Posted by : Angie Dec 19, 2021


            O sol começava a esconder-se por trás dos grandes edifícios que formavam a cidade de Motostoke. O final da tarde pintava o céu de cor-de-rosa à medida que os operários das fábricas regressavam a casa, para junto das suas famílias. Ao mesmo tempo, novos jovens chegavam à cidade, enquanto outros a abandonavam, uns de cabeça baixa, outros com um sorrido radiante no rosto.

 

            Victor, Gloria e Hop encontravam-se no interior do Pokémon Center, junto do balcão de atendimento central. Aguardavam que a Enfermeira Joy os recebesse para depositarem os seus Pokémon na sala de repouso. No entanto, a agitação no local era maior do que o costume, tendo em conta a quantidade de Treinadores Pokémon que tinham participado no Gym Mission de Kabu.

 

            - Peço desculpa pela demora… - a mulher de cabelos rosa dizia de cabeça baixa, organizando o balcão de trabalho. – A afluência hoje está a ser muito grande. Oh! – exclamou, dando de caras com os rostos dos três jovens. – Victor, certo? – perguntou. – Ainda bem que chegas. O teu ovo Pokémon está a atingir o seu ponto de eclosão. – anunciou.

 

            - O-o quê?! – exclamou o rapaz, surpreso.

 

            - É teu, certo? Foste tu que deixaste um ovo Pokémon aos cuidados da nossa enfermaria quando chegaste à cidade.

 

            - Sim, sim. – confirmou o rapaz, sem jeito. – Mas, para ser sincero, esqueci-me um pouco disso, com toda a agitação de hoje. – confessou.

 

            - Bom, agora estás aqui, é o que interessa. Podem deixar os vossos Pokémon comigo e acompanhar-me até à enfermaria. Tenho a certeza de que o teu novo amigo está pronto para te receber. – sorriu.

 

            O gémeo assentiu, ainda surpreso. Os três amigos depositaram as suas Poké Balls junto da enfermeira e acompanharam-na por uma porta atrás do balcão de atendimento. Entraram numa sala espaçosa, de paredes azuis, cheias de macas onde Pokémon descansavam, sofás onde jovens dormitavam junto dos seus companheiros, e algumas incubadoras onde pequenas criaturas e alguns ovos permaneciam.

 

            - Aqui está ele. – afirmou o rapaz, aproximando-se de uma incubadora onde um ovo com apontamentos em roxo descansava.

 

            - Como podes verificar, as ranhuras na casca estão cada vez mais fortes e profundas. Seja qual for o Pokémon que estiver no seu interior, parece-me que está pronto para conhecer o mundo exterior. – explicou Joy, observando o objeto pelo vidro.

 

            - Estou tão ansiosa para descobrir que Pokémon será! – exclamou Gloria, recebendo, de imediato, um sinal da enfermeira para diminuir o tom de voz, de forma a não incomodar os outros pacientes ali presentes. – Ah, desculpem. – sussurrou.

 

            - Acho que conversar para o ovo será uma boa ideia. Aproxima-te dele, Victor. Transmite-lhe confiança. Afinal, serás o seu melhor amigo, não é? – incentivou. – Eu volto já, vou só atender aqueles jovens ali fora. – e, num passo acelerado, abandonou a enfermaria, voltando para o balcão de atendimento do estabelecimento.

 

            O gémeo fitou o pequeno objeto no interior da incubadora. Não o queria admitir, mas sentia-se um pouco desiludido e triste consigo mesmo por não ter dedicado mais tempo ao ovo que lhe fora oferecido depois do ataque da Team Yell ao Pokémon Nursery.

 

            - Então? Fala com ele! – murmurou Hop, olhando pelo vidro da incubadora. – Tira-o cá para fora. Toca-lhe. Sei lá.

 

            Victor assentiu e abriu a incubadora. Percebeu que a temperatura do ovo estava mais elevada do que o habitual. Talvez aquela fosse outra indicação de que a eclosão estava bastante próxima de acontecer. Colocou o pequeno objeto entre os dois braços, juntando-o ao seu peito e deixou que aquele calor tomasse conta do seu corpo. Aquela era uma sensação estranha e única. Era a primeira vez que sentia que, de facto, uma vida dependia de si.

 

            - Olá, amiguinho. Como estás aí dentro? – perguntou, num tom de voz baixo e meigo. – Aqui por fora está tudo bem. Hoje, eu e os meus amigos conquistámos mais uma Badge. Foi um autêntico trabalho de equipa. Espero poder contar com a tua ajuda no futuro. Tens aqui tantos amigos à tua espera para te conhecerem… e imensas histórias para viver e testemunhar. – sorriu.

 

            O núcleo interno do ovo remexeu-se por alguns segundos, provocando mais rachaduras na casca do objeto. Gloria foi obrigada a controlar-se para não começar a gritar de entusiasmo. Hop abriu os olhos com força, observando os movimentos do ovo com muita atenção.

 

            - Está quase! – exclamou.

 

            - Vem! Vem! Vem! – incentivou a rapariga.

 

            - Estamos todos à tua espera, amigo!

 

            As últimas palavras de Victor foram as necessárias para fazer com que a casca do ovo se abrisse finalmente. As ranhuras começavam a aumentar de tamanho à medida que a criatura no seu interior se remexia sem parar. A casca acabou por se quebrar e cair ao chão. A única coisa que permaneceu no colo do jovem rapaz foi um pequeno Pokémon.

 

            Era um lagarto bebé de cor roxa. As suas quatro patas eram curtas e gordas. Na cabeça, quatro saliências triangulares acompanhavam a marca em forma de raio enquanto a sua língua espreitava pela boca. A parte inferior do seu corpo demarcava-se por um tom mais claro, assemelhando-se a uma fralda.

 


            Ainda atónito com toda a situação, o jovem usou o Rotom Phone para procurar informações sobre o seu mais recente membro de equipa.

 

            - Toxel, um Pokémon Electric-Type e Poison-Type. – anunciou o robô. – Armazena veneno no seu interior. Manipula a sua composição química para produzir eletricidade. Apesar de fraca, a sua voltagem pode causa algum desconforto.

 

            - Mas que querido… - maravilhou-se Gloria, apertando a bochecha do Pokémon.

 

            - Tem um aspeto mesmo fixe. – sorriu Hop.

 

            - Olá Toxel. Eu sou o Victor, o teu Treinador Pokémon. – apresentou-se o rapaz.

 

            No entanto, o pequeno lagarto ainda não parecia pronto para fazer amizades. Deixou escapar um grunhido e das suas bochechas lançou um pequeno raio na direção dos três amigos, que se assustaram. Com a ajuda de Nuzzle, Toxel conseguiu soltar-se dos braços de Victor e correu pela sala de enfermaria, encontrando a saída. O Pokémon bebé corria de forma descompensada. Não pensava, nem sabia para onde ia. Só queria escapar daqueles humanos cheios de carinho para lhe oferecer. Já no salão principal do estabelecimento, acabou por chocar contra uma rapariga, que se surpreendeu por encontrar uma criatura tão pequena aos seus pés.

 

            - Mas, o que temos aqui? – afirmou, pegando no lagarto com as suas mãos. – Olá amigo, estás perdido?

 

            - Sonia!

 

            Victor, Gloria e Hop apareceram no local. Tinham um ar aterrorizado e preocupado e os seus cabelos estavam mais despenteados do que o normal.

 

            - Olá, outra vez. – cumprimentou a jovem. – Conhecem este pequenote?

 

            - É o Toxel. Acabou de nascer do meu ovo. – explicou o gémeo.

 

            - O teu ovo?! – exclamou, surpresa, diminuindo o nível de excitação logo a seguir. – Oh, certo. Mas o que faz ele aqui?

 

            - Acho que ele não gostou muito de mim. – Gloria riu de nervoso.

 

            - Atacou-nos com a sua eletricidade. – explicou o moreno.

 

            - Oh, que menino mau comportado! – brincou Sonia, entregando-o a Victor.

 

            Toxel tentou fugir de novo, mas o rapaz já estava pronto para qualquer eventualidade, usando luvas de borracha nas mãos. O pequeno lagarto acabou por desistir, encostando o seu rosto ao ombro do jovem e permanecendo em silêncio.

 

            - E o que fazes por aqui? – perguntou a gémea. – Parece que nos andas a perseguir.

 

            - Na verdade, andava mesmo à vossa procura. – admitiu. – Vi o vosso confronto com o Kabu e não pude deixar de sentir um orgulho enorme! Venho congratular-vos e convidar-vos para um jantar. Por minha conta!

 

            - Aceito! – exclamou Hop de imediato. – Desde que começámos a jornada que não comemos nada de jeito. Merecemos uma refeição deliciosa!

 

            - Tenho de concordar… - riu Gloria.

 

            - Está decidido então. – afirmou o terceiro elemento. – Vou só chamar a Enfermeira Joy para dar uma vista de olhos no Toxel. Preciso de descobrir se este comportamento é normal.

 

• • •

 

            A televisão do escritório de Leon permanecia ligada. Desta vez, um noticiário sensacionalista estava no ar. O jornalista que aparecia no enquadramento da câmara estava de costas voltadas para o Pokémon Center de Motostoke.

 

            - É aqui que estão hospedados os três Treinadores Pokémon que hoje venceram a Fire Badge de Kabu, um dos Líderes de Ginásio mais temidos de Galar. – anunciava. – Esperamos que, a qualquer momento, os jovens de Postwick atravessem aquelas portas para podermos falar sobre a experiência de vencer a disputa no Motostoke Stadium.

 

            O jovem de cabelos azuis levantou-se do sofá em sobressalto, pegando no comando do televisor e desligando o aparelho. Deixou escapar um longo suspiro e pegou na sua capa, colocando-a aos ombros.

 

            - Não te preocupes, maninho. Vou-te salvar desses imbecis.

 

• • •

 

            - Então, o que disse a Enfermeira Joy? – Sonia perguntou, quando Victor regressou junto do grupo no salão principal do Pokémon Center.

 

            - Explicou-me que este comportamento é normal em Pokémon recém-nascidos. Mas, devo permanecer atento e perceber se atitudes destas se repetem ou não. Pode mesmo tratar-se de um traço de personalidade de Toxel. Mas ainda é cedo para fazer esse prognóstico.

 

            - Ele acabou de nascer do ovo e já está a dar problemas. – comentou Hop.

 

            - Tenho a certeza que não é nada de mais. – tranquilizou Gloria. – Seja o que for, vamos ajudar-te no que pudermos. – sorriu.

 

            - Espero que sim. – o gémeo voltou-se para a ruiva. – Então e onde vamos jantar?

 

            - O Budew Drop Inn, onde ficámos hospedados durante a cerimónia de inauguração do Gym Challenge, tem um restaurante com boa reputação. Vamos até lá?

 

            O trio concordou e preparou-se para sair do interior do estabelecimento. Quando as portas se abriram, deram, de imediato, de caras com vários jornalistas, microfones, câmaras e flashes. Uma onda de perguntas inundou o local e os amigos ficaram sem reação. Sonia colocou-se à frente dos mais novos, tentando protegê-los de alguma maneira.

 

            - Por favor, privacidade! – exclamou, tapando a cara.

 

            - Qual é a sensação de vencer contra o Kabu?! – exclamou um jornalista.

 

            - Sentem-se preparados para desafiar os restantes Líderes de Ginásio de Galar?! – perguntou outro.

 

            - Quem são os vossos principais rivais no Gym Challenge? É claro que podem ser amigos, mas, no fundo, estão a competir uns contra os outros. – interveio mais um.

 

            Victor, Gloria e Hop entreolharam-se sem dizer uma única palavra. Nunca tinham imaginado que a vitória contra Kabu pudesse provocar toda aquela revolução mediática. Sonia permanecia à frente do grupo, mas as tentativas de tentar proteger os três amigos eram corrompidas pelas sucessivas intervenções dos repórteres presentes no local.

 

            A atenção do grupo voltou-se para o céu, quando um bater de asas se fez ouvir cada vez mais próximo. Um grande dragão encarnado pousou na rua em frente do Pokémon Center, revelando a figura do Campeão de Galar. Leon segurava uma expressão séria no rosto, observando toda aquele cenário que lhe era tão familiar. No entanto, não era por isso que o jovem o aceitava de bom agrado. Pelo contrário, repudiava por completo as tentativas de invasão de privacidade por parte dos meios de comunicação social.

 

            - Venham, depressa! – chamou, voltando-se para o grupo de amigos.

 

            O trio de Postwick precipitou-se na direção de Charizard. Leon ajudou cada um deles a subir para o dorso do Fire-Type. Todos, à exceção de Sonia, já se encontravam prontos para abandonar o local e fugir das questões impertinentes dos jornalistas.

 

            - Tu também, Sonia! – exclamou o jovem de cabelos azuis.

 

            A ruiva hesitou, fitando o rosto do rapaz, afastando depois o olhar para a figura de Charizard.

 

            - Eu fico bem. Já estou habituada a ser deixada para trás.

 

            - Oh, vá lá, Sonia. Ambos sabemos que também odeias este tipo de coisas.

 

            Leon esticou o braço e abriu a mão na direção da investigadora. Atrás da jovem, mais flashes faziam-se brilhar e novas perguntas ecoavam pelo local.

 

            - O Campeão de Galar, Leon, também está aqui presente! – exclamou um repórter.

 

            - Veio salvar o seu irmão, o pequeno Hop, como um verdadeiro herói? – perguntou outro.

 

            Sonia olhou por cima do ombro e deixou escapar um suspiro. A seguir, voltou-se para a frente e pegou a mão de Leon, subindo para o dorso de Charizard.

 

            - Que fique explicito que isto não significa nada. – afirmou, num tom sério.

 

            - Segurem-se! – exclamou Leon, antes de Charizard levantar voo.

 

            O bater de asas do dragão de fogo era demasiado forte. Rapidamente as pessoas nas ruas da cidade ganharam o tamanho de uma formiga, à medida que os diferentes edifícios iam ficando mais pequenos. No horizonte, os cinco jovens conseguiam observar o sol esconder-se atrás das montanhas, enquanto sobrevoavam a cidade operária.

 

            - Uau! – exclamou Hop. – Como é que nunca me tinhas levado a passear com o Charizard antes?

 

            Leon riu.

 

            - Qual é o vosso destino, passageiros? – perguntou.

 

            - Budew Drop Inn. – Sonia respondeu, num tom curto e seco.

 

            O jovem de cabelos compridos assentiu e transmitiu as indicações ao Flying-Type. A rota de Charizard começou a descer gradualmente, à medida que o percurso se aproximava do hotel localizado no noroeste de Motostoke. O Pokémon pousou as suas patas sobre o rooftop do edifício. De seguida, um a um, saltaram para o solo do telhado.

 

            - Estão entregues. – afirmou.

 

            - Obrigado pela ajuda! – exclamou Victor.

 

            - Foi mesmo a tempo. – concordou Gloria. – Como sabias onde estávamos?

 

            - Estavam a falar de vocês em todos os noticiários. – explicou. – Pensei que precisassem de um pequeno resgate.

 

            - E estavas certo. – assentiu Hop. – E se viesses jantar connosco? Também mereces. Afinal, foste tu que nos ofereceste os nossos Pokémon Inicial e nos salvaste agora.

 

            Leon voltou o olhar para Sonia, que tentava manter-se séria e minimamente simpática.

 

            - É como quiserem. – deu de ombros. – Vocês são as estrelas do dia de hoje. – e virou-se na direção da porta que dava acesso ao interior do edifício.

 

            Leon esboçou um pequeno sorriso. Depois de saltar do dorso de Charizard e pisar o solo do rooftop, lembrou-se que fora naquele mesmo local que vira pela última vez a sua ex-companheira de jornada. Deixou escapar um curto suspiro, afastando as memórias passadas da sua mente. Depois de retroceder o Fire-Type para o interior da Poké Ball, seguiu os restantes elementos do grupo para o interior do estabelecimento.

 

• • •

 

            Leon descia a escadaria de Motostoke, adentrando a infinita Wild Area sem qualquer hesitação. Os seus cabelos azuis já passavam dos ombros, enquanto os olhos dourados permaneciam brilhantes, como era habitual. Parecia apressado e ansioso.

 

            Atrás do jovem, seguia um Pokémon bípede e de corpo encarnado. Os olhos da criatura eram azuis e a barriga de cor creme. Os seus braços e pernas compridos terminavam com três garras afiadas. O seu focinho comprido fazia destacar a saliência no topo da cabeça. No final da cauda encarnada, uma chama de tamanho mediano ardia.

 


            - Esperem por mim!

 

            Sonia corria atrás dos dois. O seu cabelo ruivo estava despenteado e levava uma expressão cansada no rosto.

 

            - Depressa, Sonia! Quero mesmo mostrar-te isto! – exclamou o rapaz.

 

            - Podes ter calma, Leon? – a jovem parou a meio da escadaria, apoiando as mãos nas suas pernas enquanto tentava controlar a respiração. – Ainda há minutos venceste o Raihan numa batalha, o teu Pokémon Inicial acabou de evoluir e agora o Raihan está chateado!

 

            - Ele apenas tem mau perder. – respondeu. – Não consegue aceitar que os meus Pokémon são mais forte do que aquela tartaruga aquática que ele tem.

 

            - Mas nós somos companheiros de jornada! – contrapôs. – É suposto não ficar ninguém para trás. Podias, ao menos, tentar falar com ele e resolver as coisas…

 

            - Podemos voltar depois de te mostrar isto. Vá lá! É importante para mim! – suplicou.

 

            Sonia suspirou.

 

            - Primeiro, deixa-me registar as novas informações do Charmeleon no Pokédex. Tenho a certeza de que a minha avó vai ficar agradecida.

 

            A jovem puxou da sua mala a tiracolo e retirou um instrumento eletrónico do seu interior, apontando-o à criatura que permanecia no meio dos dois humanos.

 

            - Charmeleon, um Pokémon Fire-Type e a forma evoluída de Charmander. – falou o robô. – Tem uma natureza bárbara. Durante as batalhas, chicoteia os adversários com a sua cauda e arranha-os com as suas presas afiadas. Quando fica agitado, é capaz de incendiar tudo ao seu redor.

 

            - Potente! – exclamou Leon, pouco surpreendido com as informações apresentadas.

 

            - Tens de ter cuidado com tanta força nas tuas mãos. – murmurou a amiga, guardando o aparelho.

 

            - Eu sei, tenho tudo sob controlo. – sorriu. – Enfim, estás pronta para continuar? Temos uma caminhada pela frente!

 

            - Mas, afinal, onde é que me queres levar?

 

• • •

 

            O restaurante do Budew Drop Inn era decorado em tons escarlate e ciano, com alguns apontamentos em dourado. O salão, grande e espaçoso, fornecia lugar a várias mesas redondas com serviços de loiça que reluziam à luz dos enormes candelabros presos no teto. As cadeiras almofadadas tornavam o espaço mais acolhedor e reconfortante.

 

            Os empregados do estabelecimento caminhavam de um lado para o outro, numa coreografia que parecia previamente estudada. O local era frequentado por adultos com vestes formais e rostos sérios que conversavam num tom de secretismo. Em contraste, o grupo de cinco jovens, que usavam roupas comuns, conversava alegremente sobre temas aleatórios.

 

            Depois de fazerem os seus pedidos, tendo em conta os preços mais acessíveis, cada um devorou o seu prato com o máximo prazer. Victor e Gloria deliciavam-se com um Magikarp assado e batatas fritas, uma refeição que os fazia lembrar os pratos cozinhados pela sua mãe, em Postwick. Hop e Leon devoravam uma linguiça de Pignite, acompanhado por puré de batata e molho de cebola. Sonia, por sua vez, contentava-se com um simples prato vegetariano, cheio de legumes e hortaliças cultivados nas quintas de Turffield.

 

            Enquanto os rapazes conversavam animadamente, as duas jovens permaneciam mais calmas, conversando serenamente sobre os episódios vividos ao longo das últimas semanas. Os dois mais velhos não tinham voltado a trocar nenhuma palavra desde que estavam sentados à mesa. Vez ou outra, Leon lançava um olhar curioso a Sonia, mas a ruiva ignorava completamente as tentativas de contacto do ex-companheiro, tentando evitar causar mau ambiente.

 

            - Não acredito que tens um Toxel. Isso é mesmo fixe. – afirmava Leon.

 

            - Vou ter de o educar, tal como uma criança. – riu Victor, colocando uma espinha do peixe na borda do prato.

 

            - Com certeza vai ser um bom menino, tal como tu. – Gloria fez uma careta.

 

            - Mas o facto de estarem aqui hoje, mais unidos do que nunca, é ótimo. – apontou a mais velha.

 

            - Cada um com as suas duas Badges. – Hop sorriu.

 

            - Eu acho que deviam tentar conquistar as três Badges iniciais. Certamente, vos daria uma maior experiência e preparação para os futuros desafios. – insistiu Leon. – Já para nem falar de que, quanto mais poder demonstrarem, mais patrocinadores conseguirão arranjar no futuro. E com toda a exposição mediática que tiveram hoje…

 

            - Acho que tivemos uma boa dose de experiências por agora. – a gémea falou num tom melancólico, recordando-se de vários momentos passados. – Entre ginásios, encontros aleatórios com a Team Yell, novas amizades… crescemos muito. E vamos continuar a melhorar enquanto equipa. – garantiu.

 

            - Sim! – concordou Sonia. – Nunca deixem que essa união se apague.

 

            - Estes gémeos nunca se vão ver livres de mim! – brincou o moreno.

 

            - Eu acho que é importante mantermos uma relação saudável e equilibrada entre todos. É normal haver alguma disputa, mas sabemos que, no final do dia, estamos lá uns para os outros. – falou Victor. – Até mesmo os nossos Pokémon são companheiros.

 

            Fez-se um longo silêncio depois das palavras do gémeo. Houve uma rápida, e constrangedora, troca de olhares entre Leon e Sonia. O jovem remexeu nos cabelos azuis, enquanto a ruiva baixou o olhar para o seu prato, remexendo na comida. O tema da conversa não agradava nenhum dos dois.

 

            - Espero que nos mantenhamos assim. – murmurou Gloria. – Mas, para ser franca, vocês os dois não são um grande exemplo para isso. Com que então, ex-companheiros de jornada que não dirigem a palavra um ao outro e mal se olham durante um jantar entre amigos. – atirou, sem qualquer hesitação. – Espero que não sejamos nós no futuro.

 

            Victor deu uma cotovelada na irmã, que protestou em resposta. Hop encheu a boca de comida, Leon engoliu em seco e Sonia voltou o olhar para a amiga ao seu lado. O seu rosto estava mais vermelho do que o costume.

 

            - Não faças isso. – murmurou.

 

            - Acho que está na altura de resolverem as coisas, não? Nós os três gostamos imenso de vocês. Podíamos até passar mais tempo juntos, mas torna-se difícil quando não se podem ver um ao outro. – a gémea encolheu os ombros. – Penso que esta seria uma boa oportunidade para colocarem os vossos mal-entendidos atrás das costas.

 

            - Eu gosto de ver a Sonia. – respondeu Leon, arqueando uma sobrancelha.

 

            - Não é assim tão simples, Gloria. – riposta a ruiva, ignorando as palavras do jovem de cabelo de azul.

 

            - Eu não queria causar mau ambiente, nem dar razão à Gloria, mas o que ela está a dizer é verdade. – concordou Hop. – Sonia, eu sei que fui um pouco duro contigo no início, mas aprendi a respeitar-te, apesar das desavenças com o meu irmão. Talvez esteja na hora de amadureceres e resolveres esse problema.

 

            A ruiva petrificou. No rosto, carregava uma expressão séria. Posou os talheres no prato e cruzou os braços à frente do peito, em posição de defesa.

 

            - O problema que eu tenho por resolver é mais grave do que qualquer um de vocês sequer imagina. – disse, numa voz grave. – Nenhum de vocês faz ideia do que aconteceu entre mim e o Leon, portanto, agradecia que não se intrometessem.

 

            - Eles estavam apenas a tentar ajudar… - murmurou Victor, tentando apaziguar a tensão do momento.

 

            - Se querem saber o que aconteceu, então perguntem ao incrível Leon. – ironizou a ruiva. – Ele é o fantástico Campeão de Galar que todos respeitam. No entanto, ninguém o conhece realmente.

 

            Agora era o rosto de Leon que se avermelhava. Pequenas gotas de suor começavam a formar-se no topo da sua testa morena.

 

            - O que queres dizer com isso?! – exclamou Hop, do outro lado da mesa, saindo em defesa do seu irmão.

 

            - Pergunta-lhe diretamente. Já alguma vez lhe perguntaste o que aconteceu, sequer? Porque é que assumem logo que fui eu que causei o problema? – defendeu-se Sonia.

 

            Os olhares dos três desafiantes voltaram-se para Leon, que agora tinha o rosto trancado.

 

            - Não Sonia. Isso não vai acontecer. – disse numa voz rouca.

 

            - O que tens para esconder, Leon? – provocou a outra.

 

            - Eu não vou contar absolutamente nada.

 

            - Devias ter vergonha na cara. – cuspiu, num tom de grande desprezo. – Andas por aí como se fosses um grande exemplo, quando na verdade…

 

            - Chega! – Hop bateu com os punhos na mesa, provocando um grande ruido no local. Os outros clientes do restaurante voltaram-se para o grupo, desagradados com a situação. – Eu exijo saber, de uma vez por todas, o que aconteceu há cinco anos atrás! Chega de segredos! – falava, alternando o olhar entre Leon e Sonia. – Quem vai falar?

 

            - Isso é algo que o teu irmão te deve contar. Eu não o vou fazer por ele. Já fiz muito. Demasiado, até. – disse, num tom decidido.

 

            A atenção de Hop voltou-se para Leon. O Campeão de Galar sentiu o olhar do seu irmão mais novo cortar-lhe a respiração. Receava a sua reação àquilo que ele tanto escondia. No fundo, sabia que o que fizera fora errado. Mas não estava pronto para o admitir em voz alta. Muito menos, ao seu pequeno irmão, uma das pessoas que o mais idolatrava desde sempre. O seu principal admirador.

 

            - Hop… eu não… eu não consigo… - gaguejou.

 

            - Leon, eu sou o teu irmão. Já não sou nenhuma criança. Tenho o direito de saber aquilo que te causa desconforto, acho eu. Talvez te possa ajudar.

 

            - Não é isso…

 

            - Seja o que for. – o mais novo aclarou a voz. – Eu vou estar aqui para te ouvir e apoiar. – garantiu. – Deixa-me ajudar-te a resolver isto.

 

            Leon esfregou as mãos na cara e despois deixou escapar um longo suspiro. Talvez aquele fosse, finalmente, o momento de revelar toda a verdade sobre aquele assunto que tanto o atormentava, por mais que ele lutasse para que tal não acontecesse.

 

            - Aqui não. – murmurou, por fim. – Vamos para outro sítio.

 

• • •

 

            North Lake Miloch localizava-se no noroeste da região sul da Wild Area. Leon e Sonia, acompanhados por Charmeleon, subiam uma grande colina daquela zona. Ali existiam várias árvores e arbustos de grande porte. Era uma zona que servia de habitat a várias espécies Pokémon.

 

            O jovem caminhava de um lado para o outro, como se estivesse à procura de algo. Alguns metros atrás, Sonia observava a bela paisagem do topo da colina. Conseguia identificar alguns locais da Wild Area por onde já tinha passado com os seus companheiros de jornada. No entanto, aquele sítio era inteiramente novo. E a ruiva não fazia ideia do que o amigo lhe queria mostrar.

 

            - Então… é aqui? – perguntou num tom confuso.

 

            - Eu acho que sim… pelo menos, era. – respondeu.

 

            - Mas, do que estás a falar, afinal?

 

            - Sonia, eu acho que se te contar apenas, tu não vais acreditar em mim. Mas era uma coisa mesmo… magnífica. – os olhos dourados voltaram a brilhar.

 

            - Conta-me! – pediu.

 

            Leon deu uma rápida vista de olhos à sua volta, certificando-se que não havia ali mais ninguém. Não podia correr o risco de mais gente o ouvir dizer aquelas coisas. Sonia era das poucas pessoas em quem ele confiava realmente.

 

            - Uma vez, no início da nossa viagem, eu e o Charmander viemos treinar para a Wild Area. – começou. – E conhecemos um menino.

 

            - O que é que isso tem de extraordinário?

 

            - Tu não percebes… o menino vivia com Pokémon. A família dele era um grupo de Pokémon selvagens. – ele fez uma pequena pausa. – E o mais chocante é que ele conseguia falar com os Pokémon.

 

            - O quê?! – exclamou. – Leon, isso não é possível!

 

            - É pois! Eu vi com os meus próprios olhos. Estive reunido com a sua família aqui, nesta colina, onde eles tinham a sua casa numa árvore. – descreveu.

 

            - Mas, como? Uma criança a viver com Pokémon? Na Wild Area? Isso não é possível!

 

            - É sim. Acredita em mim.

 

            - Porque é que me estás a dizer isto agora? Podias ter contado logo depois de presenciares isso tudo.

 

            - Eu não iria andar por aí a contar que conheci um miúdo na Wild Area que vive e fala com Pokémon. – explicou. – E, para além disso, ele próprio pediu-me para eu não contar…

 

            - Então ele não queria que soubessem. – apontou a ruiva, pensativa. – Bom, eu estou curiosa agora. Onde fica essa tal casa?

 

            - Eu pensava que era aqui… - Leon olhou em volta. – Espera. O que é aquilo?

 

            Alguns metros à frente, uma pilha de destroços amontoados destoava da paisagem verdejante do resto do local. Leon precipitou-se até ao local, sendo acompanhado por Sonia. Charmeleon seguiu os humanos, sempre com um ar meio desconfiado no rosto.

 

            - O que é isto?

 

            Pedaços de madeira de variados tamanhos sobrepunham-se de forma aleatória no meio daquele local. Outros materiais, como folhas, flores, vidros, ou até mesmo tecidos, podiam ser observados no meio daquela confusão. No entanto, nenhum dos dois jovens esperava encontrar o que viu a seguir.

 

            - N-não… - gaguejou Leon, com os seus olhos arregalados.

 

            Sonia voltou o seu olhar na direção para onde o rapaz apontava. Foi então que deu de caras com um pequeno corpo no meio de todos os destroços. Parecia um pequeno rapaz. As suas roupas estavam sujas e ensanguentadas. A sua pele estava roxa. Os olhos, no entanto, permaneciam abertos, penetrando o céu sem vida.

 

            - L-Leon… aquele é…

 

            - O Wild. – vociferou. – Ele está… morto.

 

• • •

 

            O grupo regressou ao Pokémon Center de Motostoke, novamente com a ajuda da boleia de Charizard. Naquele momento, encontravam-se no quarto alugado pelo trio de desafiantes. Victor, Gloria e Hop estavam sentados na cama. Leon, permanecia de pé, relatando o sucedido enquanto caminhava de forma agitada pela divisão. Sonia, por sua vez, sentava-se no pequeno sofá ao canto do quarto.

 

            - O quê?! – Hop parecia atordoado.

 

            - Vocês encontraram o corpo daquele miúdo que apareceu nas notícias… - murmurou Victor.

 

            - Mas, ele falava mesmo com Pokémon?! – Gloria estava incrédula com toda a história.

 

            - Bom, nós já sabemos que ele morreu, então vocês não o conseguiram ajudar. Mas chamaram as autoridades, certo? – questionou o gémeo, com o cérebro a funcionar à velocidade da luz.

 

            Sonia não respondeu. Permanecia apática e em silêncio, enquanto o seu olhar fitava o chão da divisão.

 

            - Não exatamente… - murmurou o Campeão de Galar.

 

            - Leon, tu encontraste uma criança morta! – exclamou o mais novo. – O que é que fizeram depois?

 

• • •

 

            Os dois jovens companheiros ficaram petrificados, de frente para aquele cenário de destruição. As mãos de Leon tremiam. O rapaz sentia o nervosismo e a ansiedade tomarem conta do seu corpo como nunca acontecera antes. Nem mesmo quando estava prestes a desafiar um Líder de Ginásio. Ver um rosto conhecido sem vida, daquela maneira tão desumana, era terrível para ele. Sonia, ao seu lado, deixava que os seus olhos se enchessem de água que rolava pelas bochechas em forma de lágrimas. Apesar de não ter qualquer tipo de relação com aquela criança, não conseguia deixar de imaginar que uma vida fora totalmente desperdiçada.

 

            - O que achas que aconteceu? Um acidente? Uma disputa?

 

            - Não sei. – o rapaz respondeu vagamente. O seu olhar parecia perdido.

 

            - Nós temos que chamar alguém. – murmurou a rapariga, tentando controlar o choro. – Precisamos de ajuda. – Leon permanecia em silêncio. O seu olhar parecia perdido no corpo sem vida de Wild. – Talvez a minha avó nos possa ajudar, ou até mesmo o Rose.

 

            - Não. – foi a única coisa que o rapaz de cabelos azuis conseguiu dizer, sem afastar o olhar.

 

            - O quê?

 

            - Não vamos chamar ninguém. Não podemos.

 

            - Não podemos?! – a ruiva repetiu, agora num tom de voz mais histérico do que o habitual, fazendo o rapaz virar o olhar para ela. – Nós devemos! Não o podemos deixar aqui sozinho.

 

            - Que diferença faz? Olha para ele. Já está morto.

 

            Aquelas palavras tão diretas e frias quebraram o coração de Sonia. Ela não queria acreditar que o seu melhor amigo, o seu companheiro de viagem, acabara de dizer uma crueldade daquelas.

 

            - O que é que tu queres dizer com isso?! – balbuciou, com os olhos novamente em água.

 

            - Vamos embora. Vamos fazer de conta que não vimos nada, que nem sequer estivemos aqui.

 

            - Não, não podemos… ele é uma criança! – gritou.

 

            - Era. – corrigiu. – Nós ainda somos alguém. Temos um futuro pela frente. Ele não.

 

            - Não, Leon, eu não acredito no que tu estás a dizer, por favor… pensa bem. Não o podemos abandonar aqui.

 

            - Eu não estou disposto a prejudicar a minha jornada e a minha carreira enquanto Treinador Pokémon por causa de um miúdo que nem sequer tinha uma família verdadeira! – explodiu, deixando a rapariga ainda mais chocada. – Não posso. Pensa no que seria se isto se tornasse publico, Sonia. A tua avó iria sofrer. Os meus pais, o meu irmão. O próprio Rose que nos está a patrocinar… todo o esforço até agora iria cair por terra

 

            - É só sobre isso que tu te importas?! A fama e os patrocínios?! – ela levantou os braços no ar, completamente irritada com aquilo que estava a ouvir.

 

            - É o meu futuro. – afirmou, com um olhar decidido. – E o teu também, se quiseres.

 

            Fez-se uma longa pausa de silêncio. Charmeleon, que ainda se encontrava no local, observava a discussão dos dois amigos com muita atenção. Ao fundo, a brisa do vento fazia com que os arbustos verdejantes se remexessem e os ramos das árvores se abanassem.

 

            - Não. – vociferou Sonia. – Recusou-me a fazer seja o que for contigo se é essa a tua decisão. – concluiu, num tom sério.

 

            - Mas…

 

            - Leon, não! – exclamou, numa voz decidida. – Recuso-me a acreditar que, para ser bem-sucedida, tenho de passar por cima seja de quem for! Não preciso de ser cúmplice da morte de uma criança inocente para ser feliz.

 

            - Sonia, pensa na polémica que isto vai ser… “Dois jovens encontram uma criança morta na Wild Area”. Essa será a manchete de todos os noticiários. Vai ser de loucos! – exclamou.

 

            - Se o Gym Challenge e toda a infraestrutura da Pokémon League de Galar está assente nessas condições fúteis e sem significado, então eu não quero fazer parte disso.

 

            - Não podes estar a falar a sério. – ripostou o outro.

 

            - Posso sim. Eu nem sequer consegui vencer um único Gym Challenge até agora. Não é como se perdesse grande coisa.

 

            - Eu é que te perco a ti.

 

            Sonia não respondeu. Leon baixou a cabeça, escondendo o seu rosto vermelho, e deu alguns passos na direção da rapariga, aproximando-se dela.

 

            - Não. – disse, afastando-se. – Nem penses nisso.

 

            - Sonia, vá lá! Tu sabes que eu gosto de ti!

 

            O olhar da jovem concentrou-se nos olhos dourados do rapaz. Não conseguia acreditar que ele decidira dizer aquilo naquele exato momento. Com uma criança morta mesmo ao seu lado.

 

            - Eu não quero ter nada a ver contigo, Leon. As tuas prioridades são diferentes das minhas. Não. Chega.

 

            O rapaz engoliu em seco. O seu rosto ficou ainda mais vermelho. Sentia as suas veias fervelharem, ao mesmo tempo que a vergonha e o arrependimento começavam a ganhar espaço no seu pensamento consciente. Voltou o seu olhar para o corpo sem vida de Wild, um amigo que ele esperava encontrar, mas os planos saíram-lhe ao contrário. Depois, fitou o rosto de Sonia. Os seus olhos estavam molhados e as lágrimas continuavam a rolar pelas bochechas. No entanto, ela continuava em silêncio e com um ar hesitante. Como se ainda estivesse à espera de que o seu amigo voltasse atrás e se arrependesse de tudo o que dissera anteriormente. No fundo, Leon também desejava que pudesse voltar atrás no tempo e esquecer a ideia ridícula de apresentar Sonia a Wild e à sua família. No entanto, era tarde de mais para mudar fosse o que fosse.

 

            - Certo. – murmurou, por fim, recompondo a mochila nas suas costas. – Vamos embora. – disse, voltando-se para Charmeleon. – Estamos por nossa conta.

 

            E virou costas a Sonia, que abriu a boca em estado de choque. O Fire-Type fitou o rosto da rapariga por alguns segundos. Parecia triste por abandonar a amiga. Mas ele era totalmente leal ao seu Treinador Pokémon. Sonia assentiu, sentindo o seu coração aquecer com a pequena demonstração de afeto de Charmeleon. A seguir, a criatura virou costas e correu para alcançar a figura do rapaz de cabelos azuis que, num instante, desapareceu pelos caminhos infinitos da Wild Area.

 

            Sonia, finalmente sozinha, deixou-se cair no chão de terra. Ignorou os seus joelhos sujos e deixou que as lágrimas rolassem. Sentia a tristeza dentro de si. A desilusão, a solidão e a incompreensão também começavam a ganhar forma, tornando o seu coração cada vez mais apertado. Os seus olhos voltaram a focar-se no corpo de Wild. Por mais negatividade que sentisse, pelo menos, ainda podia fazer alguma coisa para ajudar aquele pobre ser humano.

 

• • •

 

            Victor, Gloria e Hop estavam de queixo caído. Não conseguiam acreditar nas palavras que os mais velhos acabavam de relatar. Parecia tudo tão surreal. Os dois gémeos entreolhavam-se em silêncio, temendo o impacto que aquelas informações teriam nas suas vidas. Ao seu lado, o moreno permanecia de cara trancada, encarando o seu irmão mais velho com um olhar distante.

 

            - Como conseguiste fazer isso? – perguntou finalmente, numa voz rouca.

 

            - Hop, eu não sabia o que fazer… eu entrei em pânico! – choramingou o mais velho.

 

            - Em pânico estava o Wild! – exclamou. – Sozinho e abandonado. Sem proteção, sem família. E um amigo que lhe virou as costas quando ele mais precisava!

 

            - Eu arrependo-me todos os dias do que fiz! Eu sei que foi errado! – suplicou. – Eu não deveria ter deixado a Sonia sozinha, não devia.

 

            Hop baixou o olhar para o chão. As palavras que saiam da boca do seu irmão começavam a soar cada vez mais ridículas e sem fundamento. O sentimento de desilusão começava a tomar conta do seu corpo.

 

            - Estás bem, amigo? – Victor sussurrou ao seu ouvido, mas o moreno não respondeu.

 

            - Espera… - murmurou Gloria. – Se foste um cobarde e deixaste a Sonia sozinha, então o que aconteceu depois? – perguntou, fazendo com que todos os olhares dos presentes se voltassem para a ruiva.

 

• • •

 

            Depois de se recompor e organizar, minimamente, a sua mente, Sonia levantou-se do chão, limpando os joelhos sujos de terra. Deixou escapar um longo suspirou, à medida que ganhava coragem para fazer o que era necessário. Levou a mão à sua carteira e lançou uma Poké Ball ao ar.

 

            O brilho da cápsula revelou um Pokémon quadrupede de pele esverdeada com várias manchas escuras. Nas suas costas, um bulbo verde marcava presença, germinando uma planta no seu interior. Os olhos vermelhos da criatura observavam a jovem ruiva atentamente, ao mesmo tempo que o Pokémon soltava grunhidos da sua grande boca.

 


            - Bulbasaur, preciso da tua ajuda… - murmurou, baixando-se para cumprimentar o companheiro. – Eu sei que não participamos em muitas batalhas, mas, por favor…

 

            Sonia retirou o Pokédex do interior da sua mala. Como, habitualmente, não necessitava da ajuda do seu Pokémon Inicial, ainda desconhecia grande parte dos seus atributos.

 

            - Bulbasaur, o Pokémon Inicial Grass-Type e Poison-Type da região de Kanto. – informou o robô. – A semente nas suas costas acompanha o seu crescimento. O Pokémon utiliza os nutrientes desta semente para gerar energia.

 

            - Muito bem… - murmurou, analisando as várias informações que iam surgindo na tela. – Será que podes usar Vine Whip para afastar estes destroços, por favor?

 

            O Pokémon assentiu. Duas lianas surgiram das suas costas e, em simultâneo, pegaram em vários destroços caídos no local, afastando-os para os lados. Quando o caminho até ao corpo de Wild ficou livre, a jovem treinadora ordenou que o Pokémon parasse para descansar.

 

            Depois de ganhar coragem, caminhou calmamente pelo trilho, agora mais livre, e aproximou-se do corpo sem vida do rapaz. Agora de mais perto, conseguia distinguir o seu tom de pele moreno por de trás da cor roxa e sem vida que o consumia. O seu cabelo louro estava despenteado, enquanto os olhos esverdeados insistiam em encarar o céu.

 

            A ruiva baixou-se e passou a mão pelo rosto do menino, cerrando as pálpebras da criança. Talvez, daquela maneira, pudesse descansar mais tranquilamente. Mais a baixo, no seu peito, uma garra de dragão penetrava o seu corpo. Aquela fora, sem qualquer dúvida, a causa da sua morte e talvez até de toda aquela destruição à sua volta.

 

            Sonia olhou em seu redor, certificando-se que permanecia sozinha. Depois, levou a sua mão até à enorme presa de dragão e retirou uma parte daquele objeto afiado. Uma espécie de amostra, que esperava poder tornar-se útil no futuro.

 

            O olhar da rapariga desceu mais alguns centímetros, parando junto dos calções pretos que o menino vestia. Num dos seus bolsos, espreitavam vários pergaminhos de papel. A jovem pegou nas várias cartas escritas e então reparou que a maior parte delas estavam ensopadas em água, o que dificultava, claramente, a sua leitura. No entanto, ela sabia que poderia usar os materiais do laboratório da sua avó para tentar desvendar aquele mistério.

 

            Depois de confirmar que não havia mais nenhuma pista no local, a jovem afastou-se do cadáver. Aproximou-se da figura de Balbusaur, que a observava atentamente, e voltou a retirar o seu Rotom Phone do interior da mala. Limpou as suas bochechas molhadas e recompôs-se antes de estabelecer a ligação.

 

            - Sonia! Querida, como estás? – a voz doce de Magnolia fez-se ouvir do outro lado, ao mesmo tempo que o sorriso da avó se formava na tela do aparelho eletrónico.

 

            A ruiva, no entanto, não conseguiu esconder o medo e a tristeza que sentia. As lágrimas voltaram a rolar pelo seu rosto e as palavras saíram no meio de um choro descontrolado.

 

            - Avó… por favor… - soluçou. – Preciso da tua ajuda.

 

• • •

 

            - Eu contei-lhe apenas que tinha encontrado o corpo do Wild, por mero acaso. Não referi que estiveste presente. – explicou. – A equipa policial e médica de Motostoke apareceu de imediato. A minha avó também chegou, entretanto. Fizeram-me várias questões, é claro. Mas não passou disso. O caso nunca foi resolvido.

 

            - Mas, como é que nunca foste associada ao caso através dos media? – perguntou Victor.

 

            - A minha avó pediu para que mantivessem essa informação em sigilo. – explicou.

 

            - Então, ainda não se sabe realmente o que aconteceu ao Wild, é isso? – questionou a gémea.

 

            - Infelizmente, sim. Nem sequer se sabe e identidade dos seus pais biológicos. Talvez isso fosse uma ajuda.

 

            - E essa garra de dragão que falaste. Alguma pista sobre o Pokémon a quem possa pertencer esse objeto? – o rapaz voltou a perguntar.

 

            - Não. É muito complicado este tipo de investigação. Principalmente, quando é tudo feito de forma tão secreta. Pelo menos, sabemos que pertence a um Dragon-Type.

 

            - Então e os manuscritos que encontraste? Conseguiste identificar alguma coisa?

 

            - Sim. – suspirou. – Era uma carta de despedida e de agradecimento do Wild para toda a sua família Pokémon. Ele e o seu melhor amigo, um Bunnelby chamado Peter, iam sair numa jornada juntos. – a ruiva sorriu, com os olhos molhados. – Conseguem imaginar no potencial que um rapaz como ele teria? Uma pessoa capaz de comunicar com Pokémon… seria um verdadeiro fenómeno.

 

            - Fico contente que ele tenha considerado a minha sugestão. – murmurou Leon, fazendo com que todos os outros se calassem.

 

            - Talvez ele merecesse mais o título de Campeão de Galar do que tu. – cuspiu Hop, num tom áspero.

 

            - Talvez tenhas razão. – assentiu. – Mas já não havia nada que nós pudéssemos fazer.

 

            - Havia imensa coisa que tu deverias ter feito, Leon. – o moreno levantou-se da cama, ficando frente a frente ao irmão. O seu rosto parecia cada vez mais vermelho, à medida que a fúria tomava conta do seu corpo. – Primeiro, deverias ser mais humilde. Sabes o que aconteceu quando eu e os pais ouvimos esta notícia, em Postwick? Nós pensávamos que fosses tu! – exclamou. – Sabíamos o quanto tu adoravas treinar pela Wild Area. Tentámos contactar-te, mas não atendias. Uma, duas, três, dez, mil vezes! Estava a bater tudo certo. Mas depois, lá tiveste a decência de nos contactar.

 

            - Desculpa, eu…

 

            - Não! – cortou. – Tu nunca vais sentir o medo que eu senti, enquanto esperava que tu desses algum sinal de vida. E, no entanto, tu tinhas encontrado e abandonado a pobre criança. O teu amigo Wild. Tu não és verdadeiro amigo de ninguém! – gritou. – Destruíste a tua amizade com o Raihan por brigas competitivas. Perdeste a Sonia para conseguires dar voz ao teu ego. E agora perdeste-me a mim.

 

            Hop deu meia-volta e caminhou na direção dos seus pertences, colocando a mochila às costas.

 

            - Não, Hop, vá lá. – a voz de Leon estava cada vez mais fraca. – Tu és o meu irmãozinho.

 

            - E tu eras o meu herói! – gritou. – A pessoa que mais me inspirava. O irmão que eu sempre idolatrei e admirei. Sabes que cheguei a pensar em desistir do Gym Challenge quando perdi contra o Milo? Senti-me fraco, impotente, uma nódoa negra. Como se pudesse ser uma vergonha para ti eu ser teu irmão. Olha quem é a vergonha da família agora! Oh… se os pais soubessem disto… - murmurou.

 

            Os olhos de Hop pareciam arder, à medida que os de Leon perdiam o brilho. Os gémeos observavam tudo com atenção e Sonia permanecia em silêncio, sentido uma espécie de remorso por toda aquela situação.

 

            - Vais-lhes contar? – o mais velho perguntou.

 

            - Não. Fá-lo tu, se tiveres coragem sequer. Aparentemente, não te podes associar a problemas ou escândalos para não manchar a tua imagem perfeita, não é? Bom, não precisas de te preocupar mais. A partir de agora, será cada um por si. – afirmou num tom convicto. – Não sou mais teu irmão. – e abriu a porta do quarto, saindo da divisão sem dizer mais nada.

 

            - Espera!

 

            - Hop! Onde vais?!

 

            Victor e Gloria levantaram-se num salto, correndo atrás do rapaz pelo estabelecimento hospitalar. Hop, no entanto, ignorava as exclamações dos amigos, correndo pelos corredores à medida que as lágrimas rolavam pelas suas bochechas. Tudo o que ele conseguia sentir era tristeza e desilusão.

 

• • •

 

            Leon e Sonia, por sua vez, não se mexeram. Ambos permaneciam nos mesmos lugares no interior do quarto. Os olhos do Campeão de Galar observavam a figura da jovem ruiva, que se levantava do sofá, preparando-se para abandonar também o local.

 

            - Isto é tudo culpa tua. – murmurou numa voz grave.

 

            - Leon. – Sonia aproximou-se do rapaz, fitando-o com um rosto sério. – Devias aprender, de uma vez por todas, com os erros do passado. Se não aceitares o que fizeste, não podes conhecer quem realmente és no presente.

 

            O jovem não foi capaz de dizer mais nada. A ruiva observou por momentos aquele rosto abatido. Os seus destinos poderiam ter sido muito diferente, no entanto, as escolhas de cada um não se intercetavam.

 

            A investigadora saiu do quarto, finalmente, deixando o Campeão de Galar, mais uma vez, sozinho. O rapaz deixou o seu corpo cair junto à parede, sentando-se no chão. Levantou os seus joelhos e escondeu o rosto inchado no meio das pernas, deixando a frustração e a tristeza abandonarem o seu corpo em forma de lágrimas.

 

• • •

 

            Victor e Gloria seguravam a figura de Hop no meio da rua cercada pela noite. A saída da cidade de Motostoke ficava mesmo à sua frente e, do outro lado, a Wild Area era atormentada pela escuridão. Os dois gémeos suplicavam para que o terceiro elemento do grupo mantivesse a calma e não fizesse nada que se pudesse arrepender mais tarde.

 

            - Eu só quero ficar sozinho. – repetiu Hop. – Por favor!

 

            - Mas para onde vais a meio da noite? – questionava Victor.

 

            - Sozinho, ainda por cima! Queres ser atacado pela Team Yell, é isso? – exclamava Gloria.

 

            - Eu percebo que estejam preocupados, mas eu preciso mesmo de ficar a sós comigo mesmo. – suplicou. – Não serei uma boa companhia para vocês. E não vos quero arruinar o resto da jornada.

 

            - Mas o que estás para aí a dizer?!

 

            - Juntos somos mais fortes, lembras-te?

 

            Hop baixou a cabeça, escondendo-a no meio da escuridão. Os seus olhos voltaram a encher-se de lágrimas.

 

            - Eu preciso de perceber quem sou sem o Leon. E não consigo fazer isso com vocês por perto. Eu sei que se preocupam comigo. Mas eu não preciso das vossas lamentações agora.

 

            - Tens a certeza, Hop? – Victor suspirou.

 

            - Sim, tenho.

 

            - Mas, então, quando é que nos vamos voltar a encontrar? – a pergunta de Gloria fez os corações dos três jovens estremecerem.

 

            - Em breve, espero eu.

 

            O moreno abriu os braços e envolveu os dois gémeos num abraço caloroso. A incerteza dos tempos futuros podia ser muita, no entanto, cada um deles sabia que, acontecesse o que acontecesse, estariam lá sempre para se apoiarem. Até mesmo em momentos onde os seus caminhos se separavam.

 

            - Tem cuidado, amigo. – pediu Victor.

 

            - Não faças nada estúpido. – brincou a gémea.

 

            - Isso vai ser bastante difícil. – riu Hop.

 

            O jovem moreno virou costas aos dois amigos. À sua frente, a escadaria que dava acesso à Wild Area iluminava-se no meio da escuridão. Um pequeno arrepio percorreu o corpo do rapaz. Fechou os olhos e inspirou fundo. Ainda conseguia sentir a tristeza dentro da sua mente. No entanto, a vontade de partir à descoberta, não só do mundo exterior, como do seu próprio universo interior, era muito maior do que qualquer outro sentimento.

 

            Mais atrás, Victor e Gloria observavam o amigo a desaparecer pela noite. Os cabelos ruivos de Sonia, no entanto, aproximavam-se a passos largos da dupla.

 

            - Onde está o Hop? – perguntou.

 

            - Ele precisa de estar sozinho por uns tempos. – respondeu a gémea.

 

            - Decidimos que seria o melhor para ele, depois de tudo o que aconteceu hoje. – explicou o rapaz. – Em breve, voltaremos a estar juntos.

 

            - Vocês não imaginam o perigo que é percorrer a Wild Area durante a noite! – exclamou a mais velha, preocupada. – Ele não pode ficar sozinho.

 

            - Sonia, tem calma. A culpa não é tua. – murmurou Gloria, tentando tranquilizar a amiga.

 

            - Pode não ser inteiramente, mas, em parte, sinto-me responsabilizada por todo este drama. – confessou. – Eu vou atrás dele. Garanto-vos que, da próxima vez que o encontrarem, ele ainda estará inteiro!

 

            E sem dar mais oportunidade para que nenhum dos gémeos respondesse, a ruiva tomou o mesmo caminho que o moreno, desaparecendo pela noite da Wild Area.

 

            Visivelmente abalados com o desenrolar de toda a situação, os dois irmãos decidiram regressar para o Pokémon Center. A partir de agora, seriam o único companheiro um do outro. Caminharam em silêncio. Depois de tanta discussão, não havia grande coisa para dizer. E, pela primeira vez, era agradável estar em sossego.

 

            - Ele foi-se embora?

 

            Leon atravessava as portas automáticas do Pokémon Center, abandonando o estabelecimento na altura em que os dois jovens se aproximavam.

 

            - Sim, foi. – Victor respondeu de forma curta. Por mais que não quisesse admitir, depois de ouvir os relatos do passado, a sua perspetiva sobre o Campeão de Galar tinha mudado drasticamente.

 

            - Eu não sei o que fazer mais. Por favor, ajudem-me. – pediu, deitando as mãos à cabeça, despenteando o seu cabelo.

 

            - Nós não te podemos ajudar. – Gloria respondeu prontamente. – Tu destruíste o teu próprio futuro para alcançar um simples título. Mas, acabaste por perder tudo pelo caminho. Espero que saibas o quão ridículo és. Perdeste toda a credibilidade para nós.

 

            A gémea não esperou que o mais velho respondesse. Voltou a caminhar, desta vez na direção da porta de entrada do Pokémon Center. Victor também não voltou a abrir a boca, precipitando-se para acompanhar a irmã que caminhava de forma destemida.

 

            - Por favor, não contem a ninguém. Peço-vos. É um segredo. – o medo era palpável na voz de Leon.

 

            Os dois irmãos não responderam. As portas do edifício fecharam-se atrás deles e Leon voltou a ficar sozinho. Começava a fartar-se daquele sentimento de solidão e perda constante. Levantou a cabeça, observando o céu negro.

 

            Com toda a poluição atmosférica provocada pela indústria de Motostoke, os fumos das fábricas impediam que se vissem as estrelas no céu. Era apenas uma noite escura, sem qualquer luminosidade, sem vida.


                  

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  1. E assim, depois de um jantar de Linguiça de Pignite e Magikarp assado, concluímos a primeira temporada de Aventuras em Galar! E Que grande marco que este Capitulo foi! Fechado com chave de ouro!

    Finalmente descobrimos um pouco do passado entre Sonia e Leon, e por instantes eu julguei que ambos tinham concordado em esconder um corpo kkk.

    Apesar de o contexto não ter sido o melhor, voltar a rever o Wild trouxe otimas memórias do especial da fanfic, não acredito que ganhei tanta nostalgia a Galar nestes últimos quatro anos.

    Senti um pouco de pena do Hop, espero que ele não faça sozinho nenhuma asneira!

    Agora que venha a próxima temporada! E que mais mistérios se resolvam!

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    1. Finalmente, chegou o final da Temporada 1! Este foi um grande marco para mim e fico contente que também tenha esse impacto nos leitores.

      Novas informações são reveladas e segredos são desvendados. Wild está de volta, em circunstâncias muito diferentes daquelas em que o conhecemos durante o especial. As ações de cada um têm consequências para todos os elementos à sua volta e agora vamos descobrir o impacto na própria história. Qual será o futuro destas personagens?

      Fico muito feliz em saber que sentes nostalgia ao ler Aventuras em Galar, Shii! De facto, também me sinto dessa forma quando viajo pelas localidades desta região magnífica. Ainda há muita história por contar! Bom saber que não estou sozinho!

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