Posted by : Angie Aug 1, 2020


            O comboio continuava a circular normalmente pelos caminhos de ferro de Galar, à medida que o anoitecer se aproximava a alta velocidade. Victor, Gloria e Hop permaneciam em silêncio, aproveitando aquele momento para relaxarem. No entanto, as atenções de todos os presentes no interior do expresso voltaram-se para a voz do condutor que soou pelas colunas da carruagem.

            - Viajantes, informamos que a linha onde nos encontramos se encontra interdita por vários Pokémon vindos da Wild Area. Iremos aguardar, por tempo indeterminado, até ser seguro continuar a viagem. Entretanto, permaneceremos na Wild Area Station. Todos aqueles que quiserem abandonar o interior da viatura, poderão fazê-lo.


            Uma onda de sussurros instalou-se por toda a carruagem. O trio de treinadores entreolhou-se em silêncio, sem saber muito bem o que fazer.

            - Devemos esperar? – questionou Victor.

            - E passar aqui a noite inteira? – contrapôs Gloria.

            - O que sugeres? – Hop mexeu-se no seu lugar.

            - Vamos sair daqui. Se estamos na Wild Area Station, com certeza podemos encontrar um caminho que nos leve até Motostoke a pé.

            - Isso implicaria atravessar-nos a Wild Area. Sabes o quão perigoso isso é? – o moreno parecia não gostar da ideia.

            - Qual é o problema? A Wild Area é um local seguro onde os treinadores podem circular e treinar livremente, certo?

            - E também é o maior local da região onde podes encontrar a maior variedade de espécies Pokémon à solta! – argumentou o rapaz. – Imagina o perigo!

            - Eu acho que o podemos fazer em segurança. – afirmou Victor, que até então permanecia em silêncio, interrompendo a discussão entre os outros dois.

            Gloria e Hop voltaram as suas cabeças para o terceiro elemento do grupo. O rapaz tinha agora nas suas mãos um grande livro, onde se podia ler na capa “Wild Area Manual”. Victor pousou o livro sobre as suas pernas, mostrando o mapa desenhado nas páginas.

            - Nós estamos aqui. – disse, apontando para a zona mais a sul do mapa. – O caminho mais rápido para chegarmos até Motostoke é este. – explicava, enquanto deslizava o dedo pela folha, formando uma linha reta. – Depois de passarmos pelo Meetup Spot, só temos de atravessar Rolling Fields e depois East Lake Axewell.

            - Então, para chegarmos até ao nosso destino temos que atravessar três zonas diferentes da Wild Area, é isso? – questionou Hop.

            - Certo. – confirmou o outro rapaz. – Como sabem, a Wild Area é formada por várias regiões com diferentes características físicas e meteorológicas, o que faz com que as espécies Pokémon alterem de local para local. Temos de ter isso em conta também.

            - Mas não é perigoso viajar durante a noite? Especialmente na Wild Area? – insistia o moreno.

            - Não precisamos necessariamente de o fazer durante a noite… - Victor esboçou um sorriso vitorioso e depois fechou o livro, puxando da sua mochila. – Porque acham que saí de casa com uma mala tão grande?

            - Para trazeres a tua coleção de livros, óbvio. – respondeu Gloria prontamente.

            - Também, mas não totalmente.

            - Então?

            - Eu trouxe comigo um kit de acampamento! – exclamou. – Óbvio que vocês nem sequer pensaram na opção de dormir por aí fora… eu sou, sem dúvida, o mais prevenido dos três. – afirmou.

            - Talvez… - murmurou Hop.

            - Oh, vá lá! – exclamou a rapariga, levantando-se do seu lugar. – Temos um acampamento para montar!

            Depois de reunirem todos os seus pertences, o grupo abandonou o interior da carruagem, atravessando depois o edifício da Wild Area Station. O seu interior era decorado com paredes simples e alguns balcões de atendimento, que naquele momento estavam cheios de treinadores que, tal como eles, procuravam uma solução para resolver aquele tão inesperado imprevisto.

            O exterior do local dava para a entrada da Wild Area, mais precisamente, o Meetup Spot. Ali encontravam-se alguns grupos de treinadores que se faziam acompanhar dos seus Pokémon, enquanto outros procuravam informações sobre o local nos Rotom Phones.

            Victor, Gloria e Hop caminharam calmamente pela zona, aproximando-se da vedação, que impedia que os Pokémon da região de Rolling Fields atravessassem para o Meetup Spot. Dali conseguiam ter uma visão geral da Wild Area à noite. Era difícil distinguir os vários locais que existiam entre toda aquela escuridão. As únicas coisas que se conseguiam observar nitidamente eram as várias luzes encarnadas espalhadas pelas várias zonas da Wild Area. Do outro lado, um grande lance de escadas de pedra, iluminado por luzes no chão, dava entrada para a cidade de Motostoke.

            - Então aqueles são os famosos Pokémon Dens! – exclamou Hop, agora mais animado.

            - Parece que sim. – assentiu Gloria.

            - No seu interior, podem ser encontrados Pokémon Dynamax… - murmurou Victor pensativo. – Conseguem imaginar?

            Fez-se silêncio entre o grupo. Permaneceram por algum tempo a observar a paisagem noturna à frente dos seus olhos e a imaginar os diferentes Pokémon que se escondiam atrás daquelas sombras. No céu, as estrelas brilhavam intensamente. Ali, num ambiente completamente natural, e sem a poluição das grandes cidades, era possível desfrutar do melhor que a natureza tinha para oferecer.

            - Talvez esta ideia nem seja assim tão má. – admitiu Hop, quebrando o silêncio.

            - Eu sei que tenho razão. – disse Gloria num tom sarcástico.

            - Menos conversa e mais ação! – exclamou Victor, olhando em volta. – Vamos encontrar um local para montarmos a tenda. Eu preciso do meu sono de beleza. Mãos à obra! – falou, sendo acompanhado pelos os outros dois que se calaram logo a seguir.

• • •
                                                                                      
            O trio acordou com os primeiros raios de sol do dia seguinte. Felizmente, a tenda de Victor era suficientemente grande e oferecia o nível mínimo de conforto possível para os três. Depois de voltarem a arrumar os seus pertences, o grupo decidiu fazer-se ao caminho sem mais demoras.

            Rolling Fields localizava-se na zona mais central do sul da Wild Area. Era um local descampado, composto por campos floridos, ervas e arbustos, que serviam de habitat a vários Pokémon, e árvores de vários tamanhos, recheadas de diferentes espécies de Berries. As colinas espalhadas pelo local ofereciam uma vista panorâmica para o resto da Wild Area, que se estendia por extensos terrenos. Aquele lugar parecia infinito.

            Victor, Gloria e Hop caminhavam calmamente sob o céu nublado daquele dia. O gémeo mais novo parecia ocupado enquanto verificava novas informações daquele local no seu Rotom Phone. A rapariga era a mais animada do grupo, pulando pelos mantinhos de erva à procura de novas criaturas. E o moreno cambaleava, deixando escapar alguns bocejos de vez em quando.

            - Não dormiste bem? – perguntou Victor.

            - Demorei a adormecer. – respondeu o outro.

            - Estavas com medo, Hop? – brincou Gloria.

            - Claro que não! – ripostou. – Só comecei a pensar naquele rapaz que… vocês sabem…

            - Quem?

            - Aquele que morreu aqui… na Wild Area.

            - Ah, pois foi! – exclamou a rapariga. – Eu lembro-me de ver isso nas notícias.

            - Sim, de facto. – concordou o gémeo. – Mas o que é que isso tem a ver connosco? Isso já foi há uns cinco anos, não foi?

            - Sim, sim. Estava só a lembrar-me. – disse. – Na altura, foi quando o Leon saiu na sua jornada, sabem. Quando os meus pais ouviram aquela notícia pensaram logo que era ele. Foi assustador.

            - Oh… - soltou Gloria. – Foi uma grande tragédia o que aconteceu.

            - Acabaram por descobrir que aquilo foi feito por um Pokémon selvagem, não foi? – recordou Victor.

            - Sim… mas nunca o conseguiram encontrar. Isso não é estranho? – pensou o moreno.

            - Talvez ele se tenha escondido para sempre… - disse a rapariga.

            - Acham que é possível um Pokémon querer matar um humano? – a pergunta de Victor fez os outros dois refletir.

            - Não sei… - respondeu Hop. – Mas nós estamos em segurança aqui, certo?

            - Claro que sim. – tranquilizou o outro, verificando os dados no aparelho eletrónico. – Se continuarmos o nosso percurso como previsto, deve correr tudo tranquilamente.

            - Tens a certeza? – interrompeu Gloria. – O que é aquela coisa?!

            Todos se voltaram para a direção onde Gloria apontava. Ao longe, uma grande criatura deslizava pelo chão na direção do trio. O Pokémon assemelhava-se a uma grande serpente de pedra, com rochas de vários tamanhos a formarem o seu extenso corpo.


            - Onix, um Pokémon Rock-Type e Ground-Type. – disse o Pokédex de Victor. – Tem a capacidade de deslizar pelo chão a alta velocidade. Através do seu corpo rígido, consegue defender-se de qualquer adversário.

            - Ele não parece lá muito animado… - murmurou Hop.

            - Vamos combater contra ele! – exclamou Gloria.

            - O quê?! – os dois rapazes gritaram em conjunto.

            - Devemos aproveitar oportunidades como esta para nos colocarmos à prova. – disse, tirando uma Poké Ball da sua mala. – Vamos!

            O corpo de Scorbunny apareceu no local. O pequeno coelho avistou a figura de Onix a aproximar-se do grupo e, de imediato, colocou-se em posição de combate, pronto para defender a sua treinadora. Ao observarem a atitude do Fire-Type, Victor e Hop lançaram as Poké Balls de Sobble e Grookey respetivamente. O Water-Type colocou-se ao lado de Scorbunny, enquanto o macaco de erva lançava um olhar hostil ao seu treinador. A relação entre Hop e o Pokémon Inicial ainda estava fragilizada.

            Os três Pokémon alinharam-se à frente dos respetivos treinadores, que aguardavam o momento certo para atacar.

            - Agora! – exclamou Gloria, no momento em que a cobra gigante se preparava para atacar o grupo. – Ember!

            - Growl! – ordenou Victor.

            - Branch Poke. – disse Hop.

            Scorbunny saiu na frente, lançando várias chamas na direção de Onix, que nem sequer se incomodou com o ataque. O mesmo aconteceu com Growl de Sobble. Já Grookey, fora completamente bloqueado com o Rock Throw arremessado por Onix. Felizmente, o pequeno macaco conseguiu esquivar-se a tempo.

            - Não podemos atacá-lo fisicamente. – disse Gloria. – Ele é mais forte que nós e, se nos apanhar, estamos feitos.

            - Tenho uma ideia… - pensou Victor. – Sobble, consegues usar Water Gun?

            O anfíbio assentiu e voltou-se para Onix, abrindo a sua boca e lançando um jato de água na direção do Rock-Type. O Pokémon estremeceu. Ataques aquáticos eram super efetivos contra aquela espécie. Os grandes olhos de Onix fecharam-se e o Pokémon contorceu o seu corpo, abrindo depois a sua boca e lançando um potente Screech. O ruído provocado pela técnica arrastou os corpos dos três Pokémon Inicias por alguns metros, à medida que diminuía o status de defesa de cada um. A serpente de pedra parecia agora mais descontrolada que nunca.

            - Ember!

            - Water Gun!

            - Growl!

            Os ataques lançados pelos três Pokémon continuavam a provocar pouco dano no Onix selvagem. Este, por sua vez, preparava-se para a ronda final do conflito. Sem perder mais tempo, voltou a abrir a sua boca, lançando um potente feixe de luz verde que atingiu Scorbunny, Sobble e Grookey. Dragon Breath era o nome daquela técnica, responsável por colocar os três Pokémon inconscientes.

            Victor, Gloria e Hop correram para apanhar os seus Pokémon. Onix permanecia atento a cada movimento, observando os três treinadores atentamente.

            - Vamos embora! – exclamou Hop.

            - Não! Nós podemos continuar a combater! – contrapôs a rapariga.

            - Gloria, temos de ser racionais neste momento! – explicou Victor, chamando a atenção da irmã. – Não temos poder suficiente para o vencer. É demasiado forte. E não podemos colocar em risco o resto dos nossos Pokémon!

            - Vamos! – chamou Hop, antes de Onix lançar um Rock Slide na direção do grupo.

            Os três jovens começaram a correr sem rumo pelo campo florido, deixando para trás a figura de um Onix enraivecido. Cada um carregava nos seus braços o seu Pokémon Inicial, que continuava desmaiado. O primeiro encontro na Wild Area ficaria, para sempre, marcado pelas piores razões.

• • •

            Watchtower Ruins localizava-se no noroeste da Wild Area do sul. Aquela zona caracterizava-se pela presença de uma grande torre de vigia antiga, habitat de vários Pokémon. À sua volta, os campos de erva também serviam de habitação para outras criaturas. Ali, o céu encontrava-se mais nublado graças às várias nuvens que começavam a aparecer pelo local.

            Depois de várias horas em busca de Wishing Stars, a pedido de Rose, Bede acabou por se deparar com um rival à sua altura. Naquele momento, corria à volta da torre acompanhado por Impidimp. Os cabelos do rapaz esvoaçavam à medida que ele aumentava a sua velocidade na direção de um Pokémon que voava alguns metros acima de si.

            O pequeno morcego de pelo roxo esvoaçava as suas asas rapidamente. Os olhos amarelos da criatura procuravam algum tipo de abrigo. Através das ondas sonoras emitidas pelas grandes orelhas roxas, tinha a capacidade de perceber a distância a que Bede se encontrava, de maneira a conseguir esquivar-se mais depressa. Os seus membros eram pequenos e, ao longo do seu corpo, era possível distinguir-se vários tufos pretos.


            - Bite.

            A voz de Bede fez-se ouvir. Escalando pela parede da torre, Impidimp conseguiu alcançar o corpo do voador, mordendo-o sem parar e fazendo com o que o seu corpo caísse ao chão. Depois do Fairy-Type sair de cima do adversário, o rapaz aproximou-se, apontando o seu Rotom Phone na direção do Pokémon selvagem.

            - Noibat, um Pokémon Flying-Type e Dragon-Type. Esta espécie habita normalmente no interior de cavernas escuras, movimentando-se através das ondas sónicas captadas pelas suas orelhas.

            O morcego mexeu-se no chão, enquanto observava a figura de Bede. O rapaz parecia admirar o Pokémon atentamente.

            - Queres combater connosco? – perguntou, sem receber uma resposta. – Andamos a treinar arduamente para desafiarmos o nosso primeiro Líder de Ginásio em breve. – explicou, como se o Pokémon estivesse interessado na sua conversa. – Seja como for… - disse, virando a sua cabeça para Impidimp. – Ataca.

            O Pokémon saltou na direção de Noibat e bateu as suas duas mãos, atacando com Fake Out. Depois de ser atingindo pela técnica, Noibat contra-atacou com Gust, lançando o corpo de Impidimp para longe, dando-lhe tempo suficiente para finalmente se levantar do chão. O morcego fixou o seu olhar na figura do adversário, que ainda se recuperava do ataque anterior, e lançou-se contra ele, atingindo-o com Wing Attack. Desta vez, o corpo de Impidimp foi lançado contra a parede da torre e Bede estremeceu. Aquele Noibat era, de facto, mais forte do que parecia.

            O rapaz voltou a dar uso do seu Rotom Phone, desta vez apontando-o na direção do seu Pokémon Inicial.

            - Impidimp conhece as técnicas Fake Out, Bite e Flatter. – explicava o aparelho na sua voz robótica.

            - Impidimp, usa Flatter.

            Mesmo cansado, o Pokémon continuava a obedecer às indicações do seu treinador. Começou a movimentar as suas mãos, enquanto concentrava a sua energia em silêncio. Várias ondas vermelhas começaram a surgir à volta do seu corpo, sendo depois lançadas na direção de Noibat, que caiu no chão confuso. Mesmo que o morcego quisesse contra-atacar, estava demasiado tonto para o fazer naquele momento. Aproveitando os danos do adversário, Impidimp voltou a saltar para cima do seu corpo, atacando-o ferozmente com Bite. Noibat nem se tentou esquivar. Ao receber as mordidas do Fairy-Type deixou o seu corpo cair, finalmente, inconsciente no solo do local.

            Bede observava a cena impressionado. Parecia que, a cada novo combate, Impidimp ficava mais forte. O rapaz sentia-se confiante por ter um companheiro tão habilidoso ao seu lado. Era, de facto, gratificante poder treinar um Pokémon daquela espécie.

            Por sua vez, Impidimp voltou-se para o seu treinador, arrastando o seu corpo até ele. O pequeno Pokémon deixou-se cair junto dos pés de Bede. Apesar de ter vencido o confronto, o cansaço era demasiado para ele continuar a treinar de forma exaustiva. O rapaz baixou-se, observando a figura da criatura caída no chão.

            - Não faz mal. – mumurou calmamente. – Vamos voltar. Está na hora de descansarmos.

            Depois de retroceder o corpo do Pokémon para o interior da Poké Ball, o rapaz começou a caminhar novamente pelo local. Naquele momento, as nuvens do céu nublado começavam a tapar a visibilidade dos treinadores que por ali treinavam.

            O nevoeiro aumentava cada vez mais, chegando mesmo a prejudicar a visão de Bede que, junto ao tronco de uma árvore, conseguia distinguir o vulto de uma criatura que se arrastava pelo chão. O treinador apontou o seu Pokédex na direção da sombra, procurando descobrir que Pokémon se encontrava naquela zona.

            - Ralts, um Pokémon Psychic-Type e Fairy-Type. – falou o Pokédex. – Esta criatura é altamente ligada às emoções das pessoas. Quando reconhece os sentimentos dos humanos, o seu corpo aquece.

            Os olhos do rapaz de cabelo platinado acompanhavam os movimentos da criatura, que se parecia arrastar na sua direção. Quando já estava mais perto, Bede conseguiu visualizar finalmente a pequena Pokémon à sua frente. O seu corpo branco parecia revestir-se por um vestido da mesma cor. Dois chifres encontravam-se no topo da sua cabeça, local onde nasciam vários fios de cabelo verde, que cobriam a maior parte do seu rosto.


            Ralts levantou a sua cabeça na direção do rapaz, revelando os seus olhos encarnados, que penetraram as duas esferas roxas que coloriam o olhar de Bede. O treinador permanecia em silêncio e imóvel, enquanto observava aquela graciosa criatura. Naquele momento, parecia que o tempo tinha parado. Os dois poderiam permanecer ali, para sempre. Era como se, numa simples troca de olhares, os dois tivessem criatura um forte vínculo. Pela primeira vez em algum tempo, o rapaz sentiu uma certa serenidade dentro de si. Algo que já nem se lembrava que existia.

            O rapaz inclinou o seu corpo na direção da Pokémon, que continuava a observá-lo em silêncio, ao mesmo tempo que levava a mão à mala, pegando numa esfera bicolor, que mostrou à criatura.

            - Vem comigo. – murmurou. – Por favor.

            Parecia que as palavras se formavam sozinhas na sua boca. Na verdade, Bede gostava demasiado daquilo que sentia no momento. Não podia deixar que aquele sentimento se perdesse. Não podia deixar Ralts fugir.

• • •

            A tarde já ia a meio na região de East Lake Axewell, na Wild Area. As primeiras gotas de chuva começavam a cair pelo local. Rapidamente se instalou o cheiro a terra molhada à volta do grande lago, onde várias espécies Water-Type vivam em harmonia.

            No mesmo local, encontravam-se Victor, Gloria e Hop que, naquele momento, corriam desajeitadamente pela margem do lago. Os treinadores eram perseguidos por um bando de Pokémon voadores que não pareciam lá muito animados.

            As pequenas gaivotas de penas brancas deslizavam pelo ar, mantendo as suas grandes e finas asas abertas. Uma listra azul podia ser distinguida em cada uma delas, assim como no rabo. Os pequenos olhos contrastavam com o grande bico alaranjado e preto na ponta, que utilizavam para alcançar as suas presas.


            - Wingull, um Pokémon Water-Type e Flying-Type. – disse o Pokédex de Gloria, enquanto esta o apontava na direção dos Pokémon e continuava a correr. – Normalmente, deslizam pelas correntes de vento por cima dos mares ou lagos à procura de alimento.

            - Acho que eles não gostaram muito de nos ver a almoçar à beira do lago! – exclamava Victor, enquanto corria.

            - Mas nós só estávamos a comer as nossas Berries! – protestou Hop.

            - É possível que eles tenham achado que nós estávamos a comer o seu almoço… - explicou o rapaz. – Por isso é que agora nos estão a perseguir desta maneira!

            - Ai!

            Atrás dos dois jovens, Gloria soltou um grito ao tropeçar e cair no chão. Os rapazes voltaram-se para trás, encontrando o corpo da rapariga caído na terra molhada, enquanto o bando de Wingull se aproximava rapidamente.

            Victor e Hop lançaram as suas Poké Balls ao ar, revelando as figuras de Rookidee e Wooloo. Os dois Pokémon colocaram-se em posição de combate, aguardando as indicações dos rapazes.

            - Rookidee, usa Peck nos Wingull!

            - Wooloo, protege a Gloria com Defense Curl!

            Rookidee levantou voo, saindo disparado na direção do bando de gaivotas e atingindo algumas delas com o seu bico. No solo, Wooloo correu para junto do corpo de Gloria, protegendo a rapariga dos ataques aéreos com recurso ao seu corpo de lã.

            - Oh não… - murmurou Gloria, ao ver o esforço da pequena ovelha para a proteger.

            - Não te preocupes! – exclamou Hop. – A habilidade e o corpo de Wooloo transformam-no numa verdadeira arma de ferro!

            - Não sei se o Rookidee se consegue aguentar muito tempo sozinho ali em cima… - murmurou Victor.

            O pequeno pássaro começava a ser atacado pelo bando de Wingull que, juntos, cercaram o Pokémon, atingindo-o com vários Quick Attack. Fraco, Rookidee acabou por mergulhar no ar, caindo mesmo em cima dos braços de Victor, que correu para apanhar o Flying-Type.

            - Estás bem? – perguntou, recebendo uma fraca exclamação do Pokémon. – Precisamos de continuar a enfrentá-los, amigo. A Gloria precisa de nós.

            O pequeno pássaro assentiu e voltou o olhar para Gloria, que se movia atrás do corpo de Wooloo. A rapariga lançou uma Poké Ball ao ar, revelando a figura de Blipbug. O inseto encarou a sua treinadora.

            - Ajuda o Rookidee, por favor. – pediu. – Usa Struggle Bug!

            O pequeno inseto assentiu e concentrou a sua energia por alguns segundos. O seu corpo foi cercado por uma aura encarnada que, momentos depois, foi lançada na direção dos Wingull que atacavam Wooloo. Apesar do ataque não ter grande efeito sobre aquela espécie, foi suficiente para afastar alguns membros do bando. Gloria aproveitou a oportunidade para se levantar finalmente do chão, correndo para junto dos dois rapazes.

            - Estás bem? – perguntou Victor, abraçando a irmã.

            - Os meus joelhos estão um pouco arranhados, mas tirando isso, sim. – respondeu ofegante. – O Wooloo foi uma grande ajuda.

            - Como vamos sair daqui? – perguntou Hop, no momento em que o bando de Wingull começava a cercar os treinadores.

            - Vamos combater. – sugeriu o gémeo. – Só precisamos de abrir caminho entre eles. Depois podemos correr até Motostoke. Já não estamos muito longe.

            - Muito bem! – exclamou a rapariga, recompondo-se. – Blipbug, Struggle Bug mais uma vez!

            - Wooloo, usa Tackle!

            Os dois Pokémon lançaram os seus ataques contra as gaivotas, mas nenhuma das técnicas parecia ser suficientemente forte para deitar abaixo o grupo de WIngull que parecia aumentar cada vez mais. Para além da chuva no local, as rajadas de vento provocadas pelo bater de asas dos voadores complicavam ainda mais o trabalho de Blipbug e Wooloo.

            Rookidee, que permanecia a recuperar dos seus ferimentos nos braços de Victor, observava atentamente a disputa dos seus companheiros de equipa. Ele não podia permitir que eles continuassem a combater todos aqueles adversários sozinhos. Ignorando as dores que sentia, o Flying-Type levantou voo e saiu disparado, arranhando o ar com as suas patas, uma técnica conhecida por Hone Claws, responsável por aumentar o status de ataque e perícia. De seguida, voou em direção a vários Wingull, surpreendendo todos à sua volta, inclusive Victor, que temeu pelo seu Pokémon. No entanto, Rookidee parecia não dar ouvidos a ninguém. O pequeno pássaro atingiu os adversários com o seu próprio corpo, num novo ataque conhecido como Power Trip. Algumas gaivotas caíram inconscientes no chão, mas outras continuavam a atacar o grupo com vários Water Gun.

            - Wooloo, o Tackle não está a resultar! – exclamou Hop. – Há mais alguma técnica que possas usar?

            A ovelha deu ouvidos ao seu treinador e paralisou por alguns segundos, focando a sua atenção nos vários Wingull que usavam a técnica aquática. Subitamente, uma aura tomou conta do seu corpo e, logo a seguir, repetiu o ataque usado pelas gaivotas. Agora, também Wooloo atacava com Water Gun, provocando uma pequena explosão no ar, no momento em que as duas técnicas se chocaram.

            - Agora! Vamos!

            Aproveitando o a explosão de fumo, Victor, Gloria e Hop retrocederam os seus Pokémon para o interior das Poké Balls e voltaram a iniciar a corrida desajeitada, desta vez rumo à escadaria que dava acesso à cidade de Motostoke. Lentamente, os Wingull ficavam para trás, afetados pelo fumo que lhes diminuía o campo de visão.

            - Que ataque foi aquele? – perguntou Hop, sem parar de correr.

            - Copycat. – respondeu Victor no meio da sua respiração. – O Wooloo consegue reproduzir o último ataque usado pelo seu adversário.

            - Que fixe! – exclamou Gloria, alcançando os dois rapazes. – Pensando bem, o Wooloo consegue imitar qualquer ataque de qualquer espécie Pokémon.

            - Bem visto! – concordou o moreno, com o cabelo despenteado.

            - Vejam! – exclamou o gémeo, apontando em frente, onde se encontrava a entrada de Motostoke.

            O trio abrandou a corrida. Victor colocou as mãos na cintura, tentando controlar a respiração ofegante, Gloria limpou o rosto suado e Hop pousou as mãos nas coxas das pernas, aliviado por estar finalmente em segurança.

            O grupo encarou a grande escadaria que dava acesso a Motostoke. Atrás deles, já não havia nenhum Wingull. O Onix encontrava-se ainda mais longe. As ameaças tinham ficado completamente para trás. Estavam finalmente em segurança. À sua frente, encontrava-se a cidade onde iria ter lugar o início do Gym Challenge. O começo de tudo.

            - Finalmente!

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  1. Angie, tudo bom?

    Gloria, você tem que arrumar briga com alguém do seu tamanho. Por pouco o número de casos de mortes na Wild Area aumentava. Sobre isso, parece que você não decidiu trabalhar essa história agora. Talvez com um dos secundários ou mesmo quando eles passarem aí de novo encontrem esse tal pokémon assassino.
    Achei que o Bede ia pegar o Noibat, mas parece que ele vai de mono fairy. Uma tipagem interessante.
    Eles na Wild Area parece um personagem de jogo que acidentalmente entrou em área de um nível muito mais alto hashahs Se bem que eu acho que é bem isso mesmo.
    Creio que é isso, até o próximo capítulo!

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    1. Alefu! Que bom regressar ao mundo da fantasia e encontrar os seus comentários maravilhosos. Muito obrigado pela generosidade!

      Pois é, chegámos pela primeira vez à Wild Area e os três protagonistas não fazem ideia dos perigos que os esperam. Pokémon de níveis superiores e grupos preparados para atacar são apenas alguns dos obstáculos que os nossos heróis encontraram desta vez. Mas, eles até se safaram bem, não?

      Então apanhou essa ligação com o especial Wild, é isso? Fico feliz em perceber que sim, porque já não me recordava se o Alefu tinha acompanhado esse especial até ao fim. Posso dizer que voltaremos a tocar nesse pormenor bem lá para a frente nesta temporada. Vai que tem drama pronto!

      Bede decidiu dar o ar da sua graça e vemos a sua primeira captura. Uma pequena Ralts junta-se à sua equipa e sim, ele vai especializar-se em Fairy-Type. O que acha sobre isso?

      Até já! Encontramo-nos em Motostoke.

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  2. Corram desgraçados que os Wingull querem as vossas berries.

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  3. O mais puro suco da Wild Area pra já dar aquele cartão de visitas do jeito que a gente gosta! kkkkkkkkkkkk Tenho certeza que a partir de agora eles vão pensar duas vezes antes de sair tomando qualquer tipo de decisão. Fico até surpreso que ninguém ou nada tentou matá-los na calada da noite!

    Ah, finalmente temos a primeira referência a Wild na história principal! Interessante ver essa tragédia sob a perspectiva de quem a conheceu apenas pelos noticiários. Realmente ficou parecendo apenas um ataque de algum Pokémon selvagem, mas eu tenho a sensação de que com os protagonistas eventualmente voltando à Wild Area algumas pistas desse crime vão aparecer de pouco em pouco. Tem muito chão pela frente!

    E eles chegaram às escadarias de Motostoke! O saldo foi: iniciais nocauteados, Pokémons remanescentes todos ferrados, e alguns ferimentos leves no caso da Gloria. É, até que dá pra dizer que a travessia foi um sucesso, considerando tudo que ainda poderia ter acontecido com os três kkkkkkkkk

    Ah, já ia me esquecendo antes de encerrar meu comentário: mais uma derrota na conta do Hop, o Grookey vai ficar muito puto! kkkkkkkkk

    Ótimo capítulo, meu caro!

    Até a próxima! õ/

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    1. Podemos concordar que atravessar a Wild Area pela primeira vez é uma tragédia que nunca ninguém esquece, certo? Eu não esperava dar de caras com um Onix tão forte logo no início! Por isso mesmo, tinha de incluir esse momento icónica neste capítulo.

      Sim, ficar com quase todos os Pokémon inconscientes também é um requisito praticamente obrigatório. E nisso os nossos três protagonistas conseguiram praticamente cumprir.

      Como disse, conseguiram chegar à escadaria de Motostoke vivos e, no final, é só isso que importa! Vamos ver o que se segue.

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