- Back to Home »
- Aventuras em Galar , Capítulos »
- Capítulo 18
As ondas do mar eram calmas naquela zona de Hulbury. À
medida que o sol se começava a aproximar da linha do horizonte, os barcos
começavam a regressar ao cais da cidade. Era mais um fim de dia dos pescadores,
a principal profissão da maioria dos habitantes daquela civilização.
Uma criança permanecia sentada num dos bancos do Hulbury
Pier. Concentrava-se no mar infinito que se prolongava à frente dos seus olhos,
ignorando por completo a presença dos vários barcos e dos pescadores, que
começavam a descarregar as criaturas apanhadas naquele dia.
A mente da menina parecia imaginar o interior do oceano,
certamente, recheado de Pokémon aquáticos, que ela tanto admirava desde que era
criança. Por ter crescido naquela cidade à beira-mar, onde tudo parecia ter
origem no oceano, ela nutria uma grande admiração pelas criaturas Water-Type.
Um dos pescadores aproximou-se da criança. A pele do
homem era escura, assim como a da menina, e levava consigo uma pequena arca
congeladora, onde mantinha as espécies capturadas.
- Mais um dia de trabalho terminado. – falou, deixando
escapar um curto suspiro. – Como foi o teu dia, querida?
- Normal, pai. – a menina respondeu, voltando o seu olhar
para o homem. – A mãe deixou-me vir até aqui depois de ter arrumado o meu
quarto todo. – disse, num tom ingénuo, mas orgulhoso.
- Muito bem, Nessa! – exclamou, sorrindo. – Tens que dar
o exemplo aos teus irmãos mais novos.
- É… eles desarrumaram tudo logo a seguir.
- Bem, pelo menos, fizeste a tua parte. – respondeu,
deixando escapar uma pequena risada.
- Devemos ir, então? – a pequena Nessa levantou-se do
banco, pousando os pés sobre a calçada de pedras do cais. – Apanhaste muitos
peixinhos hoje? – perguntou, observando a caixa congeladora que o homem
segurava.
- Vários Magikarp e alguns Goldeen. – respondeu. – Mas
antes…
O homem levou a mão ao bolso das suas calças, retirando
uma pequena esfera bicolor. A criança observou o objeto com curiosidade. Ela já
tinha visto aquele diapositivo nas mãos de alguns treinadores que passavam pela
cidade, mas aquele parecia ter uma coloração diferente.
- Isso é uma Poké Ball, paizinho? – perguntou numa voz
fina.
- Na verdade, é uma Dive Ball. São usadas para capturar
criaturas aquáticas. – sorriu o homem. – Capturei um pequeno Pokémon que
encontrei perdido. Queres conhecê-lo?
Os olhos de Nessa começaram a reluzir. Uma alegria contagiante
penetrou todo o seu corpo, fazendo a menina começar a saltitar de excitação.
- Sim! Por favor! – exclamou.
O homem pressionou o botão no centro da Dive Ball,
fazendo com que a cápsula se abrisse de imediato. Um feixe de luz deu corpo a
uma pequena tartaruga de corpo azul. A criatura segurava-se nas suas quatro
patas e, no topo da cabeça, um espinho laranja funcionava como arma contra os
seus inimigos. Nas suas costas, a carapaça azul-escura era usada como escudo de
proteção.
- Este é o Chewtle. – disse o homem.
A pequena tartaruga começou a caminhar pelo local,
observando tudo à sua volta. Apesar de ser pequeno, transmitia uma grande
força. Os seus olhos pousaram sobre a figura da pequena Nessa, que o observava
atentamente.
- Nunca tinha visto um antes. – murmurou a menina. – É
muito fofo!
- Eu sabia que ias gostar. – sorriu. – Pensei que talvez
quisesses tomar conta dele. Uma vez que tu adoras Pokémon Water-Type e,
daqui a alguns anos, partirás para a Pokémon School. – explicou. – O que achas?
Os olhos da menina voltaram a brilhar. Um grande sorriso
formou-se no seu rosto. Parecia que tanta felicidade não cabia dentro de si.
Estava realmente feliz por, pela primeira vez, ter um amigo aquático com quem
ela poderia brincar todos os dias. E, mais importante, os seus sonhos pareciam
começar-se a realizar calmamente.
- Claro que sim, papá. – ela murmurou, com um olhar
brilhante. – Obrigado!
• • •
Com
o começo de mais um ano letivo, novos alunos chegavam à Pokémon School da
região. O edifício localizava-se na Route 2, onde Magnolia lecionava e
habitava, em simultâneo. Para além da escola, o estabelecimento oferecia
dormitórios para a estadia dos vários jovens, que provinham de todos os cantos
de Galar.
Nessa permanecia extremamente nervosa e ansiosa. Queria
conhecer novas pessoas, fazer novos amigos e aprender tudo sobre os Pokémon aquáticos,
no entanto, aquela era a primeira vez que estaria longe de sua casa e da sua
família por tanto tempo.
A menina caminhou pelos corredores da instituição,
tentando passar despercebida no meio de todos os outros alunos que ali
existiam. No entanto, por ser mais baixa do que os restantes, era difícil
orientar-se e encontrar a sala onde a sua primeira aula iria ter lugar.
- Olha por onde andas!
Sem se aperceber, Nessa chocou contra duas raparigas, que
aparentavam ter a mesma idade que ela. As suas peles eram claras e os seus
cabelos dourados pareciam brilhar. A morena estremeceu, visivelmente
incomodada.
- D-desculpem… - murmurou.
- Estás perdida? – guinchou uma delas.
- E-estava a tentar encontrar a sala da minha primeira
aula.
- Não é isso… - a outra deixou escapar uma gargalhada
estridente, chamando à atenção das outras pessoas que por ali passavam. – Tens
a certeza que pertences aqui?
- Co-como assim? – a morena começava a sentir-se
incomodada com o tom de voz das outras duas à sua frente.
- Sabes… esta escola não é para escravos.
Nessa ficou sem reação absoluta. A sua boca abriu-se
automaticamente e o seu corpo petrificou-se de forma automática. A jovem
permaneceu em silêncio, sem dizer mais nada. Era como se o seu cérebro tivesse
parado para processar aquele comentário racista, enquanto o sangue nas suas
veias palpitava cada vez mais. Era a primeira vez que ela se sentia tão
envergonhada e indefesa.
- Na verdade, esta escola não é para pessoas racistas e
intriguistas como vocês!
Outra voz fez-se ouvir. As duas louras voltaram os seus
rostos para uma rapariga de cabelo ruivo que aparecia no local, caminhando até
elas e colocando-se ao lado de Nessa, que permanecia em silêncio observando
todo o desenrolar da situação.
- Só dissemos a verdade. – ripostou a outra, franzido a
testa.
- Já olhaste bem para ela? – a loura guinchou, apontando
para a figura de Nessa, que se encolhia cada vez mais.
- Vocês acham-se demasiado bonitas para poderem dizer
essas coisas tão cruéis? – interrompeu a ruiva, visivelmente chateada. – Eu
tenho a certeza de que a minha avó não gostaria de saber que as suas alunas
rebaixam as outras só por causa do seu tom de pele.
- Quem és tu?
- O meu nome é Sonia. – respondeu de imediato. – E a
minha avó é a Professora Magnolia.
As outras duas entreolharam-se, claramente surpreendidas
com aquela revelação. Não podiam permitir que Magnolia as castigasse por aquele
acontecimento. Seria uma grande vergonha. Começavam até mesmo a sentir algum
arrependimento por abordarem uma nova aluna daquela maneira tão rude e ofensiva.
- Desculpa. – disseram as duas, antes de abandonarem o
local em silêncio e de cabeça baixa.
Nessa piscou os olhos várias vezes, enquanto observava as
duas raparigas louras afastarem-se pelos corredores da escola. Finalmente,
aquele momento tão infeliz estava dado por terminado. Deixou escapar um
suspiro, sentindo-se mais aliviada e, logo a seguir, o seu olhar voltou-se para
a pessoa que se encontrava ao seu lado, a mesma que a salvara de todo aquele
julgamento público.
- E-eu… obrigada. – murmurou, tentando segurar as
lágrimas.
- Era a minha obrigação defender-te daquelas pirosas. –
Sonia deixou escapar um curto riso. – Nós, raparigas, devemos apoiar-nos e não
deitar-nos abaixo.
- Tens toda a razão. – Nessa sorriu. Era a primeira vez que
o fazia desde que ali chegara.
- Como te chamas?
- Nessa.
- Como deves ter ouvido, eu sou a Sonia. E, se achares
que o melhor é denunciar o comportamento daquelas duas, tenho todo o gosto em
acompanhar-te até ao gabinete da minha avó.
- Obrigado. Muito obrigado. – respondeu a morena,
acenando com a cabeça. – Mas eu não quero confusões para o meu lado.
- Como preferires. – a ruiva sorriu.
- Já agora… sabes onde fica a sala do primeiro ano?
- Primeiro ano? – repetiu Sonia. – Então estamos na mesma
turma! – sorriu.
• • •
Nessa caminhava calmamente pelos corredores vazios da
Pokémon School. Observava o seu redor com a máxima atenção, tentando absorver
todas as memórias vividas naquela instituição, que a vira crescer ao longo de
cinco anos consecutivos.
Dirigiu-se a uma das portas do corredor, onde se podia
ler “Professora Magnolia” e bateu duas vezes na madeira. Depois de ouvir a
confirmação do outro lado, rodou a maçaneta e entrou no gabinete.
Aquela divisão não era muito grande. As paredes brancas
eram ocupadas por prateleiras com vários arquivos dos estudantes. Alguns
diplomas e certificados emoldurados também estavam pregados à parede, revelando
o trabalho árduo desenvolvido por vários anos na instituição. No centro, havia uma
grande secretária cheia de papéis e uma cadeira, onde uma mulher mais velha se
sentava.
- Olá, querida Nessa. – saudou a senhora, apontando para
a cadeira do outro lado da secretária. – Por favor, coloca-te à vontade.
- Obrigado, Professora Magnolia. – a rapariga sorriu e
sentou-se.
- Imagino que venhas buscar o teu Certificado de Graduação,
certo?
- Exatamente.
- Tenho-o por aqui algures. – murmurou, abrindo uma
gaveta e procurando no seu interior. – Ah!
A mais velha retirou da gaveta uma grande folha dourada
com várias letras desenhadas. Nessa recebeu o diploma com todo o cuidado,
observando o objeto com atenção. Cinco anos de estudos do universo Pokémon e de
descoberta própria estavam ali representados.
- Eu sei que não é suposto eu dizer isto, mas foi uma
pena não teres ficado entre os três melhores classificados. – murmurou
Magnolia.
- Oh. – soltou a rapariga, surpreendida. – A concorrência
era bastante elevada. – brincou.
- Eras merecedora, tal como eles.
- Eu tenho a certeza de que o Leon, a Sonia e o Raihan
vão fazer bom uso de todos os prémios que receberem. – sorriu. – Eu já tenho um
Pokémon Inicial, de qualquer maneira.
- Ainda desejas ser a Treinadora Pokémon Water-Type
mais forte de Galar?
- Absolutamente. – os seus olhos azuis reluziram.
- Sabes, eu sempre admirei esse teu objetivo. – admitiu a
mais velha. – Mas tenho que te apresentar algo que tive conhecimento há algum
tempo.
Magnolia voltou a remexer na gaveta da sua secretária,
retirando um cartão colorido que mostrou à jovem.
- Modelo Pokémon? – leu ela. – O que é isso?
- O campo da moda é algo completamente novo em Galar. –
anunciou Magnolia. – Vários empresários e fotógrafos entraram em contacto
comigo para eu divulgar os seus trabalhos. É uma profissão, um trabalho com
finalidades múltiplas. Podes ser fotografada para publicitar alguma empresa,
mas também para divulgar espécies Pokémon, ou certas localidades de Galar ou do
resto do mundo.
- Parece interessante. – admitiu a jovem.
- Eu apresentei a ideia à Sonia, mas ela não levou a
sério, claramente. – riu. – De qualquer maneira, estou a partilhar esta
informação contigo porque acho que te encaixarias bem neste trabalho. – admitiu
a mulher, de forma séria.
- Acha mesmo?
- Claro que sim. És uma jovem com uma beleza única e
incrível. – sorriu. – Para além disso, mostras-te ser uma pessoa com princípios
durante todos estes anos que te acompanhei.
A rapariga ficou em silêncio, refletindo sobre a proposta
apresentada. Ser especialista Water-Type era o seu sonho desde criança.
Ao contrário, ser uma Modelo Pokémon era algo que nunca imaginara que fosse uma
opção. No entanto, por alguma razão, a ideia fazia sentido na sua cabeça. E
tinha um significado maior do que aparentava ter à primeira vista. Era como se
todas as situações de ataque e racismo que sofrera ao longo dos anos fossem
recompensados por aquele momento.
- Professora, acha que é possível ser uma Treinadora
Pokémon e, ao mesmo tempo… uma Modelo Pokémon?
Magnolia deixou escapar uma gargalhada.
- Isso são só títulos formais, querida Nessa. – falou. –
Tu és uma pessoa. E uma pessoa pode ser várias coisas ao mesmo tempo, não é?
Não deixes que ninguém te diga o contrário.
• • •
Empate. Aquele era o resultado da disputa entre as duas
criaturas que, naquele momento, se encontravam inconscientes sobre o solo da
zona Dappled Grove da Wild Area.
Nessa voltou o seu olhar para o treinador à sua frente
que, naquele momento, aproveitava para reunir informações do seu adversário
através do Pokédex.
- Chewtle, um Pokémon Water-Type. – falou o
aparelho. – Ataca os seus adversários usando o chifre no topo da cabeça e os
seus dentes em desenvolvimento.
- Pensava que eras mais fraco, Milo. – provocou a
rapariga, depois de retroceder o corpo do Water-Type para o interior da
sua Dive Ball.
- Vou levar isso como um elogio. – respondeu o rapaz,
depois de fazer o mesmo. – Foi um ótimo combate.
- Concordo contigo. Estava a precisar de treinar um
pouco.
- Talvez devêssemos fazê-lo novamente no futuro. –
lançou, segurando o chapéu na sua cabeça. – Ver quem fica mais forte.
- Estás a desafiar-me?
- Talvez.
- Sorte a tua. – Nessa sorriu. – Adoro um bom desafio.
• • •
O bater das ondas nas rochas da encosta de Hulbury
serviam como som de fundo para a sessão fotográfica que tinha lugar na pequena
praia junto do farol da cidade. Os raios de sol refletiam o brilho da pele de
Nessa, que vestia um elegante vestido de seda, produzido por um conceituado
artista de Galar.
Depois de tentar a sua sorte no mundo da moda, a jovem
começou, rapidamente, a ser selecionada para trabalhos de várias marcas, que
viam no seu rosto uma oportunidade de revolucionar o mundo da beleza, estética
e publicidade. No fundo, era como se Nessa representasse um ponto de viragem em
toda a sociedade, onde a mulher negra, pela primeira vez, era considerada
bonita e elegante, tal como qualquer outra. E isso era algo que orgulhava bastante
a jovem modelo.
Vários flashes de luz eram lançados na direção da
rapariga, que era direcionada e auxiliada por diretores e assistentes do
fotógrafo. No local, também se encontravam um designer, um estilista e uma
maquilhadora, todos prontos para realizar qualquer retoque, caso necessário.
Nessa parecia pousar de forma natural, deixando-se mover
pelos seus próprios instintos. O seu rosto reluzia com a maquilhagem brilhante
e colorida, ao mesmo tempo que os seus grandes olhos azuis pareciam penetrar a
objetiva da câmara, não deixando ninguém indiferente à sua elegância e
determinação. A jovem tinha uma forma única de se comunicar através de um
simples olhar, e o público parecia adorar essa sua característica.
Uma pequena criatura aproximou-se do local, observando
com atenção toda a produção fotográfica que ali acontecia. O Pokémon
assemelhava-se a um pequeno peixe de corpo redondo e azul com grandes olhos
amarelos, a mesma cor das suas duas antenas.
- O que é aquilo? – o fotógrafo, que antes se concentrava
na máquina fotográfica que segurava nas mãos, voltou-se para a criatura que
caminhava pelas rochas, aproximando-se cada vez mais do grupo de humanos.
- Uau. – soltou Nessa, virando-se para encontrar o
Pokémon. – Que fazes por aqui, amiguinho? – perguntou, de forma carinhosa. –
Podemos fazer uma pequena pausa? – perguntou.
O fotógrafo assentiu e a jovem, sem perder mais tempo,
retirou o Pokédex do interior dos seus pertences, pousados sobre o chão do
local, e apontou-o na direção da pequena criatura, que a encarava com
curiosidade.
- Chinchou, um Pokémon Water-Type e Electric-Type.
– falou o robô. – Comunica-se através das suas duas antenas elétricas, que
contém ambas energias positivas e negativas no seu interior.
A criatura aquática lançou-se na direção da modelo, que a
apanhou com os seus dois braços. As suas antenas começaram a brilhar, revelando
o entusiasmo que o Pokémon sentia no momento. Todos os restantes se
surpreenderam com o movimento de Chinchou, no entanto, o fotógrafo aproveitava
o momento inédito para fotografar o contacto entre a humana e o Pokémon.
- Ele parece gostar de ti! – exclamou, continuando a
captar fotografias.
- É estranho, mas... – Nessa fez uma pausa e virou-se
para a criatura. – Eu também gosto dele.
Os dois envolveram-se num riso contagiante, como se
fossem amigos de longa data. No entanto, por algum motivo desconhecido, os
laços entre os dois formavam-se de forma inusitada e quase automática. Era como
se Chinchou conseguisse sentir o carinho e o amor especial que Nessa nutria
pelos Water-Type. No fundo, sentia-se bem nos seus braços.
• • •
Nessa permanecia de pé, observando o reflexo do seu
próprio corpo no espelho à sua frente. A jovem vestia um uniforme que revelava
grande parte da sua pele morena. Usava um top branco com alguns detalhes
amarelos e azul-escuro e, nas pernas, vestia uns pequenos calções com as mesmas
características. Nos pés, as suas sandálias azuis faziam-se acompanhar por duas
pequenas boias às riscas nos tornozelos. O seu cabelo estava maior que nunca e,
naquele momento, era colorido por diferentes tons de azul.
Agora, finalmente, como Líder de Ginásio de Hulbury, a
jovem tinha a responsabilidade de representar e defender os Pokémon Water-Type.
Era um sonho alcançado que, por vezes, não parecia totalmente real. Mas ela
fazia de tudo para que o seu trabalho corresse da melhor maneira possível.
Afinal, fora por aquilo que ela lutara durante tantos anos a fio.
Os seus pensamentos desvaneceram-se quando o seu
assistente entrou no gabinete do Hulbury Stadium, onde a rapariga se encontrava
naquele exato momento.
- Menina Nessa. – chamou, espreitando pela porta
entreaberta. – O Presidente Rose chegou para a reunião.
- Ah. – soltou, sem grande excitação. Já esperava aquela
visita. – Podes mandá-lo entrar, por favor.
Depois de assentir as indicações da Líder de Ginásio, o
rapaz fechou a porta atrás de si em silêncio.
Nessa aproveitou o momento para caminhar pela divisão,
observando o ambiente à sua volta. As paredes do seu escritório eram azuis, com
vários posters de Pokémon aquáticos e capas de revista onde ela pousava dispostas
de forma aleatória. Algumas estantes serviam de arrumação para documentos e
arquivos importantes referentes à gerência do estádio. No centro da divisão,
uma secretária branca permanecia limpa e organizada. No fundo, a rapariga não
passava ali muito tempo, então era fácil manter tudo limpo. O sofá azul-escuro
presente na divisão era onde ela descansava durante os vários desafios que
enfrentava todos os dias.
A jovem sentou-se na cadeira atrás da sua secretária e,
logo a seguir, várias batidas na porta fizeram-se ouvir.
- Entre. – respondeu.
A figura de Rose entrou pelo local, vestindo o seu típico
fato cinzento. No rosto, segurava o seu sorriso charmoso, capaz de seduzir
qualquer pessoa. Nessa levantou-se, cumprimentando o homem, que logo se sentou
no sofá do outro lado da divisão.
- Isto é confortável. – murmurou ele, pondo-se à vontade
entre as várias almofadas que ali existiam.
- É aí mesmo que eu descanso depois de um dia inteiro de
batalhas. – riu a Líder de Ginásio.
- E como vai isso? – perguntou o homem.
- Bem, penso eu. – Nessa remexeu-se na cadeira. – Vários
Treinadores Pokémon continuam a desafiar-me. Uns conseguem vencer-me, outros
nem por isso. Acho que tem sido uma edição do Gym Challenge bastante normal.
- Achas que o teu desempenho é o melhor?
- Absolutamente. – a rapariga respondeu num tom sério. –
Faço o meu melhor para defender o meu título de Líder de Ginásio.
- Os resultados não corroboram as tuas afirmações, Nessa.
– Rose cruzou os braços à frente do peito, falando de uma forma séria e direta.
- Como assim?
- Perdeste mais combates do que aqueles que ganhaste. –
explicou rapidamente. – És um alvo fácil.
- Eu faço o meu melhor, Rose.
- Poderias fazer melhor ainda. – contrapôs.
- O que sugere?
- Sabes que dividir os teus dias entre duas profissões
diferentes não é a melhor opção, certo? É, no mínimo, desgastante.
- Eu consigo fazê-lo. – respondeu a rapariga. – Ser uma
Líder de Ginásio e uma Modelo Pokémon são os meus dois sonhos.
- São mundos completamente diferentes. – rematou o homem.
– Não podes estar presente no estádio se tiveres noutra ponta da região, ou até
mesmo do mundo, a tirar fotografias.
- É tudo uma questão de organização, Rose. E eu sou
suficientemente responsável para o fazer. Ser Líder de Ginásio é o meu sonho
desde criança. Nunca na minha vida iria abdicar deste privilégio enorme que
tenho. E o mundo da moda apareceu na minha vida numa altura onde eu pensava que
estava perdida. Ajudou-me bastante. E sinto que, ao ser uma Modelo Pokémon,
consigo ajudar outras adolescentes à volta de todo o mundo. – explicava, com um
olhar brilhante. – É assim que eu sou feliz.
- Sabes que os teus resultados se refletem nos números
finais do Gym Challenge, certo? Nessa. neste momento, tu ofereces mais despesas
do que lucros à Pokémon League de Galar.
A rapariga calou-se e engoliu em seco, enquanto sentia o
seu coração apertar por alguns momentos. Era como se as palavras que dissera anteriormente
não tivessem qualquer valor ou significado para o homem à sua frente.
Aparentemente, o mais importante para Rose eram, exclusivamente, os números e
os resultados.
- O que é que isso significa? – questionou ela.
- Colocas-me numa posição bastante complicada, Nessa. –
suspirou. – Não te posso retirar do cargo de Líder de Ginásio porque, a
verdade, é que a tua imagem convida vários jovens treinadores até Hulbury. Tu
és o rosto da nova geração. Mas, por outro lado, não posso ignorar os teus
resultados negativos neste último ano.
- O que sugere, Rose? – a rapariga encostou-se na
cadeira. A sua cabeça começava a rodar, nervosa e ansiosa com a resposta que
estava prestes a ouvir.
- Vou dar-te um ano para me provares que és merecedora do
cargo de Líder de Ginásio de Hulbury. – anunciou. – Se conseguires alcançar um
resultado positivo no final do próximo ano, então continuas a ser a
especialista Water-Type que todos adoram. Caso contrário, terei de te
mandar embora. Por muito que me custe. – admitiu.
- Para atingir esses resultados, tenho apenas de vencer
mais combates, é isso?
- Exatamente. – assentiu. – Talvez devas diminuir a tua
carga de trabalho no mundo da moda para que isso aconteça, de facto. Quer
dizer, se for mesmo isso que tu queiras, é claro.
- Não se preocupe com isso, Rose. – respondeu, num tom
sério. – Eu mesma irei lidar com este problema à minha maneira.
- Certo. – o homem assentiu e levantou-se do sofá,
caminhando até à secretária, onde a jovem permanecia. – Então, o que me dizes?
Temos acordo? – questionou, erguendo a palma da mão à sua frente.
Nessa observou o gesto do homem com atenção. Certamente,
não seria fácil conseguir conciliar os seus dois trabalhos como Líder de
Ginásio e Modelo Pokémon, da mesma maneira, de forma a atingir resultados
diferentes. No entanto, ela não estava disposta a abdicar de nenhuma das suas
carreiras em favor de outra. Nessa era completa daquela maneira. E, acima de
tudo, era uma jovem determinada e sem medo.
- Temos acordo. – murmurou, apertando a mão de Rose e
enfrentando os seus olhos.
• • •
A brisa do mar entrava no interior do quarto pela janela
que permanecia aberta. O local era iluminado com os raios de sol dourados do
fim do dia, fazendo com que toda a divisão se tornasse mais quente. No entanto,
o quarto tinha uma decoração bastante minimalista, sendo colorido em tons
branco e bege e tendo alguns elementos alusivos ao oceano espalhados por todo o
lado.
O corpo moreno e esguio de Nessa permanecia deitado sobre
a cama, coberto por um fino lençol branco de seda. Ao seu lado, o corpo musculado
de Milo permanecia descoberto. Os jovens entreolhavam-se em silêncio, depois de
um momento íntimo entre os dois.
- És a mulher mais linda do mundo, sabias? – murmurou o
rapaz.
- Oh, Milo. – suspirou. – Já disse para não fazeres isso.
– ela remexeu-se no meio do lençol.
- O quê? Elogiar-te?
- Complicar as coisas. – disse ela, passando a mão pelos
seus fios de cabelo coloridos. – Isto é só sexo. Nada de sentimentos.
Milo calou-se e engoliu em seco. Para ele, era difícil
não se apegar a uma rapariga tão bonita como Nessa. Para além disso, os dois
eram os verdadeiros confidentes um do outro. O rapaz sentia-se bem com ela. E
queria acreditar que ela sentia o mesmo por ele.
- Sempre admirei o teu espírito livre. – murmurou. –
Desde o primeiro dia que nos conhecemos e me desafiaste para um combate, eu
soube que íamos ser inseparáveis. Não importa o que aconteça.
- Lá estás tu outra vez. – bufou ela, fechando os olhos.
- Desculpa. – sussurrou. – Mas eu admiro-te tanto. És uma
Líder de Ginásio fenomenal. És uma Modelo Pokémon fantástica. És dona da tua
própria sexualidade. És dona da tua vida! – exclamou.
- Acho que nunca pensei realmente nisso. – riu ela,
ouvindo as palavras do jovem. – Mas às vezes não é fácil. Eu tento dar mesmo o
meu melhor todos os dias.
- Eu sei. – assentiu. – Mas eu acredito que tu vais
superar o desafio proposto pelo Rose para este novo ano.
- Por enquanto, os novos desafiantes não se têm mostrado
um problema.
- Há alguns interessantes. Recentemente, fui desafiado
por um trio de Treinadores Pokémon de Postwick. Se não me engano, um deles é
irmão do Leon.
- Espera… a Sonia já me falou desses miúdos! – exclamou.
– Se eles já passaram por Turffield, então Hulbury deve ser o próximo destino.
- Prepara-te. – avisou.
- Não te preocupes com isso. – suspirou. – Eu sei o que faço. – disse, num tom baixo, enquanto rebolava pelo colchão, aproximando o seu rosto ao do jovem, em forma de provocação. Milo fitou os olhos da sua amada e, mais uma vez, não resistiu ao jogo da sedução, beijando-a.
E aí Angie?!
ReplyDeleteE temos mais um capítulo contando um pouco sobre o líder de ginásio. Como o do Milo, o da Nessa foi muito bom. Gosto da ideia que você colocou dela representar ou provar a beleza dos negros. Na nossa sociedade, muitas vezes apenas um padrão é considerado como bonito e foi legal ver você implementar essa discussão na história.
Rose: "Você tem que me ajudar a te ajudar". Pois é, Nessa, vai ter que se esforçar a conseguir permanecer nas nas duas carreiras.
Mas pensando assim, não acho que vai ser muito difícil pra ela destruir uns treinadores iniciantes. Na minha concepção os líderes sempre se seguram.
Mas bem, agora é esperar pra ver quem vai conseguir vencer nossa diva! Até mais, Angie!
Alefu! Chegou o capítulo especial de Nessa!
DeleteEra mesmo essa a mensagem que eu gostaria de passar aqui, acho que é uma coisa que não se vê muito na franquia Pokémon, até a querida Nessa surgir nesta geração. Espero que tenha conseguido representar um grupo que, tantas vezes, é esquecido e transmitir a ideia de que somos todos bonitos à nossa maneira.
Aqui Rose desempenha o papel de homem heterossexual e irritante, não é? Aquele para quem a Nessa tem de "apresentar contas". No fundo, apesar da confiança e de todo o poderia da rapariga, ela continua a depender de um homem para ser bem sucedida, de uma certa maneira. E aí, como será que esse conflito vai terminar?
Continue desse lado!
Tal como o capitulo do Milo, outro capitulo que me surpreendeu e entrou nos meus favoritos. Desta vez com Nessa. Admito que nunca fui muito fã da personagem nos jogos, mas tu conseguiu jogar muito bem com ela aqui!
ReplyDeleteEu adorei trabalhar a personagem de Nessa por tudo o que ela representa! Mulher poderosa que enfrenta o patriarcado e a sociedade machista! Seguimos fortes na luta!
Delete