Archive for April 2021

Capítulo 16

 

                Os primeiros raios de sol daquele dia começavam a penetrar o tecido da tenda de Bede. O rapaz começou a remexer-se dentro do saco-de-cama, acordando lentamente. Esfregou os olhos e olhou em volta, tomando consciência da realidade envolvente. Mais um dia da sua jornada começava.

 

            Levantou-se e começou a preparar-se, vestindo as suas roupas de viagem e penteando o seu cabelo encaracolado e platinado. Apesar do seu acampamento não ter todos os luxos, o jovem contentava-se com o pouco que possuía. Pelo menos, não tinha de partilhar aquele lugar com outra pessoa, como acontecia no seu quarto, velho e antiquado, do Motostoke Orphanage, onde vivera até então.

 

            Por ter crescido sozinho e de forma tão independente, o jovem sabia fazer praticamente um pouco de tudo. Desde cozinhar as suas próprias refeições, arrumar os seus pertences, lavar a sua roupa, limpar e tratar da sua tenda, até a orientar-se por locais completamente desconhecidos. Bede era um verdadeiro sobrevivente solitário.

 

            Depois de cozinhar o seu pequeno almoço e arrumar todo o acampamento no interior da sua mochila, o rapaz voltou-se para o local à sua frente, observando com curiosidade os descampados da Route 4. Levou a mão até ao seu comprido casaco roxo, lançando ao ar as duas Poké Balls que possuía. Impidimp e Ralts apareceram à sua frente, observando-o com atenção.

 

            - Hoje vamos treinar. Temos que nos preparar para o próximo confronto no Gym Challenge. – disse prontamente, apontando para os vários montinhos de erva e arbustos amarelos da rota. – Vão.

 

            As duas criaturas seguiram as indicações do seu treinador, correndo na direção dos campos amarelos.

 

            Não demorou muito até que Impidimp encontrasse o seu primeiro adversário. O Fairy-Type encontrava-se frente a frente com um pequeno canino de pelo verde com vários apontamentos amarelos pelo seu corpo. A criatura de quatro patas e presas afiadas rosnava fortemente.

 


            Bede aproximou-se do confronto, analisando o Pokémon selvagem com a ajuda do seu Rotom Phone.

 

            - Electrike, um Pokémon Electric-Type. – começou o aparelho. – Armazena eletricidade no interior do seu pelo, descarregando a sua energia elétrica nas estações do ano mais secas.

 

            Apesar da presença do treinador no local, Impidimp movia-se de forma independente, combatendo sem a necessidade de seguir ordens do humano. Tal como o rapaz, o Pokémon parecia aprender de forma autónoma.

 

            Enquanto Electrike atacava com Tackle e Quick Attack, Impidimp deixava-se atingir, manipulando o adversário com Fake Tears e atacando com Bite. Foi depois do canino selvagem usar Thunder Wave que Impidimp se esquivou, atacando com a sua nova técnica, Assurance. O Dark-Type pulou no ar, atingindo o adversário com uma forte cabeçada. Já fraco, Electrike acabou por cair no chão inconsciente, dando a vitória da disputa ao Pokémon de Bede, que testemunhava o confronto com atenção e orgulho.

 

            - Muito bem. – disse, observando o corpo do canino desmaiado.

 

            Do outro lado do local, Ralts parecia enfrentar algumas dificuldades contra o seu adversário. Bede e Impidimp aproximaram-se da Psychic-Type, observando com atenção o Pokémon selvagem.

 

            A criatura era tão minúscula que se tornava difícil observá-la. O seu corpo farfalhudo e amarelo destacava-se pelas grandes asas brancas que permitiam que o pequeno inseto voasse pelo ar.

 


            - Cutiefly, um Pokémon Bug-Type e Fairy-Type. – anunciou o Pokédex que Bede segurava. – O mel e o pólen são os seus doces preferidos. Através da aura do seu adversário, consegue antever os ataques que serão usados.

 

            Naquela altura, o pequeno voador disparara Stun Spore na direção de Ralts, que se esquivava dos poros amarelos como se estivesse a dançar. A seguir, a Psychic-Type lançou-se na direção do adversário, tentando atacar com Draining Kiss. No entanto, a velocidade de Cutiefly era superior à de Ralts, fazendo o Pokémon escapar rapidamente.

 

            Bede franziu a testa, surpreendido com a estratégia da criatura selvagem, que despertava cada vez mais interesse no treinador.

 

            No ar, Cutiefly disparou uma onda de pó rosa, conhecida como Fairy Wind, que atingiu a figura de Ralts. No entanto, a Pokémon não se deixou enfraquecer pelo ataque, contra-atacando, logo a seguir, com a técnica Confusion. Enquanto os olhos brilhavam, o seu corpo era rodeado por uma aura encarnada, atingindo o corpo de Cutiefly, que viu a trajetória do seu voo alterada. No entanto, apesar das várias tentativas, aquilo não parecia ser o suficiente para enfraquecer o inseto voador.

 

            Recorrendo ao Absorb, Cutiefly conseguiu recuperar alguma da energia perdida anteriormente, atacando Ralts, que soltou um grunhido de dor. A Pokémon de Bede começava a enfraquecer e o treinador estava prestes a irritar-se com a ideia de uma possível derrota.

 

            - Chega! – exclamou o rapaz. – Hypnosis.

 

            Ralts concentrou-se na figura de Cutiefly, que voava freneticamente pelo ar, tentando fugir ao ataque. No entanto, o nível de concentração da Psychic-Type era demasiado elevado para falhar. Os seus olhos voltaram a ficar encarnados, assim como os do Bug-Type que, logo a seguir, adormeceu, iniciando uma queda livre em direção ao chão da rota.

 

            Antes mesmo do seu corpo atingir o solo, uma Poké Ball foi lançada contra o seu corpo, sugando a criatura para o seu interior. Adormecido e sem forma de combater, a captura foi facilmente concluída.

 

            Bede caminhou calmamente até à esfera caída no chão, apanhando-a e observando-a com atenção. O rapaz esboçou um fraco sorriso. A sua equipa parecia aumentar de dia para dia. Lentamente, sentia-se a ficar mais forte. No entanto, aquilo não era motivo para baixar os braços e relaxar. O treinador voltou-se para trás, encontrando Impidimp e Ralts que o observavam em silêncio.

 

            - Do que estão à espera? Os treinos de hoje ainda agora começaram.

 

• • •

 

            O dia já ia a meio. Marnie permanecia em silêncio enquanto observava o seu reflexo nas águas do lago da Route 5. No mesmo local, Morpeko, Nickit e Stunky brincavam animadamente, chapinhando pelas águas transparentes.

 

            Ao contrário dos seus Pokémon, a jovem treinadora segurava uma expressão séria no seu rosto, enquanto a sua mente se deixava invadir por vários pensamentos distintos. No centro de tudo, estava o seu combate contra Milo, no Turffield Stadium. Para vencer, fora necessário utilizar a Dynamax Band oferecida, secretamente, por Magnolia. O grande problema para Marnie era a reação do seu irmão àquele seu feito. Ela sabia perfeitamente a opinião de Piers sobre aquele tópico.

 

            As três criaturas aperceberam-se do estado de espírito da rapariga e, em conjunto, aproximaram-se da treinadora, tentando reconfortá-la.

 

            - Desculpem… - murmurou. – Eu sei que era suposto aproveitarmos o dia para algumas atividades mais descontraídas, mas isto não me sai da cabeça. – explicou. – Será que o Piers ficará chateado comigo pelo que eu fiz? Na verdade, nem é nada demais, certo? Eu só queria vencer a minha primeira Badge. Seria impossível sem ter usado o poder Dynamax. – os seus olhos permaneciam perdidos no reflexo da sua imagem. – Eu não sei o que fazer.

 

            Os três Pokémon permaneceram em silêncio, ouvindo a rapariga com atenção. Quando ela terminou o seu desabafo, o silêncio do local foi ocupado por um som calmo e tranquilizador de uma balada distante.

 

            Marnie rodou a cabeça, procurando o local de origem daquela melodia que, lentamente, a acalmava cada vez mais. A rapariga esboçou um fraco sorriso e começou a caminhar na direção daquele som, sendo seguida pelas três criaturas.

 

            Afastando-se cada vez mais da área em torno do lago da rota, a rapariga adentrou um espaço rodeado com árvores de grande porte e vários arbustos farfalhudos. Caminhava calmamente, tentando fazer o mínimo barulho possível para não incomodar a fonte daquela linda canção, que soava cada vez mais alta. Poderia ser um simples humano, ou uma criatura Pokémon típica daquela zona. Fosse o que fosse, Marnie estava prestes a descobrir.

 

            A rapariga parou atrás de um grande tronco de uma árvore. Morpeko, Nickit e Stunky esconderam-se atrás do corpo da treinadora, que espreitou para a frente, na direção exata de onde a melodia surgia. A sua boca abriu-se, surpreendendo-se com a origem daquele canto relaxante.

 

            Uma criatura bípede de corpo acastanhado permanecia sentada no topo de uma rocha. Na sua boca, segurava a folha verde que nascia no topo da sua cabeça e usava para emitir aquele som relaxante. O seu rosto era coberto com uma espécie de máscara marcada na própria pele, enquanto o seu nariz era pontiagudo.

 


            Marnie e os seus Pokémon permaneceram escondidos atrás do tronco de madeira por mais alguns minutos. A rapariga e as três criaturas sentiam-se mais relaxadas ao som daquela melodia. De uma certa maneira, parecia transmitir paz e calmaria para todos. Especialmente para a jovem, que, ultimamente, se deixava controlar por pensamentos controversos, era agradável poder relaxar e acalmar-se um pouco.

 

            Depois de retirar o Rotom Phone do interior da sua mala, apontou o aparelho eletrónico na direção da criatura selvagem.

 

            - Nuzleaf, um Pokémon Grass-Type e Dark-Type. – falou numa voz robótica. – Vive nas profundezas da floresta. Com a sua folha, consegue emitir melodias de acordo com o seu estado de espírito. Se estiver zangado, o som emitido irá assustar todos aqueles que o ouvirem. Pelo contrário, se estiver feliz, irá transmitir calmaria a todos os ouvintes.

 

            O Pokémon levantou-se rapidamente ao perceber a presença de Marnie no local, interrompendo imediatamente a sua melodia. A treinadora e os seus Pokémon saíram de trás da árvore, voltando-se para a figura do Grass-Type que os encarava com um olhar de poucos amigos.

 

            - Não te queríamos assustar… - a jovem tentou falar numa voz tranquilizadora. – Gostámos tanto da tua melodia. Só queríamos ouvir de mais perto.

 

            No entanto, as explicações da rapariga pareciam não ser suficientes para Nuzleaf. O Pokémon, que anteriormente permanecia calmo e sereno, agora deixava-se controlar por uma onda de fúria. Ele não admitia que ninguém interrompesse as suas melodias. A criatura saltou do alto da pedra, lançando um Razor Leaf na direção de todo o grupo. Morpeko saltou no ar, tentando proteger a sua treinadora com a ajuda do Thunder Shock, mas acabou atingido pelas folhas cortantes, que o fizeram cair ao chão ferido.

 

            Apesar das dores que sentia no corpo, o pequeno Pokémon levantou-se, começando a correr na direção do adversário e atingindo-o com Quick Attack. Nuzleaf foi arrastado durante alguns metros, no entanto, parecia não se deixar abalar. O Pokémon começou a girar os seus braços, criando uma massa de ar que lançou contra Morpeko, projetando-o contra um tronco de madeira.

            - Oh não. – Marnie apressou-se a socorrer o pequeno rato, que gemia de dor, caído no chão. – Talvez seja melhor darmos oportunidade para que os outros possam combater também, amigo. – falava, enquanto segurava o corpo do Electric-Type contra si e voltava o olhar para a figura do Pokémon selvagem. A energia de Nuzleaf parecia superior à de qualquer outro Pokémon que encontrara até então.

 

            Nickit chegou-se à frente, adotando a sua postura de combate. Do outro lado, Nuzleaf, sem perder tempo, começou a girar e deslizar pelo terreno, atacando com Rollout, Graças ao comando de Marnie, a raposa conseguiu saltar por cima do corpo do adversário, evitando o ataque. O Dark-Type aproveitou para aumentar o seu poder, usando o movimento Hone Claws, enquanto Nuzleaf se levantava alguns metros à sua frente.

 

            - Snarl!

 

            Nickit abriu a boca, formando uma esfera de poder negro que logo lançou contra o corpo de Nuzleaf. Este, por sua vez, parecia resistente contra ataques daquela natureza. O Pokémon saltou no ar, girando mais uma vez os seus braços e atacando com Air Cutter. Nickit tentou segurar-se ao solo, mas as rajadas de vento criadas pelo adversário eram demasiado fortes, deixando-se arrastar alguns metros para trás.

 

            - Vamos aproximar-nos. Quick Attack!

 

            A raposa saiu disparada na direção do Grass-Type, que se tentou defender recorrendo à técnica Razor Leaf, no entanto, o Pokémon de Marnie parecia demasiado rápido, esquivando-se das várias folhas e atingindo o corpo de Nuzleaf com toda a força possível. O Pokémon caiu ao chão e Marnie sorriu, sentindo que ganhava cada vez mais terreno de vantagem na disputa.

 

            No entanto, ao contrário do que todos pensavam, a criatura selvagem ainda não estava pronta para baixar os braços. O Pokémon levantou-se do chão e ergueu o seu rosto na direção do céu, encarando a luz solar que iluminava o seu corpo. A folha, no topo da sua cabeça começou a brilhar, à medida que a sua energia era restaurada gradualmente. Synthesis era o nome daquela técnica.

 

            Nuzleaf voltou a concentrar-se na figura de Nickit. Agora com a energia reposta, não havia nada que o pudesse travar. O Pokémon envolveu o seu corpo numa esfera e começou a rebolar pelo solo a alta velocidade. Apanhada de surpresa, a pequena raposa deixou-se atingir pelo Rollout, ficando imediatamente inconsciente.

 

            Marnie deixou escapar uma exclamação de surpresa e logo recuperou o corpo do Pokémon para o interior da sua Poké Ball. O seu olhar pousou sobre a figura de Nuzleaf, que a observava com um rosto provocador. Ele estava a gostar de vencer os Pokémon da treinadora um por um. Ao contrário, a rapariga começava a preocupar-se fortemente. Restava-lhe apenas uma criatura.

 

            - Stunky. É contigo. – falou ela, à medida que o Poison-Type ocupava o seu lugar na arena improvisada. – Focus Energy.

 

            Mantendo-se no mesmo local, o texugo sentiu todos os músculos do seu corpo ficarem mais fortes. Ao mesmo tempo, Nuzleaf voltava a atacar com Air Cutter, fazendo o adversário ser arrastado vários metros devido às fortes rajadas de vento.

 

            - Scratch!

 

            Apesar da tentativa, Nuzleaf escapou facilmente ao ataque físico de Stunky. Aproveitou a deixa para contra-atacar com Razor Leaf, atingindo o Poison-Type que, devido à vantagem, não se deixou enfraquecer pelo movimento usado.

 

            - Vamos dar uso à nossa única vantagem! – exclamou Marnie. – Acid Spray.

 

            De imediato, Stunky abriu a sua boca, lançando várias esferas de ácido na direção do adversário. Pela primeira vez, Nuzleaf revelava-se realmente afetado pelo movimento Poison-Type, que se tornava ainda mais crítico depois da primeira técnica comandada por Marnie. O Grass-Type caiu no chão, sentindo o veneno a penetrar o seu corpo.

 

            Marnie aproximou-se da criatura, segurando na mão uma esfera bicolor, que apontou na sua direção.

 

            - Nunca enfrentei um adversário tão forte como tu, Nuzleaf. – murmurou, enquanto o Pokémon a observava com os olhos semicerrados graças à dor que sentia. – Serias um grande acréscimo à nossa equipa.

 

            A Poké Ball sugou o corpo da criatura para o seu interior, caindo no chão do local de forma dramática. Foram necessárias várias vibrações para que a captura se desse, finalmente, como concluída. Parecia que, mesmo em alturas de fragilidade, Nuzleaf continuava a dar tudo de si. No entanto, acabara por ceder.

 

            A rapariga pegou na cápsula esférica e arrumou-a na sua mala, voltando a sua atenção para Stunky, que a observava em silêncio.

 

            - Foste uma grande ajuda. – sorriu ela. – O que me dizes se fossemos procurar algo para comer? – perguntou, recebendo várias exclamações de alegria do Pokémon.

 

• • •

 

            Sonia caminhava apressadamente pelas calçadas da zona mais alta de Hammerlocke. As muralhas que rodeavam e protegiam a cidade e que, habitualmente, captavam a atenção dos turistas e viajantes que por ali passavam, pareciam passar despercebidos aos olhos da investigadora, que se concentrava na tela do seu Rotom Phone, onde o rosto de Magnolia aparecia.

 

            - Avó, estou quase a chegar. – disse ela, com uma voz trémula. Parecia nervosa.

 

            - Muito bem. – a mais velha assentiu, do outro lado. – Não te esqueças. Mantém a calma e concentra-te. E faz todas as perguntas que estudaste. As respostas virão naturalmente.

 

            - Estou nervosa, avó. – admitiu a ruiva. – E se não conseguir descobrir nada?

 

            - Com certeza não irás descobrir tudo com uma mera entrevista. – Magnolia riu-se. – O trabalho de pesquisa de um investigador não se faz num dia. É um estudo complexo e contínuo.

 

            - Tens razão. – suspirou. – Preciso de me acalmar. Obrigado pelas palavras sábias.

 

            - Estou sempre aqui para ti, querida. Este é a tua oportunidade de brilhares. – sorriu a avó. – Liga-me mais tarde, sim?

 

            - Combinado, avó.

 

            Sonia sorriu para a tela, onde Magnolia retribuía a simpática expressão. Depois de desligar a chamada de vídeo, a rapariga certificou-se de colocar o aparelho eletrónico no modo silencioso e de o arrumar na sua mala.

 

            À sua frente, dois grandes portões marcavam a entrada para um dos sítios mais privilegiados da região: o Galar Palace, onde tinha lugar a Corte da região e, logicamente, habitava a família real Galarian.

 

            A ruiva observou em volta, à procura de algum tipo de campainha que pudesse pressionar, mas as câmaras que vigiavam o local já davam indicação da sua presença ali. Logo a seguir, um trabalhador do palácio, acompanhado por um alto e musculado segurança, apareceu do outro lado do portão.

 

            - Olá, menina Sonia. – cumprimentou o senhor calvo, ao mesmo tempo que o segurança abria o portão de forma automática. – Por favor, seja bem-vinda ao Galar Palace.

 

            A jovem assentiu e atravessou o grande portão de aço que protegia as muralhas daquele local sagrado. Logo atrás de si, as duas portas voltaram-se a fechar. No entanto, à frente dos seus olhos, Sonia tinha agora um grande castelo, constituído por duas torres de cada lado do edifício, ligadas por uma grande construção retangular. As várias janelas, paredes e telhados eram adornados por diferentes elementos decorativos da época medieval da História Pokémon.

 

            O trabalhador da corte e o segurança do edifício guiaram Sonia pelo grande pátio de entrada, envolto por altas muralhas de pedra que, certamente, tinham testemunhado milhares de histórias sobre os vários reinados e sucessões da família real. O trio aproximou-se sobre a porta principal do edifício, que o segurança voltou a abrir.

 

            O seu interior era decorado por elementos luxuosos e requintados, em vários tons de ciano, magenta e dourado, a cor que mais reluzia em contacto com a luz do sol. Sonia caminhou pelo local, deslumbrada. A investigadora nunca vira algo daquele nível.

 

            - Uau. – ela deixou escapar.

 

            - Todas as peças que vê à frente dos seus olhos remetem para as gerações anteriores da família real. Inclusivamente, a primeira geração de todas. – explicou o mordomo.

 

            - Incrível. – comentou.

 

            O nível de conservação de todos aqueles elementos decorativos parecia infinito. Os vários móveis escuros, as gigantes alcatifas que compunham o chão de pedra, as poltronas de variadas cores com apontamentos em ouro, as esculturas e pinturas feitas à mão eram incomparáveis a qualquer outra coisa que Sonia alguma vez vira. A rapariga suspirou com tanta beleza e elegância junta. Aos seus olhos, tudo parecia surreal.

 

            - Vou levá-la até à sala do trono. – anunciou o senhor. – As excelentíssimas majestades aguardam-na lá.

 

            Sonia assentiu e apressou o passo, acompanhando o mordomo que continuava a liderar o caminho pelos corredores infinitos daquele palácio. Várias portas permaneciam fechadas, enquanto outras se encontravam abertas. Várias divisões eram ocupadas com simples obras de arte, algumas tinham propósitos meramente insignificantes e outras eram limpas por trabalhadores da corte.

 

            Alguns minutos depois, o mordomo parou de frente para uma grande porta, batendo duas vezes sobre o material de madeira. Depois de receber uma indicação afirmativa do outro lado do local, o homem rodou a maçaneta, dando espaço para que Sonia entrasse na divisão. A rapariga colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e respirou fundo uma última vez, antes mesmo de entrar no local. Atrás de si, a porta fechou-se imediatamente, deixando-a sozinha com as duas figuras mais influentes de Galar.

 

            O local era bastante simples. As paredes de pedra formavam uma grande divisão com algumas janelas, com vista panorâmica para a cidade de Hammerlocke. No centro do local, uma simples cadeira permanecia vazia. Logo à sua frente, no cimo de um pedestal, dois grandes tronos anunciavam os reis Galarian. Cada um deles era decorado com vários apontamentos dourados, no entanto, o da esquerda era formado por um tecido ciano e o da direita por um tecido magenta.

 

            Na poltrona azul, Sordward LX sentava-se com um rosto pacífico e sereno. O seu cabelo apresentava-se perfeitamente penteado em forma de espada, como era habitual. Na poltrona encarnada, do outro lado, o seu irmão, Shielbert encontrava-se da mesma forma, com um simpático sorriso nos lábios. O seu cabelo, em forma de escudo, parecia reluzir. Os dois permaneceram sentados nos seus tronos, enquanto Sonia ocupava o lugar da simples cadeira que existia à frente dos dois.

 

            - Boa tarde, suas majestades. – falou, num tom de voz sério e audível, tentando esconder o nervosismo que sentia.

 

            - Olá Sonia. – o homem foi o primeiro a falar.

 

            - Sê bem-vinda ao nosso Galar Palace. – a mulher sorriu. – Desejas alguma coisa para te refrescares?

 

            - Não, muito obrigada. – a ruiva sorriu de forma simpática. – O vosso palácio é… simplesmente… magnífico.

 

            Os dois irmãos riram-se com a expressão de surpresa da jovem.

 

            - O que esperavas do palácio real, querida? – Sordward perguntou, sem esperar pela resposta. – Apesar de ser um edifício tradicional, é importantíssimo que o luxo esteja presente.

 

            - Obviamente, querida irmã. – concordou Shielbert. – Enfim, Sonia. Com o que te podemos ajudar?

 

            A ruiva surpreendeu-se com a reação pouco humilde dos dois, mas engoliu em seco, tentando ignorar aquele comentário infeliz.

 

            - Bem, como vos expliquei na carta que vos enviei, eu sou a Assistente de Laboratório da Professora Magnolia. Estou a dar os meus primeiros passos como Investigadora. E, uma vez que estamos na época inicial de um novo Gym Challenge, que dará espaço a uma nova Champion Cup, eu pensei que poderia estudar e pesquisar sobre o fenómeno que está no centro de tudo. – explicou ela. – Dynamax. Mais precisamente, a sua origem.

 

            Os dois reis entreolharam e logo se voltaram para a jovem.

 

            - Queres investigar a fonte de origem do poder Dynamax, é isso? – a mulher questionou.

 

            - Exatamente.

 

            - E como achas que te podemos auxiliar? – perguntou o homem, de forma curiosa.

 

            - Bem, vocês são os reis de Galar, não é? Então, com certeza, têm conhecimentos sobre o assunto. Informações que, claramente, não são apresentadas da mesma forma nos vários livros e apontamentos que estudei previamente.

 

            - Muito bem. – a rainha remexeu-se no seu trono.

 

            - Podemos ajudar-te. – concordou o rei.

 

            - Então… - a rapariga levou a sua mão até à mala, retirando um bloco de notas e uma caneta, que pousou sobre o colo. – Fazem alguma ideia da origem do fenómeno Dynamax? De onde vem a sua energia?

 

            - Os primeiros registos que existem do fenómeno Dynamax, ou de algo semelhante, são, exatamente, da primeira geração da família real de Galar. – começou a mulher.

 

            - The Darkest Day. – murmurou o homem, sentado sobre o outro trono. – Foi aí que os humanos registaram os primeiros Pokémon gigantes de sempre. As descrições afirmam que, quando a noite invadiu o dia, os Pokémon transformaram-se por completo. Não só a nível físico, como a nível comportamental. – explicava, enquanto Sonia escrevia no caderno. – Começaram a atacar aldeias, cidades e até mesmo pessoas. Muitas chegaram a morrer às suas mãos.

 

            - Na época, qual foi a reação da família real para travar o sucedido?

 

            - Foi reunida uma equipa de emergência da Corte. – respondeu a rainha. – No meio de todos os presentes, foi Sordward I que sugeriu que se resgatasse toda a população do reino para o interior do Galar Palace, onde estariam protegidos.

 

            - Isso chegou mesmo a acontecer? – questionou a investigadora.

 

            - Na verdade, não. O palácio foi atacado por uma criatura misteriosa. – disse o rei. – Até ao momento, não há qualquer registo da identidade dessa criatura. Só algumas descrições físicas. Nada de mais.

 

            - Certo… - a ruiva murmurou, escrevinhando vários apontamentos no caderno. – O que aconteceu a seguir ao ataque?

 

            - Sordward I e Shielbert I escaparam do local e fugiram pelos corredores do palácio. – explicou a mulher. – Os relatos explicam que os dois irmãos seguiram uma lenda da família.

 

            - O poder da espada e o poder do escudo. – acrescentou o outro. – Acredita-se que os Guardiões de Galar foram convocados pelos dois artefactos reais.

 

            - Artefactos? – repetiu Sonia.

 

            - A espada e o escudo são os artefactos que representam a família real Galarian. Os dois têm o poder de invocar os Guardiões de Galar. Zacian e Zamazenta. – repetiu Sordward. – Zacian, representa o poder da espada e Zamazenta o poder do escudo.

 

            - Compreendo. – assentiu. – Então é esse o verdadeiro significado das estátuas esculpidas no interior do Budew Drop Inn.

 

            - Corretíssimo. – concordou Shielbert. – Foi uma homenagem do querido Rose.

 

            Sonia esboçou um fraco sorriso e logo voltou a remexer nos seus apontamentos.

 

            - Voltando um pouco atrás. – recomeçou ela. – Aquela criatura desconhecida que atacou o palácio real na altura. Será que tem alguma coisa a ver com esta energia que provocou o The Darkest Day?

 

            - É provável. – opinou a rainha. – Mas não há, de facto, certezas absolutas sobre esse ser desconhecido.

 

            - Então… uma pergunta por responder. – murmurou, enquanto apontava no caderno. – O que aconteceu depois de Sordward I e Shielbert I invocarem os Guardiões de Galar?

 

            - Todo o território do reino foi invadido por uma luz ofuscante. Zacian e Zamazenta combateram contra os Pokémon gigantes e travaram a onda de destruição provocada. – explicou o rei.

 

            - De alguma maneira, o poder dos dois é suficiente e responsável por manter a ordem e a paz na região. O poder da espada e o poder do escudo são incomparáveis a qualquer outro. E é por esse motivo que Zacian e Zamazenta são conhecidos como os Guardiões de Galar. – completou a mulher.

 

            - O que aconteceu à figura misteriosa?

 

            - Desapareceu. – respondeu o rei. – Sem deixar qualquer rasto.

 

            - É como se o poder, em conjunto, de Zacian e Zamazenta anulassem a sua energia. – murmurou a rainha. – Nunca mais foi visto.

 

            - Voltando aos dias de hoje. – a ruiva encarou os dois reis à sua frente. – Qual é o paradeiro dos dois Guardiões de Galar?

 

            Sordward LX e Shielbert LX voltaram-se um para o outro. Os seus rostos ficaram mais pálidos e sérios que nunca. Pareciam até um pouco incomodados com aquela questão.

 

            - Três mil anos depois? – o rei engasgou-se. – Sabe-se que cada geração da família real permanece no trono, aproximadamente, cinquenta anos. No entanto, a localização de Zacian e Zamazenta permanece remota para todos.

 

            - Na verdade, é como se eles estivessem sempre aqui presentes connosco. – explicou a rainha, do outro lado. – Uma vez que eles são invocados pelos dois artefactos, que são propriedade da família real.

 

            - Então, para estar em contacto com Zacian e Zamazenta, é necessário ter acesso a esses dois artefactos. – Sonia falava, enquanto escrevia.

 

            - Exatamente. – assentiu Shielbert.

 

            - Mas nem todos os humanos têm o poder de os invocar. – sublinhou Sordward. – Apenas os reis de Galar conseguem despertar o poder de cada um deles. No fundo, acredita-se que os reis são as reencarnações de Zacian e Zamazenta.

 

            - Sordward. O poder da espada. Representa Zacian. – murmurou Sonia. – Shielbert. O poder do escudo. Representa Zamazenta.

 

            - Isso mesmo. – os dois irmãos concordaram em uníssono.

 

            Sonia calou-se finalmente. Com todas aquelas respostas, várias perguntas continuavam na sua cabeça. Entre elas, qual a verdadeira fonte do poder Dynamax e o motivo de, segundo o relato de Victor e Gloria, os dois gémeos terem avistado as figuras dos dois Guardiões de Galar.

 

            No entanto, a ruiva sabia que aquelas eram questões que apenas ela deveria pesquisar e investigar. Não poderia revelar todas as suas dúvidas antes da altura indicada. Caso contrário, poderia deitar fora todo o seu trabalho de pesquisa. Por enquanto, a sua investigação parecia estar longe de terminada.

 

            - Muito bem. – disse, começando a arrumar as coisas na carteira. – Penso que tenho tudo o que preciso por agora.

 

            - Oh. – Sordward soltou. – Que eficácia! – comentou.

 

            - Sempre que precisar, menina Sonia. – Ficamos felizes em ajudar na sua pesquisa.

 

            - Mais uma vez, muito obrigado. – agradeceu a jovem, levantando-se da cadeira. – Irei manter-vos informados sobre os desenvolvimentos da minha investigação, excelentíssimas altezas.


                  

Notas do Autor - Capítulo 16


CAPÍTULO 16

Trabalho de pesquisa


Bede


            Depois de cinco capítulos, voltamos a encontrar Bede. O rapaz e os seus Pokémon treinam na Route 4, antes de enfrentarem o seu próximo desafio do Gym Challenge. Enquanto Impidimp combate contra um Electrike selvagem, Ralts enfrenta um Cutiefly. No final, Bede acaba por capturar um inseto voador, mas não dá o treino como terminado!

            Graças a este momento, percebemos a forma como Bede treina os seus Pokémon. Assim como o rapaz cresceu de forma independente, o treinador ensina os seus Pokémon a combaterem de forma autónoma, sem a necessidade de seguirem as indicações do rapaz a qualquer momento. O jovem acredita que atingirá o seu poder máximo desta forma. O que acham sobre essa estratégia?

 

Marnie


            Parece que Marnie continua a liderar o caminho, desta vez na Route 5, não é mesmo? A treinadora desabafa com os seus Pokémon sobre a utilização da Dynamax Band, oferecida secretamente por Magnolia, nos confrontos do Gym Challenge. A rapariga teme a reação do seu irmão, uma vez que ele já deixou bem claro que não apoia o fenómeno típico da região de Galar. Como será a reação de Piers?

            Logo a seguir, Marnie e os seus Pokémon ouvem uma melodia relaxante. Obviamente, o grupo decide investigar e, no meio de várias árvores, acaba por encontrar um Nuzleaf, a origem do som relaxante. No entanto, o Pokémon selvagem não gosta de ver os seus concertos interrompidos e rapidamente dá início a um combate.

            Um a um, Nuzleaf enfrenta todos os Pokémon de Marnie. Morpeko, que até agora tem sido aquele que tem recebido mais atenção, é o primeiro a ser derrotado, dando espaço para os outros brilharem. Pela primeira vez, vemos Nickit num verdadeiro combate. No entanto, as técnicas da raposa não são realmente eficazes para derrotar o Grass-Type. É Stunky que, através da sua vantagem, consegue enfraquecer Nuzleaf, que acaba por ser capturado por Marnie! Uau! A sua equipa parece crescer de dia para dia, não é verdade?

 

Sonia

 

            Um pouco mais no centro de Galar, encontramos Sonia, que, em Hammerlocke, procura respostas para as suas pesquisas. Lembram-se no Capítulo 6 quando Magnolia incentiva a sua neta a investigar sobre os relatos de Victor e Gloria? Esta cena está diretamente relacionada com esse tópico.

            Depois de uma breve descrição do Galar Palace (eu acho que era necessário haver um local emblemático que representasse a família e a corte real), Sonia chega até à sala do trono, onde Sordward LX e Shielbert LX já estão à sua espera. Depois de uma introdução um tanto estranha, a pesquisadora começa a sua entrevista. No final, algumas questões são aprofundadas, outras são relacionadas entre outras já respondidas, mas muitas continuam por responder. Tal como disse Magnolia, era impossível Sonia resolver todo o mistério de uma só vez, não é verdade?

            Por enquanto, sabe-se que os Guardiões de Galar, Zacian e Zamazenta, representam a espada e o escudo, respetivamente, e que podem ser invocados, exclusivamente, pelos reis de Galar, através dos artefactos reais, tal como aconteceu no Prólogo. Isto porque, de alguma maneira, as várias gerações de Sordward e Shielbert são reencarnações dos dois lendários.

            No entanto, a energia que despertou o The Darkest Day e o fenómeno Dynamax ainda é desconhecida oficialmente, assim como a identidade da criatura misteriosa que foi avistada durante a tempestade arrasadora.

            A esta altura, penso que é bastante claro que a parte mais misteriosa da história vai ser liderada por Sonia, enquanto ela investiga todos os acontecimentos históricos de Galar. O que acham que vai sair daí? De que forma as coisas estarão interligadas?



- Copyright © 2019 Aventuras em Galar - Escrito por Angie - Powered by Blogger - Designed by CanasOminous -