Archive for September 2021
Notas do Autor - Capítulo 22
Estudar os adversários
Wimpod
Pensavam que
ele tinha ficado esquecido? Claro que não! O Wimpod voltou a dar as caras e,
desta vez, Hop foi mais inteligente e conseguiu capturá-lo sem levantar grande
confusão.
Antes deste
momento, testemunhámos ainda uma conversa entre os dois gémeos. Gloria quer
certificar-se de que Victor não
se sente sozinho ou tem pensamentos sombrios que o possam prejudicar. É aqui
que percebemos, mais uma vez, a forte ligação que os dois irmãos nutrem um pelo
outro. Por ser mais tímido, o rapaz retrai os seus sentimentos com maior
facilidade, mas isso não quer dizer que a rapariga não o perceba.
Bede VS Marnie
É no
Motostoke Outskirt que reencontramos as figuras de Bede e Marnie. Enquanto a
jovem treinadora tenta capturar um Pawniard selvagem, o rapaz aparece e,
surpreendentemente, auxilia a rapariga.
Depois de
uma troca de palavras e provocações, os dois acabam por decidir combater um
contra o outro. Confesso que já queria trazer uma batalha entre estes dois há
algum tempo, mas pareceu-me que esta seria a melhor altura na história para o
fazer.
Numa
primeira ronda, onde Bede usa Cutiefly e Marnie Nuzleaf, os movimentos
acontecem de forma rápida e, nesta fase inicial, os tipos dos dois Pokémon são
fundamentais para o resultado final. Cutiefly vence a Nuzleaf, mas é derrotado
logo depois de Morpeko entrar em campo com uma nova coloração.
Esta questão
em específico do Morpeko continuará a ser abordada e desenvolvida ao longo da
história. Como repararam, apesar da sua habilidade ser Hunger Switch, o
Pokémon manteve o mesmo aspeto durante toda a batalha. Não é um erro. Penso que
é mais interessante mostrar a forma como esta habilidade pode ser desenvolvida
e treinada entre Marnie e o próprio Morpeko, ao invés de mostrar logo como tudo
funciona habitualmente.
Voltando ao
combate, a última ronda é feita entre Impidimp (do lado de Bede) e Morpeko (do
lado de Marnie). Um clássico entre os dois Pokémon Iniciais de cada treinador.
A conclusão é bastante esclarecedora: empate. Logo, os dois encontram-se ao
mesmo nível, ou, pelo menos, os seus Pokémon. Penso que é uma altura muito
precoce na história para dar vitória a qualquer um destes personagens, sendo
que ambos partilham o mesmo nível de importância na trama. Então, vamos com
calma!
Victor VS Bede
Novamente,
tenho de admitir que já queria há muito ter trazido um confronto entre estes os
dois! A história de ambos vai evoluir para lá do que qualquer um imagina (penso
eu) e, como tal, é importante que os dois partilhem mais cenas em conjunto.
De um para
um, Victor usa Corvisquire (que já não dava as caras desde o Capítulo 15!) e
Bede escolhe Ralts. Após vários ataques sucessivos, a Fairy-Type evolui
para Kirlia e ganha um poder completamente novo, desenvolvendo a sua habilidade
especial, que lhe permite antever os ataques usados pelos seus adversários. É
esse poder que lhe dá a vitória, permitindo a Bede sair por cima.
Aqui, parece
claro que Bede tem mais experiência do que Victor – se olharmos apenas o número
de Badges que cada um tem, isso parece ainda mais óbvio.
No entanto,
após um confronto aceso, os cinco jovens baixam as suas defesas e voltam a ser
adolescentes normais. O capítulo termina com o grupo a unir-se em torno de histórias
e recordações que os unem: a jornada Pokémon.
Capítulo 22
Galar Mine
Number 2 acordava em silêncio. Os primeiros mineiros começavam a entrar na
enorme gruta, dando início às explorações de um novo dia. Ao mesmo tempo, os
Pokémon que por ali habitavam saíam à superfície, assistindo, com curiosidade,
os movimentos dos humanos.
Numa zona
mais afastada e pacata da caverna, uma modesta tenda marcava presença. No seu
interior, permaneciam os três jovens viajantes. Victor começou a despertar aos
poucos, movimentando-se no interior do seu saco-de-cama. Ao virar-se, já de
olhos bem abertos, encontrou o rosto de Gloria, a sua irmã, já desperta.
- Bom dia.
– murmurou, numa voz sonolenta.
- Já estás
acordada? Nem parece teu.
- Não tenho
culpa. – bufou. - O chão de uma caverna não é o colchão mais confortável para
uma rapariga dormir.
- Acho que
tens razão. – concordou, deixando escapar um pequeno riso.
- Dormiste
bem?
- Dentro do
possível. – disse vagamente, ignorando todos os pensamentos que ocupavam a sua
mente.
- Eu sei
que tu sentes que a Team Yell te estragou as possibilidades contra a Nessa. Mas
não deixes que essa amargura tome conta de ti. – Gloria falou, de forma direta,
surpreendendo o rapaz.
- Não sei
do que falas. – mentiu.
- Claro que
sabes. Esqueces-te que somos irmãos gémeos? Eu conheço-te bem.
- Porque
dizes isso?
- Eu vi a
forma como estavas naquela tarde, depois do desafio. Os teus olhos estavam…
tristes, perdidos. Na altura, pensei que fosse apenas por causa do que acontecera,
mas ontem percebi. Quando a Team Yell apareceu e ameaçou levar o teu ovo e o
Timburr… o teu rosto mudou. Os teus olhos não ficaram perdidos, mas sim focados
em dominá-los, derrotá-los. – a rapariga explicava, gesticulando com as mãos. –
Não digas que não é verdade.
Victor
mordeu os lábios, tentando encontrar alguma resposta para contra-argumentar a
irmã. Mas nada saiu da sua boca. Sentia que, naquele momento, a sua gémea o
conhecia melhor do que ele mesmo.
- Ta-talvez
tenhas razão. – sussurrou entre um suspiro. – Mas eles precisam de ser
travados! O mal que eles já fizeram… já me prejudicaram a mim, ontem magoaram o
Hop… eu não quero que aconteça o mesmo contigo, Gloria. Ou com outro inocente
qualquer. – explicou. – Quando o Kabu apareceu, ontem, uma pequena esperança
surgiu de novo. Mas aqueles patifes conseguem escapar sempre, dê por onde der.
- Sendo
assim, precisamos de melhorar para a próxima vez que os confrontarmos. –
incentivou a treinadora. – Com certeza, isso não será um problema. A tua equipa
está a ficar cada vez mais forte. Ainda ontem o Timburr e o Roggenrola
colocaram as suas diferenças de lado, uniram forças e lutaram com o mesmo
objetivo.
- Concordo
com essa ideia. – a voz do terceiro elemento do grupo fez-se ouvir pela primeira
vez naquela manhã. Hop apareceu do outro lado da tenda, já com a sua roupa de
viagem vestida. – Do que estão à espera? Levantem-se! Temos mais um dia pela
frente.
Os dois
gémeos assentiram e a conversa entre os dois ficou por ali. Apesar de uma troca
de ideias tão profunda ou reflexiva não ser regular entre os irmãos, ambos
sentiam-se mais aliviados por saberem que podiam contar com a ajuda do outro.
Se, por um lado, Victor agradecia a atenção e vigilância da sua irmã face aos
seus próprios comportamentos, Gloria sentia-se mais tranquila em poder ajudar o
irmão dali em diante.
Enquanto os
gémeos arrumavam o interior da tenda, Hop abriu a entrada da mesma, colocando a
cabeça de fora e sentido o ar fresco da caverna. Os seus olhos, no entanto, voltaram-se
de imediato para uma pequena criatura que permanecia silenciosa e imóvel no
local. O moreno abriu bem os olhos, surpreendido com a sua descoberta. De
seguida, recolheu a sua cabeça para o interior da tenda, em silêncio, e
voltou-se para os dois amigos.
- Ele está
ali fora! – exclamou, num sussurro.
- Quem? –
Gloria perguntou confusa.
- Aquele
Pokémon de ontem… o-o…
- Wimpod? –
falou Victor.
- Isso!
- Tens a
certeza que é ele? – insistiu a jovem.
- Tem o
mesmo ar de fugitivo e assustado… - murmurou.
- Vai
capturá-lo, então! – exclamou ela.
- Calma. –
murmurou o gémeo. – Se é o mesmo Wimpod de ontem, então já sabes que ele vai
tentar escapar quando te aproximares. Terás de o abordar de uma forma diferente
da habitual.
- Como
assim? – o moreno parecia confuso.
- Apanha-o
de surpresa. Tenta capturá-lo sem o desafiares.
- Isso é
possível, sequer? – contrapôs a gémea.
- Se não o
vou enfraquecer, talvez deva usar uma Poké Ball diferente… – sugeriu Hop.
- Sim!
Compraste alguma em Hulbury? – questionou Victor.
O moreno
pegou na sua mochila e remexeu o seu interior, retirando uma esfera de cor
azul, com pequenos apontamentos vermelhos.
- Esta
Great Ball. – murmurou. – Será que serve?
- Só há uma
maneira de descobrir. – falou Gloria.
Hop
assentiu e voltou costas aos dois amigos. Aproximou-se da entrada da tenda e
colocou, novamente, a cabeça de fora. Wimpod encontrava-se no mesmo sítio.
Permanecia sem se mexer ou deixar escapar qualquer grunhido. Parecia
adormecido. O moreno respirou fundo e, depois de fazer pontaria, lançou a Great
Ball na direção da criatura selvagem, que se surpreendeu ao sentir a esfera
bater contra o seu corpo. Mas já era demasiado tarde para tentar escapar. A
cápsula abriu-se e sugou a figura de Wimpod, agora em forma de luz encarnada,
para o seu interior, encerrando-se por fim. Vibrou, vibrou e voltou a vibrar.
Mas, finalmente, parou. A captura fora concluída com sucesso.
-
Conseguiste! – exclamou Victor, colocando a cabeça de fora da tenda.
- Tens mais
sorte do que juízo! – brincou a jovem, observando a esfera azul no chão.
O rapaz,
por sua vez, não respondeu. O seu rosto formava um enorme sorriso, que tão cedo
não se iria desvanecer. Sentia o orgulho e a felicidade tomarem conta do seu
corpo. Aos poucos, a sua confiança voltava.
• • •
Motostoke Outskirts
era uma pequena zona localizada nos subúrbios da grande cidade. A meio da
manhã, o local era invadido por Pokémon que por ali habitavam e treinadores
aleatórios que treinavam as suas equipas em crescimento.
Naquele
momento, Bede caminhava pelo local, observando em volta atentamente. Apesar do
olhar curioso, mantinha uma postura aparentemente tranquila, aquecendo as suas
mãos no interior dos bolsos do casaco roxo.
Após algum
tempo de passeio, o rapaz abrandou o seu passo, parando junto de um grupo de
árvores. Agora, os seus olhos pousavam sobre uma jovem treinadora que, alguns
metros à sua frente, enfrentava um Pokémon selvagem. O rapaz de cabelos
platinados permaneceu ali, em silêncio, observando a disputa com a máxima
atenção.
- Vamos a
isto, Nickit!
A voz de
Marnie fez-se ouvir. Acompanhada pela pequena raposa, as duas observavam a
criatura que se encontrava à sua frente. Era um Pokémon bípede, semelhante a um
pequeno besouro. A cabeça era redonda, vermelha e preta, com uma lâmina
prateada na parte da frente. O seu corpo era cinzento, à exceção dos membros
vermelhos. Na ponta de cada braço, erguiam-se duas lâminas bem afiadas. Naquele
momento, os seus olhos amarelos observavam as figuras das duas oponentes. A
jovem respirou fundo e usou o seu Rotom Phone para procurar mais informações
sobre a criatura desconhecida.
- Pawniard,
um Pokémon Dark-Type e Steel-Type. – falou o robô. – Afia as
suas lâminas em rochas duras, fortalecendo-as para enfrentar os seus
adversários com toda a força.
O Pokémon
saltou na direção de Nickit, surpreendendo com um forte Metal Claw. A pequena raposa rebolou no chão por alguns metros, mas
logo se levantou, seguindo as indicações da sua treinadora.
- Quick Attack.
Aproveitando
a proximidade do adversário, Nickit atingiu-o com uma placagem, fazendo com que
também ele caísse ao chão. Mas o efeito da técnica não perdurou por muito
tempo. Pawniard levantou-se e, erguendo as suas lâminas, preparou-se o seu
melhor Fury Cutter. Graças às rápidas
declarações de Marnie, a pequena raposa conseguiu escapar ilesa,
contra-atacando com Assurance.
Pawniard voltou a cair ao chão com a técnica usada e Marnie aproveitou o
momento para arremessar uma Poké Ball na sua direção. No entanto, após a
primeira vibração, a esfera bicolor voltou-se a abrir, revelando a figura do
Pokémon selvagem que, aparentemente, continuava com toda a força para combater.
- Não o
vais conseguir capturar com essas técnicas a meio gás. – Marnie surpreendeu-se
com a voz do rapaz que aparecia por trás de uma árvore ali perto.
- Bede? –
murmurou confusa. – O que estás aí a fazer?
- A
observar-te. – respondeu prontamente. – É melhor agires agora, antes que esse
Pawniard consiga escapar definitivamente.
Marnie
assentiu e voltou a concentrar-se na batalha à sua frente. Naquele momento, a
criatura selvagem voltava a atacar, desta vez com Scratch. Os ferimentos em Nickit, por sua vez, não eram de grande
intensidade.
- Snarl.
A pequena
raposa abriu a boca, lançando vários anéis roxos na direção do adversário, que
se deixou atingir pela técnica. Apesar de sentir o seu corpo enfraquecer
lentamente, a forte personalidade de Pawniard não o deixava desistir
facilmente. O Pokémon ergueu novamente as suas garras, preparando a técnica Fury Cutter.
- É o tudo
ou nada. – murmurou Bede.
- Nickit,
contra-ataca com Assurance!
A raposa
saltou no ar, indo de encontro ao corpo do adversário. Os dois Pokémon
atingiram-se mutuamente, aterrando no chão em simultâneo. Ambos se mantinham de
pé, com respirações ofegantes e olhares cerrados. Nenhum dos dois queria
mostrar parte fraca.
Marnie
cerrou o punho e, visivelmente impaciente, lançou outra Poké Ball contra o
corpo de Pawniard. Desta vez, a Poké Ball fez duas vibrações antes de anunciar
a conclusão da captura. A pequena raposa deixou escapar um alto suspiro antes
de cair no chão, exausta. Agora que o trabalho estava concluído, era a sua vez
de descansar do treino intenso. A treinadora resgatou Nickit para o interior da
sua cápsula e apanhou a outra do chão, guardando a sua nova aquisição no
interior da mala que usava ao ombro.
- Esse
Pawniard vai ser um bom acréscimo à tua equipa. – afirmou Bede, enquanto a
rapariga se voltava para ele.
- Espero
que sim. Estou a apostar numa equipa diversificada, mas forte. Até agora, já
capturei cinco Pokémon. – afirmou.
- Por muito
entusiasmante que isso possa soar, espero que saibas que quantidade não é
sinónimo de qualidade. – ripostou o rapaz.
- Estou a
fazer o meu melhor para treinar cada membro da minha equipa.
- Esse
Nickit parece precisar de um pouco mais de atenção. – apontou.
- És sempre
assim tão frontal e desagradável, Bede? – questionou a jovem, inclinando a
cabeça enquanto observava o rosto do rapaz à sua frente. – Quando nos
conhecemos, a minha primeira impressão tua não foi a melhor. E tenho de admitir
que as coisas continuam iguais.
- Lamento
não te agradar. Mas não fui feito para essas coisas. Estou a dar apenas a minha
opinião, com base naquilo que sei. – explicou.
- Curioso.
Não me lembro de ter pedido a tua opinião. – contrapôs Marnie, adotando uma
postura mais defensiva.
- Achas que
o teu irmão está orgulhoso do teu percurso até agora? – perguntou o platinado,
ignorando a afirmação da treinadora.
- O quê? –
murmurou, deixando escapar um pequeno riso.
- Sim. És
irmã do Piers, não é? O grande especialista dos Pokémon Dark-Type. E, sendo tu uma treinadora com o mesmo objetivo, qual é
a opinião dele?
- O que é
que isso te interessa? – rematou. – Ele é meu irmão e dá-me todo o apoio do
mundo, como é claro. Somos uma família unida.
- E por ser
teu irmão ele não te diz a sua opinião sincera?
- Quem
disse o contrário?
- Parece-me
que, por vezes, as pessoas que achamos que se preocupam mais connosco são
aquelas que nos protegem mais da realidade.
- O que
queres dizer com isso?
- Talvez o
teu irmão não esteja assim tão orgulhoso de ti. Talvez ele só diga que te apoia
de forma incondicional porque não te quer magoar.
-
Francamente, Bede! – exclamou a jovem, com uma expressão chocada no rosto. – Tu
não tens qualquer sentido de empatia pelos outros?
O rapaz
ficou em silêncio, voltando o seu olhar para a local onde se encontravam, sem
prestar atenção a grandes detalhes.
- Eu só queria
perceber se estás à minha altura. Quero desafiar-te para um combate. –
confessou.
- Tenho a
certeza de que há maneiras mais fáceis de fazeres essa abordagem. O que é que o
meu irmão tem a ver com isto?
- É um
Líder de Ginásio. – murmurou. – Certamente, deves ter aprendido alguma coisa
com ele. E eu estou à procura de um bom adversário.
- Para tua
sorte, aceito o desafio. – afirmou. – Mas, desde já, tenho a certeza de que não
terás outra adversária tão forte e interessante como eu.
- Isso é o
que vamos descobrir.
Bede correu
para o outro lado do local, voltando-se de imediato na direção de Marnie. Os
dois treinadores olharam-se enquanto a brisa no local parecia aumentar
ligeiramente, acompanhando a subida da tensão entre ambos os jovens.
- Dois
Pokémon de ambos os lados. Vez à vez. Os primeiros a ficarem inconscientes
perdem. – sugeriu a rapariga. – O que achas?
- Perfeito.
Os dois
assentiram e pegaram numa das suas Poké Balls. Depois de uma última troca de
olhares comprometedora, as esferas foram lançadas ao ar. Do lado de Marnie, o
corpo de Nuzleaf marcava presença. Sob a cabeça de Bede, a figura de Cutiefly
esvoaçava pelo ar.
- Nuzleaf,
começa com Razor Leaf!
Quando o Grass-Type lançou a sua técnica na
direção do pequeno inseto, Bede levantou o seu braço no ar, orientando os
movimentos do Pokémon que se esquivava agilmente. Marnie surpreendeu-se com o
feito, mas tentou não demonstrar a admiração que sentia naquele momento.
- Fairy Wind.
Cutiefly
começou a rodopiar o seu corpo pelo local, fazendo surgir várias ondas de vento
de uma coloração rosa brilhante. Marnie antecedeu-se e Nuzleaf contra-atacou
com Air Cutter. Quando os dois
ataques se atingiram na atmosfera, ambos foram cancelados, anulando o respetivo
dano.
- Fairy-Type. – murmurou a treinadora. – É
essa a tua especialidade?
- Talvez. –
Bede respondeu, esboçando um sorriso sarcástico.
- Desafiar
um adversário com desvantagem no tipo parece fácil. – retorquiu.
- Mostra-me
que estás à nossa altura, Marnie! – Bede voltou a levantar o seu braço no ar. –
Stun Spore.
Vários
poros de energia elétrica alcançaram o corpo de Nuzleaf, paralisando-o. A jovem
cerrou o punho e respirou fundo, antes de comandar a utilização da técnica Rollout. Utilizando a sua força para
combater a paralisia que ameaçava travar os seus músculos, o Grass-Type rolou o seu corpo pelo chão,
impulsionando-se na direção de Cutiefly, que acabou por ser atingido e
arremessado na direção do solo. O corpo de Bede tremeu com a caída do Bug-Type, mas o jovem acreditava no
poder e determinação do seu Pokémon.
- Agora
sim. Vamos a isto. – Marnie murmurou, em tom de provocação.
- Vamos ter
de recuperar a energia perdida, Cutiefly.
O pequeno
inseto assentiu e, depois de se erguer do solo de terra, começou a voar na
direção do seu adversário. Nuzleaf, por sua vez, tentou escapar-se, mas os
músculos paralisados começavam a limitar os seus movimentos. Cutiefly
aproximou-se do rosto do Grass-Type e,
gentilmente, depositou um beijo na sua bochecha. De imediato, o seu corpo
rodeou-se com um brilho encarnado e várias esferas energéticas foram
transferidas da figura de Nuzleaf para Cutiefly. Enquanto o Bug-Type recuperava energia, o Grass-Type sentia os seus membros
desfalecerem.
- Nuzleaf!
– exclamou Marnie, observando o seu Pokémon imóvel. – Faz alguma coisa!
- É tarde
demais. – anunciou o rapaz do outro lado do campo. – Foram apanhados pelo nosso
poder.
Bede abriu
os dois braços no ar, sentindo a brisa contra o seu corpo. Quase em sintonia,
Cutiefly começou, de novo, a rodopiar pelo ar do local, deixando atrás de si,
um rasto de vento rosa e cintilante. Nuzleaf tentou mover o seu corpo,
esquivar-se ou contra-atacar, mas a paralisia parecia aumentar a cada turno. O Dark-Type deixou-se atingir pela técnica
do pequeno Fairy-Type e tombou para
trás, perdendo a consciência.
- Oh… não.
A jovem
treinadora correu em auxílio do seu Pokémon. O corpo adormecido no chão era
lamentável. Pelo menos, agora, parecia já não estar em sofrimento. Marnie
retrocedeu o corpo de Nuzleaf para o interior de uma Poké Ball e retirou outra
da sua mala.
- Deste
alguma luta, mas não a suficiente para saíres vitoriosa. – provocou Bede.
- O próximo
e último Pokémon que vou usar é o meu companheiro desde o primeiro dia. –
anunciou a jovem, ignorando as palavras do adversário. – Eu sei que ele não me
vai desiludir. Vamos a isto, Morpeko!
O pequeno
rato saiu da Poké Ball. No entanto, Marnie surpreendeu-se com a aparência da
sua própria criatura. Estava diferente do normal. O seu pelo era agora colorido
em tons escuros de preto e roxo. Os olhos eram encarnados e curvados e a boca
abria-se, revelando uma expressão de raiva e fúria. O Pokémon permaneceu imóvel
sobre o solo, com uma respiração pesada, enquanto observava à sua volta com uma
expressão desconfiada.
- Morpeko,
um Pokémon Electric-Type e Dark-Type. – anunciou o Pokédex da
rapariga. – Em Full Belly Mode,
Morpeko armazena alimentos nos seus bolsos para saciar a fome. Quando fica sem
comida e a fome fala mais alto, altera a sua designação para Hangry Mode. Neste estado, as hormonas
afetam o seu temperamento e torna-se uma criatura violenta. – Marnie clicava no
aparelho, tentando obter mais informações sobre aquele fenómeno. – A habilidade
de Morpeko é conhecida por Hunger Switch.
- Nem
sequer conheces o teu Pokémon Inicial? – murmurou o rapaz.
-
Esqueci-me de lhe dar mais comida desde a última vez… - sussurrou a treinadora,
reticente com o que poderia acontecer. – Morpeko? Tenho aqui algumas Berries… queres?
O Dark-Type virou-se para a treinadora com
o seu olhar desconfiado. Em silêncio, a jovem lançou-lhe uma pequena baga, que
ele comeu de imediato, sem, no entanto, provocar qualquer alteração no seu
estado físico ou de espírito. Em vez disso, voltou-se para a frente,
concentrando o seu olhar na figura de Cutiefly. Sem qualquer ordem de Marnie,
Morpeko apanhou todos de surpresa e lançou um forte Thunder Shock contra o oponente. O Fairy-Type caiu no chão desmaiado.
- O quê?! –
exclamou Bede, tentando esconder o seu ar de surpresa.
- A fúria
de Morpeko torna as suas técnicas mais… fortes? – murmurou Marnie, observando a
criatura com atenção. Por momentos, parecia que não estava a reconhecer o
Pokémon oferecido por Piers. Era como se um novo poder dentro de si tivesse
sido desbloqueado.
Bede abanou
a cabeça e recuperou o corpo de Cutiefly para o interior da sua Poké Ball. Logo
a seguir, lançou outra ao ar, revelando o corpo de um Impidimp saltitante.
- Este é o
meu Pokémon Inicial. Oferecido pelo Presidente Rose. – anunciou.
-
Interessante. – comentou a rapariga. – Que comece o último confronto! Quick Attack.
Numa rápida
investida, o pequeno roedor partiu na direção do adversário, atingindo-o com
uma placagem. O corpo de Impidimp abanou, mas o Pokémon segurou-se nas suas
patas. Com apenas um aceno do seu treinador, contra-atacou, abrindo a sua boca
e revelando as presas afiadas. Morpeko foi atingido pelo Bite, fazendo-o recuar em silêncio. A expressão no seu rosto
manteve-se cruel e irritada, mas isso não era suficiente para intimidar o
Pokémon de Bede.
-
Mostrem-nos o que valem! – provocou.
- Flatter!
Morpeko
levantou os pequenos braços, concentrando a sua energia e atenção na figura de
Impidimp, que foi rodeada por um brilho encarnado. O Pokémon de Bede sentiu o
seu corpo contorcer-se enquanto a mente ficava cada vez mais confusa e perturbada.
Quando tentou contra-atacar, seguindo os comandos do treinador, o seu corpo não
se movimentou.
- O que se
está a passar? – murmurou o rapaz, confuso.
- A técnica
que usámos coloca o nosso adversário sobre um estado confuso. – explicou Marnie,
um tanto surpresa. – Não sabias disso? – deixou escapar uma curta gargalhada.
-
Apanhaste-me um pouco desprevenido. – assumiu o jovem platinado.
- Azar o
teu! Continua com Power Trip.
Sem
qualquer forma de escapar ao ataque, o Fairy-Type
deixou-se atingir por Morpeko. O seu corpo caiu para trás e, subitamente, o
embate com o solo fez o corpo da criatura despertar. Agora, voltava a sentir os
seus músculos funcionarem.
- Hora de
recuperar o tempo perdido! – anunciou Bede. – Fake Tears.
Os olhos de
Impidimp encheram-se de lágrimas e, de repente, a criatura começou a chorar. Os
seus soluços chamaram à atenção do oponente que, despercebido, viu o seu nível
de defesa diminuir. Marnie sentiu que o seu adversário preparava alguma técnica
especial, mas não conseguia antever exatamente qual a sua estratégia.
- Não vamos
deixar que avancem. Thunder Shock.
Pequenos
raios elétricos começaram a surgir das bochechas de Morpeko em direção a Impidimp,
mas o Fairy-Type seguiu o movimento
dos braços do seu treinador, esquivando-se agilmente da técnica do adversário.
- Assurance.
Numa rápida
investida, o Fairy-Type saltou no ar,
lançando-se na direção do Dark-Type e
atingindo-o com uma forte cabeçada, deitando-o ao chão. Marnie sentiu o seu
corpo estremecer, surpreendida com tamanha rapidez do oponente. Depois de
diminuir a sua defesa, os seus ataques pareciam surtir maior dano.
Morpeko
levantou-se do chão, sentindo o seu corpo ferido. Continuava com uma coloração
mais negra do que o habitual, que agora correspondia ao seu estado de espírito
durante a batalha. Sentia raiva e fúria perante o seu adversário, que parecia
não dar a mínima chance para uma possível derrota. Impidimp, do outro lado,
observava-o atentamente. O seu olhar transmitia confiança e rivalidade. Para
ele, vencer aquela disputa e deixar o seu treinador orgulhoso era o mais
importante.
- Foste um
ótimo rival, Bede. Mas nós estamos prontos para terminar esta disputa! – exclamou.
– Power Trip!
- Vamos ver
quem é o verdadeiro vencedor. - murmurou o jovem. - Bite.
As duas
criaturas começaram a correr na direção uma da outra. Enquanto Morpeko
preparava uma forte placagem com todo o seu corpo, as presas de Impidimp
começavam a brilhar. Ambos saltaram no ar, colocando as suas técnicas em
prática e atacando-se um ao outro. Após o embate entre as duas criaturas,
ocorreu uma pequena explosão no ar. Logo a seguir, os corpos dos Pokémon caíram
no chão do solo.
Bede e
Marnie suspenderam as suas respirações por longos segundos. Quando a poeira
baixou, o resultado do confronto era claro. Impidimp e Morpeko estavam
inconscientes. Ambos permaneciam desmaiados e adormecidos no chão de terra. Os
jovens entreolharam-se em silêncio.
- Bom… isto
foi um pouco anticlimático. – murmurou o rapaz.
- Não
gostas de saber que estamos ao mesmo nível? – perguntou a treinadora de cabelo
negro num tom provocatório.
Naquele
momento, as figuras de três indivíduos aproximavam-se do local do confronto.
Victor, Gloria e Hop revelavam expressões de surpresa por se depararem com os
dois treinadores conhecidos.
- Foi uma
batalha acesa! – exclamou o moreno, entusiasmado.
- Marnie, o
teu Morpeko é uma verdadeira surpresa. – elogiou a gémea.
- Obrigado!
– agradeceu a outra, aproximando-se da criatura, que permanecia caída no chão.
– Penso que o melhor agora é voltar a colocá-lo no interior da Poké Ball. Tenho
de procurar alguma comida para lhe dar. Ainda não sei muito bem como funciona a
sua habilidade, na verdade… – disse, deixando escapar um sorriso nervoso. –
Espera, Victor, isso é um ovo? – questionou, abrindo os olhos com muita
atenção.
- Sim é. –
respondeu, juntando a incubadora que segurava nos dois braços ao seu tronco. – De
qualquer das formas, Marnie, conseguiste enfrentar os Pokémon do Bede. – continuou,
recebendo a atenção do platinado. – O teu Impidimp tem muita energia, já agora.
– apontou, virando-se para ele.
- Fazemos
por isso. – respondeu vagamente, retrocedendo o corpo do Fairy-Type para
o interior da esfera bicolor.
- Eu quero
combater contigo! – exclamou Hop, aproximando-se a passos largos do jovem. – Eu
sei que procuras Treinadores Pokémon fortes. E quem será mais forte do que o
irmão do próprio Leon, o Campeão de Galar?
Bede
arqueou a sua sobrancelha, visivelmente indignado e surpreso com tamanha
ousadia do rapaz. Depois de clarear a garganta, respondeu de forma curta e
seca:
- Não.
- O quê?!
- Não quero
combater contigo. – repetiu.
- Porquê?
Pensava que procuravas desafiantes à tua altura.
- Esse é o
problema. Tu não estás à minha altura. – o moreno piscou os olhos em silêncio,
surpreendido com a resposta. – Eu vi a tua derrota contra o Milo. Foi patético.
– cuspiu.
- Eu sei
que isso não foi a minha melhor prestação, mas eu ganhei contra a Nessa! –
argumentou.
- Tinhas
vantagem no tipo. E eram dois Pokémon contra um. – contrapôs.
- Andas
demasiado interessado nos nossos confrontos. – interveio Gloria.
- Gosto de
estudar os meus adversários. – respondeu, voltando o olhar para Victor, que o
escutava com atenção. – Talvez aceitasse um desafio contra ele.
- Eu?! – o
rapaz olhou à volta, certificando-se que não se encontrava ali mais ninguém.
- Sim. –
murmurou. – Gostei da tua batalha contra o Milo. Mesmo depois do pequeno
incidente que sofreste na Gym Mission de Hulbury, acho que és um Treinador
Pokémon com algum potencial.
Victor
tentou responder, mas a sua garganta ficara seca subitamente.
- Eu
gostava de ver um confronto entre vocês os dois. – Marnie sorriu de canto.
- Pode ser
interessante. – concordou Gloria, voltando o rosto para o irmão. – O que achas tu?
- S-sim. –
respondeu, acenando a cabeça para cima e para baixo. – Aceito, Bede.
- Vamos a
isto então. – murmurou.
Depois de Victor
confiar a incubadora à sua irmã, o rapaz trocou de lugar com Marnie. Enquanto a
treinadora se juntava a Gloria, abraçando-a de forma simpática e observando o
ovo de perto, Hop, ao lado das duas, cruzava os braços à frente do seu peito
enquanto bufava. Tentava compreender a razão por Bede ter dito aquilo sobre a
sua prestação como Treinador Pokémon. A seu ver, tinha provado a sua força e
poder ao derrotar o Pokémon Gigantamax de Nessa. Mas talvez isso ainda não
fosse suficiente para aquele rival tão peculiar.
- Um contra
um. – sugeriu Bede. – Parece-te bem?
- Ótimo. –
assentiu o gémeo, pegando numa Poké Ball que guardava no bolso.
- Vamos a
isto!
Dos dois
lados do campo de batalha improvisado, as duas esferas bicolores revelaram
criaturas bastantes diferentes. Do lado de Victor, Corvisquire batia as asas no
ar, enquanto que, do lado de Bede, o corpo da pequena Ralts permanecia sereno e
imóvel.
-
Interessante. – murmurou o rapaz, observando a Fairy-Type de forma
curiosa. – Corvisquire, sei que não treinamos há algum tempo, mas agora é
altura de nos concentrarmos! Começa com Peck!
A ave de
Victor lançou-se na direção do adversário enquanto o seu bico começava a
brilhar. Do outro lado, Ralts deslizava pelo solo, obedecendo às orientações do
seu treinador. Abriu a sua boca e deixou escapar ondas de energia roxeadas,
enquanto lançava a sua voz para o exterior. Disarming Voice obrigou
Corvisquire a alterar a sua trajetória de voo e a anular a sua técnica.
- Ele
utilizou uma técnica de ataque para se defender? – murmurou Hop, que observava
o confronto com atenção. – Uau.
- Fury
Attack.
Mais uma
vez, o Flying-Type saiu em direção a Ralts, desta vez atingido o seu
corpo com várias bicadas de seguida. A pequena criatura caiu no chão, sentindo
o impacto do ataque por todo o seu corpo.
- Confusion.
Os olhos e
o corpo de Ralts começaram a brilhar num tom encarnado. Depois de concentrar a
sua atenção e energia, o corpo de Corvisquire fora também invadido por uma luz
encarnada, à medida que o Psychic-Type ganhava controlo sobre si mesmo.
O Pokémon de Victor foi lançando contra o chão com algum impacto, o que fez o
treinador estremecer ligeiramente.
-
Levanta-te, companheiro! – exclamou, incentivando-o. – Usa Pluck!
Corvisquire
conseguiu erguer-se do solo e voltar a levantar voo. Já no ar, o seu bico começou
a reluzir enquanto crescia gradualmente. Numa velocidade mais rápida do que
anteriormente, o Flying-Type atingiu o corpo de Ralts com uma forte
bicada, arrastando a pequena criatura por largos metros no chão.
- Boa! –
exclamou Gloria, entusiasmada pelo irmão.
Bede, por
sua vez, permanecia imóvel e em silêncio, observando o corpo fraco de Ralts
caído sobre o solo. O rapaz concentrou o seu pensamento na Pokémon que treinara
e cuidara com tanta dedicação. Apesar de sentir o cansaço da Fairy-Type
na sua própria alma, ele acreditava que a batalha não iria terminar por ali. E
sabia que Ralts também não ia desistir tão cedo. Conseguia senti-lo
telepaticamente.
O corpo da
Pokémon começou a emitir um forte e ofuscante brilho, à medida que os seus
membros começavam a crescer e a sua fisionomia a alterar o registo inicial.
Quando o brilho cessou algum tempo depois, uma nova Pokémon ocupava o lugar de
Ralts. Já estava de pé, como se tivesse recuperado a energia perdida
anteriormente. Era uma criatura com aspeto humano, que parecia usar um tutu
branco. As suas pernas finas e longas eram verdes, da mesma cor do seu cabelo.
Os olhos encarnados continuavam a brilhar discretamente por de trás dos fios de
cabelo e, no topo da cabeça, dois chifres encarnados pareciam ter aumentado de
tamanho.
- Eu sabia
que me conseguias ouvir. – murmurou Bede, esboçando um sorriso para a criatura
que agora o olhava atentamente.
- A tua Ralts
evoluiu… - apontou Victor, surpreendido. – Magnífico.
- É muito
bonita! – admirava Marnie.
- Kirlia,
uma Pokémon Psychic-Type e Fairy-Type. – anunciou o Pokédex do
gémeo. – Se sentir energia positiva, solta a sua felicidade ao dançar livremente.
O seu poder psíquico permite-lhe ver o futuro.
- Ver o
futuro. – repetiu Bede entre dentes. – Kirlia, Draining Kiss.
Rodopiando
pelo ar, a criatura aproximou-se do Flying-Type, beijando-o. De
imediato, o Pokémon começou a reluzir num tom encarnado, enquanto a sua energia
era absorvida pela bailarina, que recuperava ainda mais pontos de energia.
Victor, em silêncio, cerrou o punho.
- Podemos
ajudar-te a evoluir, mas não te vamos facilitar a vitória! – exclamou. – Hone
Claws.
Corvisquire
bateu as asas no ar, rodopiando o corpo enquanto este era cercado por energia.
Através daquela técnica, o voador aumentava o seu poder de ataque e astúcia.
- Não
percas mais tempo, Kirlia.
Sem afirmar
qualquer ordem em específico, a Psychic-Type seguiu as indicações do
platinado e atacou com Disarming Voice. Desta vez, as ondas sonoras que
lançara atingiram o corpo do Flying-Type, que teve de pousar no solo
para descansar as suas asas cada vez mais fracas.
- Fury
Attack!
Apesar do
esforço de Corvisquire, as suas múltiplas tentativas de ataque não surtiram
qualquer efeito contra Kirlia, que parecia anteceder a todos os seus
movimentos.
- Telepathy.
– murmurou Bede. – É a habilidade de Kirlia. Ela consegue antever qualquer
ataque que é usado pelos seus adversários. – explicou.
- Co-como é
que isso é possível? – gaguejou Victor.
- Tudo é
possível com Pokémon.
- O que é
que isso significa?! – o gémeo parecia cada vez mais confuso com as afirmações
confusas e um tanto misteriosas do outro rapaz.
- Que estás
feito. – anunciou, num tom incrivelmente calmo. – Psybeam.
Tudo
aconteceu muito depressa. Os olhos de Kirlia brilharam e, logo a seguir, do
interior da sua boca, um raio de tons magenta e partículas multicoloridas foi
lançado na direção de Corvisquire. Completamente apanhado de surpresa e sem
qualquer plano de fuga, o Flying-Type foi atingido. O seu gemido de dor
ouviu-se por todo o local. Logo a seguir, caiu no chão, com os olhos fechados e
o seu bico aberto. Estava inconsciente.
Victor permaneceu
especado enquanto encarava o corpo do seu Pokémon desmaiado no chão. Estava, de
facto, surpreendido com toda a habilidade demonstrada por Bede e Kirlia. Se
antes considerava o rapaz um possível rival, agora tinha todos os motivos para
comprovar a sua crença.
- Uau. –
murmurou Marnie.
- Isso foi…
incrível. – admitiu Hop. – A Kirlia é uma Pokémon bastante forte.
Ninguém
falou mais nada. Victor procurou a Poké Ball no interior das suas calças e
recuperou o corpo de Corvisquire. Depois, levantou o olhar para Bede e Kirlia,
que o encaravam do outro lado do campo de batalha improvisado.
- Isto foi
uma ótima batalha. Agradeço-te pela oportunidade. Penso que estava a precisar
de um confronto como este.
- Pena não
terem dado mais luta. – respondeu o platinado. – Talvez, afinal, não sejas
assim tão forte como eu pensava.
- Não podes
dizer esse tipo de coisas! – exclamou Gloria, que até então tentava permanecer
calma. – O Victor é um ótimo Treinador Pokémon! E tu és um batoteiro por usares
a habilidade especial da Kirlia para alcançares a vitória! – protestou.
- Está
dentro das regras, miúda. – argumentou.
- Ele tem
razão, Gloria. – murmurou o gémeo. – O Bede não é batoteiro. – dizia, enquanto
se aproximava da irmã e colocava o braço por cima dos seus ombros. – Ele é um
Treinador Pokémon muito forte que todos nós vamos ter de enfrentar,
eventualmente.
Gloria
bufou e afastou-se do local. Victor fitou o rosto de Bede, sem dizer mais nada,
enquanto o platinado esboçava um sorriso de canto. Ao seu lado, Kirlia
observava os dois rapazes com atenção e curiosidade. Nos pensamentos mais
profundos da sua mente, conseguia perceber que os dois teriam um longo caminho
pela frente.
- Está na
hora de ir. O treino por aqui está terminado.
- Espera! –
exclamou Hop. – Quando é que vou combater contigo?
- Um dia,
talvez. – respondeu Bede, retirando do bolso do seu casaco roxo uma esfera
bicolor, para onde retrocedeu o corpo de Kirlia.
- Para onde
vais agora? – perguntou Marnie.
- Quem
sabe? – encolheu os ombros. – Já conquistei as primeiras três Badges, então
tenho de preparar a minha equipa para os próximos desafios.
- Três?! –
repetiu a gémea, surpresa.
- Claro. –
afirmou, soltando uma curta gargalhada.
- Eu
consegui vencer contra o Milo e a Nessa. – disse Marnie. – O desafio contra o
Kabu foi mais difícil. Mas voltarei em breve para uma desforra.
Victor,
Gloria e Hop entreolharam-se. Cada um deles tinha apenas conquistado uma Badge
até aquele momento. Parecia absurdo Bede ter conquistado três num espaço de
tempo tão curto. Sentiam-se fracos e insignificantes.
- Eu apenas
consegui a Grass Badge. – murmurou o gémeo.
- E eu e o
Hop a Water Badge. – a voz de Gloria saiu entristecida.
- Mas… o
Kabu é o próximo Líder de Ginásio que pretendemos desafiar e vencer! – exclamou
o moreno. – Ele sabe que nós estamos a caminho.
- Como
assim? – perguntou Marnie, curiosa.
-
Encontrámo-lo na Galar Mine Number 2, enquanto combatíamos contra a Team Yell.
– respondeu a gémea.
- Aqueles
patifes… - bufou o irmão.
- Agora
quero ouvir isso. – murmurou Bede, revelando algum interesse nas aventuras dos
três amigos. – Contem o que aconteceu.
Por
momentos, os cinco jovens esqueceram-se dos seus planos futuros. Permaneceram
ali mesmo, conversando animadamente e de forma descontraída. De lado, ficara a
rivalidade, a pressa de chegar ao próximo destino e de vencer um novo
adversário. Partilharam várias peripécias das suas viagens, conversaram sobre
os seus Pokémon e relataram encontros aleatórios com criaturas que
desconheciam. Chegaram mesmo a revelar alguns dos seus sonhos e desejos mais
íntimos. Por momentos, pareciam todos verdadeiros amigos.