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Capítulo 16
Os
primeiros raios de sol daquele dia começavam a penetrar o tecido da tenda de
Bede. O rapaz começou a remexer-se dentro do saco-de-cama, acordando
lentamente. Esfregou os olhos e olhou em volta, tomando consciência da
realidade envolvente. Mais um dia da sua jornada começava.
Levantou-se e começou a preparar-se, vestindo as suas
roupas de viagem e penteando o seu cabelo encaracolado e platinado. Apesar do
seu acampamento não ter todos os luxos, o jovem contentava-se com o pouco que
possuía. Pelo menos, não tinha de partilhar aquele lugar com outra pessoa, como
acontecia no seu quarto, velho e antiquado, do Motostoke Orphanage, onde vivera
até então.
Por ter crescido sozinho e de forma tão independente, o jovem
sabia fazer praticamente um pouco de tudo. Desde cozinhar as suas próprias
refeições, arrumar os seus pertences, lavar a sua roupa, limpar e tratar da sua
tenda, até a orientar-se por locais completamente desconhecidos. Bede era um
verdadeiro sobrevivente solitário.
Depois de cozinhar o seu pequeno almoço e arrumar todo o
acampamento no interior da sua mochila, o rapaz voltou-se para o local à sua
frente, observando com curiosidade os descampados da Route 4. Levou a mão até
ao seu comprido casaco roxo, lançando ao ar as duas Poké Balls que possuía.
Impidimp e Ralts apareceram à sua frente, observando-o com atenção.
- Hoje vamos treinar. Temos que nos preparar para o
próximo confronto no Gym Challenge. – disse prontamente, apontando para os vários
montinhos de erva e arbustos amarelos da rota. – Vão.
As duas criaturas seguiram as indicações do seu
treinador, correndo na direção dos campos amarelos.
Não demorou muito até que Impidimp encontrasse o seu
primeiro adversário. O Fairy-Type encontrava-se frente a frente com um
pequeno canino de pelo verde com vários apontamentos amarelos pelo seu corpo. A
criatura de quatro patas e presas afiadas rosnava fortemente.
Bede aproximou-se do confronto, analisando o Pokémon
selvagem com a ajuda do seu Rotom Phone.
- Electrike, um Pokémon Electric-Type. – começou o
aparelho. – Armazena eletricidade no interior do seu pelo, descarregando a sua
energia elétrica nas estações do ano mais secas.
Apesar da presença do treinador no local, Impidimp movia-se
de forma independente, combatendo sem a necessidade de seguir ordens do humano.
Tal como o rapaz, o Pokémon parecia aprender de forma autónoma.
Enquanto Electrike atacava com Tackle e Quick
Attack, Impidimp deixava-se atingir, manipulando o adversário com Fake
Tears e atacando com Bite. Foi depois do canino selvagem usar Thunder
Wave que Impidimp se esquivou, atacando com a sua nova técnica, Assurance.
O Dark-Type pulou no ar, atingindo o adversário com uma forte cabeçada.
Já fraco, Electrike acabou por cair no chão inconsciente, dando a vitória da
disputa ao Pokémon de Bede, que testemunhava o confronto com atenção e orgulho.
- Muito bem. – disse, observando o corpo do canino
desmaiado.
Do outro lado do local, Ralts parecia enfrentar algumas
dificuldades contra o seu adversário. Bede e Impidimp aproximaram-se da Psychic-Type,
observando com atenção o Pokémon selvagem.
A criatura era tão minúscula que se tornava difícil
observá-la. O seu corpo farfalhudo e amarelo destacava-se pelas grandes asas
brancas que permitiam que o pequeno inseto voasse pelo ar.
- Cutiefly, um Pokémon Bug-Type e Fairy-Type.
– anunciou o Pokédex que Bede segurava. – O mel e o pólen são os seus doces
preferidos. Através da aura do seu adversário, consegue antever os ataques que
serão usados.
Naquela altura, o pequeno voador disparara Stun Spore
na direção de Ralts, que se esquivava dos poros amarelos como se estivesse a
dançar. A seguir, a Psychic-Type lançou-se na direção do adversário,
tentando atacar com Draining Kiss. No entanto, a velocidade de Cutiefly
era superior à de Ralts, fazendo o Pokémon escapar rapidamente.
Bede franziu a testa, surpreendido com a estratégia da
criatura selvagem, que despertava cada vez mais interesse no treinador.
No ar, Cutiefly disparou uma onda de pó rosa, conhecida
como Fairy Wind, que atingiu a figura de Ralts. No entanto, a Pokémon
não se deixou enfraquecer pelo ataque, contra-atacando, logo a seguir, com a
técnica Confusion. Enquanto os olhos brilhavam, o seu corpo era rodeado
por uma aura encarnada, atingindo o corpo de Cutiefly, que viu a trajetória do seu
voo alterada. No entanto, apesar das várias tentativas, aquilo não parecia ser
o suficiente para enfraquecer o inseto voador.
Recorrendo ao Absorb, Cutiefly conseguiu recuperar
alguma da energia perdida anteriormente, atacando Ralts, que soltou um grunhido
de dor. A Pokémon de Bede começava a enfraquecer e o treinador estava prestes a
irritar-se com a ideia de uma possível derrota.
- Chega! – exclamou o rapaz. – Hypnosis.
Ralts concentrou-se na figura de Cutiefly, que voava
freneticamente pelo ar, tentando fugir ao ataque. No entanto, o nível de
concentração da Psychic-Type era demasiado elevado para falhar. Os seus
olhos voltaram a ficar encarnados, assim como os do Bug-Type que, logo a
seguir, adormeceu, iniciando uma queda livre em direção ao chão da rota.
Antes mesmo do seu corpo atingir o solo, uma Poké Ball
foi lançada contra o seu corpo, sugando a criatura para o seu interior.
Adormecido e sem forma de combater, a captura foi facilmente concluída.
Bede caminhou calmamente até à esfera caída no chão, apanhando-a
e observando-a com atenção. O rapaz esboçou um fraco sorriso. A sua equipa
parecia aumentar de dia para dia. Lentamente, sentia-se a ficar mais forte. No
entanto, aquilo não era motivo para baixar os braços e relaxar. O treinador
voltou-se para trás, encontrando Impidimp e Ralts que o observavam em silêncio.
- Do que estão à espera? Os treinos de hoje ainda agora
começaram.
• • •
O dia já ia a meio. Marnie permanecia em silêncio
enquanto observava o seu reflexo nas águas do lago da Route 5. No mesmo local,
Morpeko, Nickit e Stunky brincavam animadamente, chapinhando pelas águas
transparentes.
Ao contrário dos seus Pokémon, a jovem treinadora
segurava uma expressão séria no seu rosto, enquanto a sua mente se deixava
invadir por vários pensamentos distintos. No centro de tudo, estava o seu
combate contra Milo, no Turffield Stadium. Para vencer, fora necessário
utilizar a Dynamax Band oferecida, secretamente, por Magnolia. O grande
problema para Marnie era a reação do seu irmão àquele seu feito. Ela sabia
perfeitamente a opinião de Piers sobre aquele tópico.
As três criaturas aperceberam-se do estado de espírito da
rapariga e, em conjunto, aproximaram-se da treinadora, tentando reconfortá-la.
- Desculpem… - murmurou. – Eu sei que era suposto
aproveitarmos o dia para algumas atividades mais descontraídas, mas isto não me
sai da cabeça. – explicou. – Será que o Piers ficará chateado comigo pelo que
eu fiz? Na verdade, nem é nada demais, certo? Eu só queria vencer a minha
primeira Badge. Seria impossível sem ter usado o poder Dynamax. – os seus olhos
permaneciam perdidos no reflexo da sua imagem. – Eu não sei o que fazer.
Os três Pokémon permaneceram em silêncio, ouvindo a
rapariga com atenção. Quando ela terminou o seu desabafo, o silêncio do local
foi ocupado por um som calmo e tranquilizador de uma balada distante.
Marnie rodou a cabeça, procurando o local de origem
daquela melodia que, lentamente, a acalmava cada vez mais. A rapariga esboçou
um fraco sorriso e começou a caminhar na direção daquele som, sendo seguida
pelas três criaturas.
Afastando-se cada vez mais da área em torno do lago da
rota, a rapariga adentrou um espaço rodeado com árvores de grande porte e
vários arbustos farfalhudos. Caminhava calmamente, tentando fazer o mínimo
barulho possível para não incomodar a fonte daquela linda canção, que soava
cada vez mais alta. Poderia ser um simples humano, ou uma criatura Pokémon
típica daquela zona. Fosse o que fosse, Marnie estava prestes a descobrir.
A rapariga parou atrás de um grande tronco de uma árvore.
Morpeko, Nickit e Stunky esconderam-se atrás do corpo da treinadora, que
espreitou para a frente, na direção exata de onde a melodia surgia. A sua boca
abriu-se, surpreendendo-se com a origem daquele canto relaxante.
Uma criatura bípede de corpo acastanhado permanecia
sentada no topo de uma rocha. Na sua boca, segurava a folha verde que nascia no
topo da sua cabeça e usava para emitir aquele som relaxante. O seu rosto era
coberto com uma espécie de máscara marcada na própria pele, enquanto o seu
nariz era pontiagudo.
Marnie e os seus Pokémon permaneceram escondidos atrás do
tronco de madeira por mais alguns minutos. A rapariga e as três criaturas
sentiam-se mais relaxadas ao som daquela melodia. De uma certa maneira, parecia
transmitir paz e calmaria para todos. Especialmente para a jovem, que,
ultimamente, se deixava controlar por pensamentos controversos, era agradável poder
relaxar e acalmar-se um pouco.
Depois de retirar o Rotom Phone do interior da sua mala,
apontou o aparelho eletrónico na direção da criatura selvagem.
- Nuzleaf, um Pokémon Grass-Type e Dark-Type.
– falou numa voz robótica. – Vive nas profundezas da floresta. Com a sua folha,
consegue emitir melodias de acordo com o seu estado de espírito. Se estiver
zangado, o som emitido irá assustar todos aqueles que o ouvirem. Pelo
contrário, se estiver feliz, irá transmitir calmaria a todos os ouvintes.
O Pokémon levantou-se rapidamente ao perceber a presença
de Marnie no local, interrompendo imediatamente a sua melodia. A treinadora e
os seus Pokémon saíram de trás da árvore, voltando-se para a figura do Grass-Type
que os encarava com um olhar de poucos amigos.
- Não te queríamos assustar… - a jovem tentou falar numa
voz tranquilizadora. – Gostámos tanto da tua melodia. Só queríamos ouvir de
mais perto.
No entanto, as explicações da rapariga pareciam não ser
suficientes para Nuzleaf. O Pokémon, que anteriormente permanecia calmo e
sereno, agora deixava-se controlar por uma onda de fúria. Ele não admitia que
ninguém interrompesse as suas melodias. A criatura saltou do alto da pedra,
lançando um Razor Leaf na direção de todo o grupo. Morpeko saltou no ar,
tentando proteger a sua treinadora com a ajuda do Thunder Shock, mas acabou
atingido pelas folhas cortantes, que o fizeram cair ao chão ferido.
Apesar das dores que sentia no corpo, o pequeno Pokémon
levantou-se, começando a correr na direção do adversário e atingindo-o com Quick
Attack. Nuzleaf foi arrastado durante alguns metros, no entanto, parecia
não se deixar abalar. O Pokémon começou a girar os seus braços, criando uma
massa de ar que lançou contra Morpeko, projetando-o contra um tronco de
madeira.
- Oh não. – Marnie apressou-se a socorrer o pequeno rato,
que gemia de dor, caído no chão. – Talvez seja melhor darmos oportunidade para
que os outros possam combater também, amigo. – falava, enquanto segurava o
corpo do Electric-Type contra si e voltava o olhar para a figura do
Pokémon selvagem. A energia de Nuzleaf parecia superior à de qualquer outro
Pokémon que encontrara até então.
Nickit chegou-se à frente, adotando a sua postura de
combate. Do outro lado, Nuzleaf, sem perder tempo, começou a girar e deslizar
pelo terreno, atacando com Rollout, Graças ao comando de Marnie, a
raposa conseguiu saltar por cima do corpo do adversário, evitando o ataque. O Dark-Type
aproveitou para aumentar o seu poder, usando o movimento Hone Claws,
enquanto Nuzleaf se levantava alguns metros à sua frente.
- Snarl!
Nickit abriu a boca, formando uma esfera de poder negro
que logo lançou contra o corpo de Nuzleaf. Este, por sua vez, parecia
resistente contra ataques daquela natureza. O Pokémon saltou no ar, girando
mais uma vez os seus braços e atacando com Air Cutter. Nickit tentou
segurar-se ao solo, mas as rajadas de vento criadas pelo adversário eram
demasiado fortes, deixando-se arrastar alguns metros para trás.
- Vamos aproximar-nos. Quick Attack!
A raposa saiu disparada na direção do Grass-Type,
que se tentou defender recorrendo à técnica Razor Leaf, no entanto, o
Pokémon de Marnie parecia demasiado rápido, esquivando-se das várias folhas e
atingindo o corpo de Nuzleaf com toda a força possível. O Pokémon caiu ao chão
e Marnie sorriu, sentindo que ganhava cada vez mais terreno de vantagem na
disputa.
No entanto, ao contrário do que todos pensavam, a
criatura selvagem ainda não estava pronta para baixar os braços. O Pokémon
levantou-se do chão e ergueu o seu rosto na direção do céu, encarando a luz
solar que iluminava o seu corpo. A folha, no topo da sua cabeça começou a
brilhar, à medida que a sua energia era restaurada gradualmente. Synthesis
era o nome daquela técnica.
Nuzleaf voltou a concentrar-se na figura de Nickit. Agora
com a energia reposta, não havia nada que o pudesse travar. O Pokémon envolveu
o seu corpo numa esfera e começou a rebolar pelo solo a alta velocidade.
Apanhada de surpresa, a pequena raposa deixou-se atingir pelo Rollout,
ficando imediatamente inconsciente.
Marnie deixou escapar uma exclamação de surpresa e logo
recuperou o corpo do Pokémon para o interior da sua Poké Ball. O seu olhar
pousou sobre a figura de Nuzleaf, que a observava com um rosto provocador. Ele
estava a gostar de vencer os Pokémon da treinadora um por um. Ao contrário, a
rapariga começava a preocupar-se fortemente. Restava-lhe apenas uma criatura.
- Stunky. É contigo. – falou ela, à medida que o Poison-Type
ocupava o seu lugar na arena improvisada. – Focus Energy.
Mantendo-se no mesmo local, o texugo sentiu todos os músculos
do seu corpo ficarem mais fortes. Ao mesmo tempo, Nuzleaf voltava a atacar com Air
Cutter, fazendo o adversário ser arrastado vários metros devido às fortes
rajadas de vento.
- Scratch!
Apesar da tentativa, Nuzleaf escapou facilmente ao ataque
físico de Stunky. Aproveitou a deixa para contra-atacar com Razor Leaf,
atingindo o Poison-Type que, devido à vantagem, não se deixou
enfraquecer pelo movimento usado.
- Vamos dar uso à nossa única vantagem! – exclamou
Marnie. – Acid Spray.
De imediato, Stunky abriu a sua boca, lançando várias
esferas de ácido na direção do adversário. Pela primeira vez, Nuzleaf
revelava-se realmente afetado pelo movimento Poison-Type, que se tornava
ainda mais crítico depois da primeira técnica comandada por Marnie. O Grass-Type
caiu no chão, sentindo o veneno a penetrar o seu corpo.
Marnie aproximou-se da criatura, segurando na mão uma
esfera bicolor, que apontou na sua direção.
- Nunca enfrentei um adversário tão forte como tu,
Nuzleaf. – murmurou, enquanto o Pokémon a observava com os olhos semicerrados
graças à dor que sentia. – Serias um grande acréscimo à nossa equipa.
A Poké Ball sugou o corpo da criatura para o seu
interior, caindo no chão do local de forma dramática. Foram necessárias várias
vibrações para que a captura se desse, finalmente, como concluída. Parecia que,
mesmo em alturas de fragilidade, Nuzleaf continuava a dar tudo de si. No
entanto, acabara por ceder.
A rapariga pegou na cápsula esférica e arrumou-a na sua
mala, voltando a sua atenção para Stunky, que a observava em silêncio.
- Foste uma grande ajuda. – sorriu ela. – O que me dizes
se fossemos procurar algo para comer? – perguntou, recebendo várias exclamações
de alegria do Pokémon.
• • •
Sonia caminhava apressadamente pelas calçadas da zona
mais alta de Hammerlocke. As muralhas que rodeavam e protegiam a cidade e que,
habitualmente, captavam a atenção dos turistas e viajantes que por ali
passavam, pareciam passar despercebidos aos olhos da investigadora, que se
concentrava na tela do seu Rotom Phone, onde o rosto de Magnolia aparecia.
- Avó, estou quase a chegar. – disse ela, com uma voz
trémula. Parecia nervosa.
- Muito bem. – a mais velha assentiu, do outro lado. –
Não te esqueças. Mantém a calma e concentra-te. E faz todas as perguntas que
estudaste. As respostas virão naturalmente.
- Estou nervosa, avó. – admitiu a ruiva. – E se não
conseguir descobrir nada?
- Com certeza não irás descobrir tudo com uma mera
entrevista. – Magnolia riu-se. – O trabalho de pesquisa de um investigador não
se faz num dia. É um estudo complexo e contínuo.
- Tens razão. – suspirou. – Preciso de me acalmar.
Obrigado pelas palavras sábias.
- Estou sempre aqui para ti, querida. Este é a tua
oportunidade de brilhares. – sorriu a avó. – Liga-me mais tarde, sim?
- Combinado, avó.
Sonia sorriu para a tela, onde Magnolia retribuía a
simpática expressão. Depois de desligar a chamada de vídeo, a rapariga
certificou-se de colocar o aparelho eletrónico no modo silencioso e de o
arrumar na sua mala.
À sua frente, dois grandes portões marcavam a entrada
para um dos sítios mais privilegiados da região: o Galar Palace, onde tinha
lugar a Corte da região e, logicamente, habitava a família real Galarian.
A ruiva observou em volta, à procura de algum tipo de
campainha que pudesse pressionar, mas as câmaras que vigiavam o local já davam
indicação da sua presença ali. Logo a seguir, um trabalhador do palácio,
acompanhado por um alto e musculado segurança, apareceu do outro lado do
portão.
- Olá, menina Sonia. – cumprimentou o senhor calvo, ao
mesmo tempo que o segurança abria o portão de forma automática. – Por favor,
seja bem-vinda ao Galar Palace.
A jovem assentiu e atravessou o grande portão de aço que
protegia as muralhas daquele local sagrado. Logo atrás de si, as duas portas
voltaram-se a fechar. No entanto, à frente dos seus olhos, Sonia tinha agora um grande castelo, constituído por duas torres de cada lado
do edifício, ligadas por uma grande construção retangular. As várias janelas,
paredes e telhados eram adornados por diferentes elementos decorativos da época
medieval da História Pokémon.
O trabalhador da corte e o segurança do edifício guiaram
Sonia pelo grande pátio de entrada, envolto por altas muralhas de pedra que,
certamente, tinham testemunhado milhares de histórias sobre os vários reinados
e sucessões da família real. O trio aproximou-se sobre a porta principal do
edifício, que o segurança voltou a abrir.
O seu interior era decorado por
elementos luxuosos e requintados, em vários tons de ciano, magenta e dourado, a
cor que mais reluzia em contacto com a luz do sol. Sonia caminhou pelo local,
deslumbrada. A investigadora nunca vira algo daquele nível.
- Uau. – ela deixou escapar.
- Todas as peças que vê à frente dos seus olhos remetem
para as gerações anteriores da família real. Inclusivamente, a primeira geração
de todas. – explicou o mordomo.
- Incrível. – comentou.
O nível de conservação de todos
aqueles elementos decorativos parecia infinito. Os vários móveis escuros, as
gigantes alcatifas que compunham o chão de pedra, as poltronas de variadas
cores com apontamentos em ouro, as esculturas e pinturas feitas à mão eram
incomparáveis a qualquer outra coisa que Sonia alguma vez vira. A rapariga
suspirou com tanta beleza e elegância junta. Aos seus olhos, tudo parecia
surreal.
- Vou levá-la até à sala do trono. – anunciou o senhor. –
As excelentíssimas majestades aguardam-na lá.
Sonia assentiu e apressou o passo, acompanhando o mordomo
que continuava a liderar o caminho pelos corredores infinitos daquele palácio.
Várias portas permaneciam fechadas, enquanto outras se encontravam abertas.
Várias divisões eram ocupadas com simples obras de arte, algumas tinham
propósitos meramente insignificantes e outras eram limpas por trabalhadores da
corte.
Alguns minutos depois, o mordomo parou de frente para uma
grande porta, batendo duas vezes sobre o material de madeira. Depois de receber
uma indicação afirmativa do outro lado do local, o homem rodou a maçaneta,
dando espaço para que Sonia entrasse na divisão. A rapariga colocou uma mecha
de cabelo atrás da orelha e respirou fundo uma última vez, antes mesmo de
entrar no local. Atrás de si, a porta fechou-se imediatamente, deixando-a
sozinha com as duas figuras mais influentes de Galar.
O local era bastante simples. As
paredes de pedra formavam uma grande divisão com algumas janelas, com vista
panorâmica para a cidade de Hammerlocke. No centro do local, uma simples
cadeira permanecia vazia. Logo à sua frente, no cimo de um pedestal, dois
grandes tronos anunciavam os reis Galarian. Cada um deles era decorado com vários
apontamentos dourados, no entanto, o da esquerda era formado por um tecido
ciano e o da direita por um tecido magenta.
Na poltrona azul, Sordward LX sentava-se com um rosto
pacífico e sereno. O seu cabelo apresentava-se perfeitamente penteado em forma
de espada, como era habitual. Na poltrona encarnada, do outro lado, o seu
irmão, Shielbert encontrava-se da mesma forma, com um simpático sorriso nos
lábios. O seu cabelo, em forma de escudo, parecia reluzir. Os dois permaneceram
sentados nos seus tronos, enquanto Sonia ocupava o lugar da simples cadeira que
existia à frente dos dois.
- Boa tarde, suas majestades. – falou, num tom de voz
sério e audível, tentando esconder o nervosismo que sentia.
- Olá Sonia. – o homem foi o primeiro a falar.
- Sê bem-vinda ao nosso Galar Palace. – a mulher sorriu.
– Desejas alguma coisa para te refrescares?
- Não, muito obrigada. – a ruiva sorriu de forma
simpática. – O vosso palácio é… simplesmente… magnífico.
Os dois irmãos riram-se com a expressão de surpresa da
jovem.
- O que esperavas do palácio real, querida? – Sordward
perguntou, sem esperar pela resposta. – Apesar de ser um edifício tradicional,
é importantíssimo que o luxo esteja presente.
- Obviamente, querida irmã. – concordou Shielbert. –
Enfim, Sonia. Com o que te podemos ajudar?
A ruiva surpreendeu-se com a reação pouco humilde dos
dois, mas engoliu em seco, tentando ignorar aquele comentário infeliz.
- Bem, como vos expliquei na carta que vos enviei, eu sou
a Assistente de Laboratório da Professora Magnolia. Estou a dar os meus
primeiros passos como Investigadora. E, uma vez que estamos na época inicial de
um novo Gym Challenge, que dará espaço a uma nova Champion Cup, eu pensei que
poderia estudar e pesquisar sobre o fenómeno que está no centro de tudo. –
explicou ela. – Dynamax. Mais precisamente, a sua origem.
Os dois reis entreolharam e logo se voltaram para a
jovem.
- Queres investigar a fonte de origem do poder Dynamax, é
isso? – a mulher questionou.
- Exatamente.
- E como achas que te podemos auxiliar? – perguntou o
homem, de forma curiosa.
- Bem, vocês são os reis de Galar, não é? Então, com
certeza, têm conhecimentos sobre o assunto. Informações que, claramente, não
são apresentadas da mesma forma nos vários livros e apontamentos que estudei
previamente.
- Muito bem. – a rainha remexeu-se no seu trono.
- Podemos ajudar-te. – concordou o rei.
- Então… - a rapariga levou a sua mão até à mala,
retirando um bloco de notas e uma caneta, que pousou sobre o colo. – Fazem alguma
ideia da origem do fenómeno Dynamax? De onde vem a sua energia?
- Os primeiros registos que
existem do fenómeno Dynamax, ou de algo semelhante, são, exatamente, da
primeira geração da família real de Galar. – começou a mulher.
- The Darkest Day. – murmurou o
homem, sentado sobre o outro trono. – Foi aí que os humanos registaram os
primeiros Pokémon gigantes de sempre. As descrições afirmam que, quando a noite
invadiu o dia, os Pokémon transformaram-se por completo. Não só a nível físico,
como a nível comportamental. – explicava, enquanto Sonia escrevia no caderno. –
Começaram a atacar aldeias, cidades e até mesmo pessoas. Muitas chegaram a
morrer às suas mãos.
- Na época, qual foi a reação da família real para travar
o sucedido?
- Foi reunida uma equipa de emergência da Corte. –
respondeu a rainha. – No meio de todos os presentes, foi Sordward I que sugeriu
que se resgatasse toda a população do reino para o interior do Galar Palace,
onde estariam protegidos.
- Isso chegou mesmo a acontecer? – questionou a
investigadora.
- Na verdade, não. O palácio foi
atacado por uma criatura misteriosa. – disse o rei. – Até
ao momento, não há qualquer registo da identidade dessa criatura. Só algumas
descrições físicas. Nada de mais.
- Certo… - a ruiva murmurou, escrevinhando vários
apontamentos no caderno. – O que aconteceu a seguir ao ataque?
- Sordward I e Shielbert I escaparam do local e fugiram
pelos corredores do palácio. – explicou a mulher. – Os relatos explicam que os
dois irmãos seguiram uma lenda da família.
- O poder da espada e o poder do escudo. – acrescentou o
outro. – Acredita-se que os Guardiões de Galar foram convocados pelos dois
artefactos reais.
- Artefactos? – repetiu Sonia.
- A espada e o escudo são os
artefactos que representam a família real Galarian. Os dois têm o poder de
invocar os Guardiões de Galar. Zacian e Zamazenta. – repetiu Sordward. –
Zacian, representa o poder da espada e Zamazenta o poder do escudo.
- Compreendo. – assentiu. – Então é esse o verdadeiro
significado das estátuas esculpidas no interior do Budew Drop Inn.
- Corretíssimo. – concordou Shielbert. – Foi uma
homenagem do querido Rose.
Sonia esboçou um fraco sorriso e logo voltou a remexer
nos seus apontamentos.
- Voltando um pouco atrás. – recomeçou ela. – Aquela
criatura desconhecida que atacou o palácio real na altura. Será que tem alguma
coisa a ver com esta energia que provocou o The Darkest Day?
- É provável. – opinou a rainha. – Mas não há, de facto,
certezas absolutas sobre esse ser desconhecido.
- Então… uma pergunta por responder. – murmurou, enquanto
apontava no caderno. – O que aconteceu depois de
Sordward I e Shielbert I invocarem os Guardiões de Galar?
- Todo o território do reino foi
invadido por uma luz ofuscante. Zacian e Zamazenta combateram contra os Pokémon
gigantes e travaram a onda de destruição provocada. – explicou o rei.
- De alguma maneira, o poder dos
dois é suficiente e responsável por manter a ordem e a paz na região. O poder
da espada e o poder do escudo são incomparáveis a qualquer outro. E é por esse
motivo que Zacian e Zamazenta são conhecidos como os Guardiões de Galar. –
completou a mulher.
- O que aconteceu à figura misteriosa?
- Desapareceu. – respondeu o rei. – Sem deixar qualquer
rasto.
- É como se o poder, em conjunto,
de Zacian e Zamazenta anulassem a sua energia. – murmurou a rainha. – Nunca
mais foi visto.
- Voltando aos dias de hoje. – a ruiva encarou os dois
reis à sua frente. – Qual é o paradeiro dos dois Guardiões de Galar?
Sordward LX e Shielbert LX voltaram-se um para o outro.
Os seus rostos ficaram mais pálidos e sérios que nunca. Pareciam até um pouco
incomodados com aquela questão.
- Três mil anos depois? – o rei engasgou-se. – Sabe-se
que cada geração da família real permanece no trono, aproximadamente, cinquenta
anos. No entanto, a localização de Zacian e Zamazenta
permanece remota para todos.
- Na verdade, é como se eles
estivessem sempre aqui presentes connosco. – explicou a rainha, do outro lado.
– Uma vez que eles são invocados pelos dois artefactos, que são propriedade da
família real.
- Então, para estar em contacto com Zacian e Zamazenta, é
necessário ter acesso a esses dois artefactos. – Sonia falava, enquanto
escrevia.
- Exatamente. – assentiu Shielbert.
- Mas nem todos os humanos têm o poder de os invocar. –
sublinhou Sordward. – Apenas os reis de Galar conseguem
despertar o poder de cada um deles. No fundo, acredita-se que os reis são as
reencarnações de Zacian e Zamazenta.
- Sordward. O poder da espada.
Representa Zacian. – murmurou Sonia. – Shielbert. O poder do escudo. Representa
Zamazenta.
- Isso mesmo. – os dois irmãos concordaram em uníssono.
Sonia calou-se finalmente. Com todas aquelas respostas,
várias perguntas continuavam na sua cabeça. Entre elas, qual a verdadeira fonte
do poder Dynamax e o motivo de, segundo o relato de Victor e Gloria, os dois
gémeos terem avistado as figuras dos dois Guardiões de Galar.
No entanto, a ruiva sabia que aquelas eram questões que
apenas ela deveria pesquisar e investigar. Não poderia revelar todas as suas dúvidas
antes da altura indicada. Caso contrário, poderia deitar fora todo o seu
trabalho de pesquisa. Por enquanto, a sua investigação parecia estar longe de
terminada.
- Muito bem. – disse, começando a arrumar as coisas na
carteira. – Penso que tenho tudo o que preciso por agora.
- Oh. – Sordward soltou. – Que eficácia! – comentou.
- Sempre que precisar, menina Sonia. – Ficamos felizes em
ajudar na sua pesquisa.
- Mais uma vez, muito obrigado. – agradeceu a jovem, levantando-se da cadeira. – Irei manter-vos informados sobre os desenvolvimentos da minha investigação, excelentíssimas altezas.
Notas do Autor - Capítulo 16
Trabalho de pesquisa
Bede
Depois de
cinco capítulos, voltamos a encontrar Bede. O rapaz e os seus Pokémon treinam
na Route 4, antes de enfrentarem o seu próximo desafio do Gym Challenge.
Enquanto Impidimp combate contra um Electrike selvagem, Ralts enfrenta um Cutiefly.
No final, Bede acaba por capturar um inseto voador, mas não dá o treino como
terminado!
Graças a
este momento, percebemos a forma como Bede treina os seus Pokémon. Assim como o
rapaz cresceu de forma independente, o treinador ensina os seus Pokémon a
combaterem de forma autónoma, sem a necessidade de seguirem as indicações do
rapaz a qualquer momento. O jovem acredita que atingirá o seu poder máximo
desta forma. O que acham sobre essa estratégia?
Marnie
Parece que
Marnie continua a liderar o caminho, desta vez na Route 5, não é mesmo? A
treinadora desabafa com os seus Pokémon sobre a utilização da Dynamax Band,
oferecida secretamente por Magnolia, nos confrontos do Gym Challenge. A
rapariga teme a reação do seu irmão, uma vez que ele já deixou bem claro que
não apoia o fenómeno típico da região de Galar. Como será a reação de Piers?
Logo a
seguir, Marnie e os seus Pokémon ouvem uma melodia relaxante. Obviamente, o
grupo decide investigar e, no meio de várias árvores, acaba por encontrar um
Nuzleaf, a origem do som relaxante. No entanto, o Pokémon selvagem não gosta de
ver os seus concertos interrompidos e rapidamente dá início a um combate.
Um a um,
Nuzleaf enfrenta todos os Pokémon de Marnie. Morpeko, que até agora tem sido
aquele que tem recebido mais atenção, é o primeiro a ser derrotado, dando
espaço para os outros brilharem. Pela primeira vez, vemos Nickit num verdadeiro
combate. No entanto, as técnicas da raposa não são realmente eficazes para
derrotar o Grass-Type. É Stunky que, através da sua vantagem, consegue
enfraquecer Nuzleaf, que acaba por ser capturado por Marnie! Uau! A sua equipa
parece crescer de dia para dia, não é verdade?
Sonia
Um pouco
mais no centro de Galar, encontramos Sonia, que, em Hammerlocke, procura
respostas para as suas pesquisas. Lembram-se no Capítulo 6 quando Magnolia
incentiva a sua neta a investigar sobre os relatos de Victor e Gloria? Esta
cena está diretamente relacionada com esse tópico.
Depois de
uma breve descrição do Galar Palace (eu acho que era necessário haver um local
emblemático que representasse a família e a corte real), Sonia chega até à sala
do trono, onde Sordward LX e Shielbert LX já estão à sua espera. Depois de uma
introdução um tanto estranha, a pesquisadora começa a sua entrevista. No final,
algumas questões são aprofundadas, outras são relacionadas entre outras já
respondidas, mas muitas continuam por responder. Tal como disse Magnolia, era
impossível Sonia resolver todo o mistério de uma só vez, não é verdade?
Por
enquanto, sabe-se que os Guardiões de Galar, Zacian e Zamazenta, representam a
espada e o escudo, respetivamente, e que podem ser invocados, exclusivamente,
pelos reis de Galar, através dos artefactos reais, tal como aconteceu no
Prólogo. Isto porque, de alguma maneira, as várias gerações de Sordward e
Shielbert são reencarnações dos dois lendários.
No entanto,
a energia que despertou o The Darkest Day e o fenómeno Dynamax ainda é
desconhecida oficialmente, assim como a identidade da criatura misteriosa que
foi avistada durante a tempestade arrasadora.
A esta
altura, penso que é bastante claro que a parte mais misteriosa da história vai
ser liderada por Sonia, enquanto ela investiga todos os acontecimentos
históricos de Galar. O que acham que vai sair daí? De que forma as coisas
estarão interligadas?