defesa diminuir. Marnie sentiu que o seu adversário preparava alguma técnica especial, mas não conseguia antever exatamente qual a sua estratégia.

 

            - Não vamos deixar que avancem. Thunder Shock.

 

            Pequenos raios elétricos começaram a surgir das bochechas de Morpeko em direção a Impidimp, mas o Fairy-Type seguiu o movimento dos braços do seu treinador, esquivando-se agilmente da técnica do adversário.

 

            - Assurance.

 

            Numa rápida investida, o Fairy-Type saltou no ar, lançando-se na direção do Dark-Type e atingindo-o com uma forte cabeçada, deitando-o ao chão. Marnie sentiu o seu corpo estremecer, surpreendida com tamanha rapidez do oponente. Depois de diminuir a sua defesa, os seus ataques pareciam surtir maior dano.

 

            Morpeko levantou-se do chão, sentindo o seu corpo ferido. Continuava com uma coloração mais negra do que o habitual, que agora correspondia ao seu estado de espírito durante a batalha. Sentia raiva e fúria perante o seu adversário, que parecia não dar a mínima chance para uma possível derrota. Impidimp, do outro lado, observava-o atentamente. O seu olhar transmitia confiança e rivalidade. Para ele, vencer aquela disputa e deixar o seu treinador orgulhoso era o mais importante.

 

            - Foste um ótimo rival, Bede. Mas nós estamos prontos para terminar esta disputa! – exclamou. – Power Trip!

 

            - Vamos ver quem é o verdadeiro vencedor. - murmurou o jovem. - Bite.

 

            As duas criaturas começaram a correr na direção uma da outra. Enquanto Morpeko preparava uma forte placagem com todo o seu corpo, as presas de Impidimp começavam a brilhar. Ambos saltaram no ar, colocando as suas técnicas em prática e atacando-se um ao outro. Após o embate entre as duas criaturas, ocorreu uma pequena explosão no ar. Logo a seguir, os corpos dos Pokémon caíram no chão do solo.

 

            Bede e Marnie suspenderam as suas respirações por longos segundos. Quando a poeira baixou, o resultado do confronto era claro. Impidimp e Morpeko estavam inconscientes. Ambos permaneciam desmaiados e adormecidos no chão de terra. Os jovens entreolharam-se em silêncio.

 

            - Bom… isto foi um pouco anticlimático. – murmurou o rapaz.

 

            - Não gostas de saber que estamos ao mesmo nível? – perguntou a treinadora de cabelo negro num tom provocatório.

 

            Naquele momento, as figuras de três indivíduos aproximavam-se do local do confronto. Victor, Gloria e Hop revelavam expressões de surpresa por se depararem com os dois treinadores conhecidos.

 

            - Foi uma batalha acesa! – exclamou o moreno, entusiasmado.

 

            - Marnie, o teu Morpeko é uma verdadeira surpresa. – elogiou a gémea.

 

            - Obrigado! – agradeceu a outra, aproximando-se da criatura, que permanecia caída no chão. – Penso que o melhor agora é voltar a colocá-lo no interior da Poké Ball. Tenho de procurar alguma comida para lhe dar. Ainda não sei muito bem como funciona a sua habilidade, na verdade… – disse, deixando escapar um sorriso nervoso. – Espera, Victor, isso é um ovo? – questionou, abrindo os olhos com muita atenção.

 

            - Sim é. – respondeu, juntando a incubadora que segurava nos dois braços ao seu tronco. – De qualquer das formas, Marnie, conseguiste enfrentar os Pokémon do Bede. – continuou, recebendo a atenção do platinado. – O teu Impidimp tem muita energia, já agora. – apontou, virando-se para ele.

 

            - Fazemos por isso. – respondeu vagamente, retrocedendo o corpo do Fairy-Type para o interior da esfera bicolor.

 

            - Eu quero combater contigo! – exclamou Hop, aproximando-se a passos largos do jovem. – Eu sei que procuras Treinadores Pokémon fortes. E quem será mais forte do que o irmão do próprio Leon, o Campeão de Galar?

 

            Bede arqueou a sua sobrancelha, visivelmente indignado e surpreso com tamanha ousadia do rapaz. Depois de clarear a garganta, respondeu de forma curta e seca:

 

            - Não.

 

            - O quê?!

 

            - Não quero combater contigo. – repetiu.

 

            - Porquê? Pensava que procuravas desafiantes à tua altura.

 

            - Esse é o problema. Tu não estás à minha altura. – o moreno piscou os olhos em silêncio, surpreendido com a resposta. – Eu vi a tua derrota contra o Milo. Foi patético. – cuspiu.

 

            - Eu sei que isso não foi a minha melhor prestação, mas eu ganhei contra a Nessa! – argumentou.

 

            - Tinhas vantagem no tipo. E eram dois Pokémon contra um. – contrapôs.

 

            - Andas demasiado interessado nos nossos confrontos. – interveio Gloria.

 

            - Gosto de estudar os meus adversários. – respondeu, voltando o olhar para Victor, que o escutava com atenção. – Talvez aceitasse um desafio contra ele.

 

            - Eu?! – o rapaz olhou à volta, certificando-se que não se encontrava ali mais ninguém.

 

            - Sim. – murmurou. – Gostei da tua batalha contra o Milo. Mesmo depois do pequeno incidente que sofreste na Gym Mission de Hulbury, acho que és um Treinador Pokémon com algum potencial.

 

            Victor tentou responder, mas a sua garganta ficara seca subitamente.

 

            - Eu gostava de ver um confronto entre vocês os dois. – Marnie sorriu de canto.

 

            - Pode ser interessante. – concordou Gloria, voltando o rosto para o irmão. – O que achas tu?

 

            - S-sim. – respondeu, acenando a cabeça para cima e para baixo. – Aceito, Bede.

 

            - Vamos a isto então. – murmurou.

 

            Depois de Victor confiar a incubadora à sua irmã, o rapaz trocou de lugar com Marnie. Enquanto a treinadora se juntava a Gloria, abraçando-a de forma simpática e observando o ovo de perto, Hop, ao lado das duas, cruzava os braços à frente do seu peito enquanto bufava. Tentava compreender a razão por Bede ter dito aquilo sobre a sua prestação como Treinador Pokémon. A seu ver, tinha provado a sua força e poder ao derrotar o Pokémon Gigantamax de Nessa. Mas talvez isso ainda não fosse suficiente para aquele rival tão peculiar.

 

            - Um contra um. – sugeriu Bede. – Parece-te bem?

 

            - Ótimo. – assentiu o gémeo, pegando numa Poké Ball que guardava no bolso.

 

            - Vamos a isto!

 

            Dos dois lados do campo de batalha improvisado, as duas esferas bicolores revelaram criaturas bastantes diferentes. Do lado de Victor, Corvisquire batia as asas no ar, enquanto que, do lado de Bede, o corpo da pequena Ralts permanecia sereno e imóvel.

 

            - Interessante. – murmurou o rapaz, observando a Fairy-Type de forma curiosa. – Corvisquire, sei que não treinamos há algum tempo, mas agora é altura de nos concentrarmos! Começa com Peck!

 

            A ave de Victor lançou-se na direção do adversário enquanto o seu bico começava a brilhar. Do outro lado, Ralts deslizava pelo solo, obedecendo às orientações do seu treinador. Abriu a sua boca e deixou escapar ondas de energia roxeadas, enquanto lançava a sua voz para o exterior. Disarming Voice obrigou Corvisquire a alterar a sua trajetória de voo e a anular a sua técnica.

 

            - Ele utilizou uma técnica de ataque para se defender? – murmurou Hop, que observava o confronto com atenção. – Uau.

 

            - Fury Attack.

 

            Mais uma vez, o Flying-Type saiu em direção a Ralts, desta vez atingido o seu corpo com várias bicadas de seguida. A pequena criatura caiu no chão, sentindo o impacto do ataque por todo o seu corpo.

 

            - Confusion.

 

            Os olhos e o corpo de Ralts começaram a brilhar num tom encarnado. Depois de concentrar a sua atenção e energia, o corpo de Corvisquire fora também invadido por uma luz encarnada, à medida que o Psychic-Type ganhava controlo sobre si mesmo. O Pokémon de Victor foi lançando contra o chão com algum impacto, o que fez o treinador estremecer ligeiramente.

 

            - Levanta-te, companheiro! – exclamou, incentivando-o. – Usa Pluck!

 

            Corvisquire conseguiu erguer-se do solo e voltar a levantar voo. Já no ar, o seu bico começou a reluzir enquanto crescia gradualmente. Numa velocidade mais rápida do que anteriormente, o Flying-Type atingiu o corpo de Ralts com uma forte bicada, arrastando a pequena criatura por largos metros no chão.

 

            - Boa! – exclamou Gloria, entusiasmada pelo irmão.

 

            Bede, por sua vez, permanecia imóvel e em silêncio, observando o corpo fraco de Ralts caído sobre o solo. O rapaz concentrou o seu pensamento na Pokémon que treinara e cuidara com tanta dedicação. Apesar de sentir o cansaço da Fairy-Type na sua própria alma, ele acreditava que a batalha não iria terminar por ali. E sabia que Ralts também não ia desistir tão cedo. Conseguia senti-lo telepaticamente.

 

            O corpo da Pokémon começou a emitir um forte e ofuscante brilho, à medida que os seus membros começavam a crescer e a sua fisionomia a alterar o registo inicial. Quando o brilho cessou algum tempo depois, uma nova Pokémon ocupava o lugar de Ralts. Já estava de pé, como se tivesse recuperado a energia perdida anteriormente. Era uma criatura com aspeto humano, que parecia usar um tutu branco. As suas pernas finas e longas eram verdes, da mesma cor do seu cabelo. Os olhos encarnados continuavam a brilhar discretamente por de trás dos fios de cabelo e, no topo da cabeça, dois chifres encarnados pareciam ter aumentado de tamanho.

 


            - Eu sabia que me conseguias ouvir. – murmurou Bede, esboçando um sorriso para a criatura que agora o olhava atentamente.

 

            - A tua Ralts evoluiu… - apontou Victor, surpreendido. – Magnífico.

 

            - É muito bonita! – admirava Marnie.

 

            - Kirlia, uma Pokémon Psychic-Type e Fairy-Type. – anunciou o Pokédex do gémeo. – Se sentir energia positiva, solta a sua felicidade ao dançar livremente. O seu poder psíquico permite-lhe ver o futuro.

 

            - Ver o futuro. – repetiu Bede entre dentes. – Kirlia, Draining Kiss.

 

            Rodopiando pelo ar, a criatura aproximou-se do Flying-Type, beijando-o. De imediato, o Pokémon começou a reluzir num tom encarnado, enquanto a sua energia era absorvida pela bailarina, que recuperava ainda mais pontos de energia. Victor, em silêncio, cerrou o punho.

 

            - Podemos ajudar-te a evoluir, mas não te vamos facilitar a vitória! – exclamou. – Hone Claws.

 

            Corvisquire bateu as asas no ar, rodopiando o corpo enquanto este era cercado por energia. Através daquela técnica, o voador aumentava o seu poder de ataque e astúcia.

 

            - Não percas mais tempo, Kirlia.

 

            Sem afirmar qualquer ordem em específico, a Psychic-Type seguiu as indicações do platinado e atacou com Disarming Voice. Desta vez, as ondas sonoras que lançara atingiram o corpo do Flying-Type, que teve de pousar no solo para descansar as suas asas cada vez mais fracas.

 

            - Fury Attack!

 

            Apesar do esforço de Corvisquire, as suas múltiplas tentativas de ataque não surtiram qualquer efeito contra Kirlia, que parecia anteceder a todos os seus movimentos.

 

            - Telepathy. – murmurou Bede. – É a habilidade de Kirlia. Ela consegue antever qualquer ataque que é usado pelos seus adversários. – explicou.

 

            - Co-como é que isso é possível? – gaguejou Victor.

 

            - Tudo é possível com Pokémon.

 

            - O que é que isso significa?! – o gémeo parecia cada vez mais confuso com as afirmações confusas e um tanto misteriosas do outro rapaz.

 

            - Que estás feito. – anunciou, num tom incrivelmente calmo. – Psybeam.

 

            Tudo aconteceu muito depressa. Os olhos de Kirlia brilharam e, logo a seguir, do interior da sua boca, um raio de tons magenta e partículas multicoloridas foi lançado na direção de Corvisquire. Completamente apanhado de surpresa e sem qualquer plano de fuga, o Flying-Type foi atingido. O seu gemido de dor ouviu-se por todo o local. Logo a seguir, caiu no chão, com os olhos fechados e o seu bico aberto. Estava inconsciente.

 

            Victor permaneceu especado enquanto encarava o corpo do seu Pokémon desmaiado no chão. Estava, de facto, surpreendido com toda a habilidade demonstrada por Bede e Kirlia. Se antes considerava o rapaz um possível rival, agora tinha todos os motivos para comprovar a sua crença.

 

            - Uau. – murmurou Marnie.

 

            - Isso foi… incrível. – admitiu Hop. – A Kirlia é uma Pokémon bastante forte.

 

            Ninguém falou mais nada. Victor procurou a Poké Ball no interior das suas calças e recuperou o corpo de Corvisquire. Depois, levantou o olhar para Bede e Kirlia, que o encaravam do outro lado do campo de batalha improvisado.

 

            - Isto foi uma ótima batalha. Agradeço-te pela oportunidade. Penso que estava a precisar de um confronto como este.

 

            - Pena não terem dado mais luta. – respondeu o platinado. – Talvez, afinal, não sejas assim tão forte como eu pensava.

 

            - Não podes dizer esse tipo de coisas! – exclamou Gloria, que até então tentava permanecer calma. – O Victor é um ótimo Treinador Pokémon! E tu és um batoteiro por usares a habilidade especial da Kirlia para alcançares a vitória! – protestou.

 

            - Está dentro das regras, miúda. – argumentou.

 

            - Ele tem razão, Gloria. – murmurou o gémeo. – O Bede não é batoteiro. – dizia, enquanto se aproximava da irmã e colocava o braço por cima dos seus ombros. – Ele é um Treinador Pokémon muito forte que todos nós vamos ter de enfrentar, eventualmente.

 

            Gloria bufou e afastou-se do local. Victor fitou o rosto de Bede, sem dizer mais nada, enquanto o platinado esboçava um sorriso de canto. Ao seu lado, Kirlia observava os dois rapazes com atenção e curiosidade. Nos pensamentos mais profundos da sua mente, conseguia perceber que os dois teriam um longo caminho pela frente.

 

            - Está na hora de ir. O treino por aqui está terminado.

 

            - Espera! – exclamou Hop. – Quando é que vou combater contigo?

 

            - Um dia, talvez. – respondeu Bede, retirando do bolso do seu casaco roxo uma esfera bicolor, para onde retrocedeu o corpo de Kirlia.

 

            - Para onde vais agora? – perguntou Marnie.

 

            - Quem sabe? – encolheu os ombros. – Já conquistei as primeiras três Badges, então tenho de preparar a minha equipa para os próximos desafios.

 

            - Três?! – repetiu a gémea, surpresa.

 

            - Claro. – afirmou, soltando uma curta gargalhada.

 

            - Eu consegui vencer contra o Milo e a Nessa. – disse Marnie. – O desafio contra o Kabu foi mais difícil. Mas voltarei em breve para uma desforra.

 

            Victor, Gloria e Hop entreolharam-se. Cada um deles tinha apenas conquistado uma Badge até aquele momento. Parecia absurdo Bede ter conquistado três num espaço de tempo tão curto. Sentiam-se fracos e insignificantes.

 

            - Eu apenas consegui a Grass Badge. – murmurou o gémeo.

 

            - E eu e o Hop a Water Badge. – a voz de Gloria saiu entristecida.

 

            - Mas… o Kabu é o próximo Líder de Ginásio que pretendemos desafiar e vencer! – exclamou o moreno. – Ele sabe que nós estamos a caminho.

 

            - Como assim? – perguntou Marnie, curiosa.

 

            - Encontrámo-lo na Galar Mine Number 2, enquanto combatíamos contra a Team Yell. – respondeu a gémea.

 

            - Aqueles patifes… - bufou o irmão.

 

            - Agora quero ouvir isso. – murmurou Bede, revelando algum interesse nas aventuras dos três amigos. – Contem o que aconteceu.

 

            Por momentos, os cinco jovens esqueceram-se dos seus planos futuros. Permaneceram ali mesmo, conversando animadamente e de forma descontraída. De lado, ficara a rivalidade, a pressa de chegar ao próximo destino e de vencer um novo adversário. Partilharam várias peripécias das suas viagens, conversaram sobre os seus Pokémon e relataram encontros aleatórios com criaturas que desconheciam. Chegaram mesmo a revelar alguns dos seus sonhos e desejos mais íntimos. Por momentos, pareciam todos verdadeiros amigos.


                  

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