Posted by : Angie Oct 20, 2019



Capítulo 5 - Sabes onde me encontrar

           Alguns meses se passaram desde o ataque de Nate, responsável por alterar totalmente o comportamento dos membros da família. Wild ficara para sempre marcado com a cicatriz na sua barriga, mas o rapaz parecia gostar daquela recordação. Susan e George pareciam ainda mais protetores e atentos. E Peter passava a maior parte dos seus dias a treinar, com a ajuda de Tommy.

            Naquele momento, Wild, Susan, Rory e Peter aproveitavam um maravilhoso dia de sol junto de um dos grandes lagos da Wild Area. Era a primeira vez que estavam ali e o rapaz parecia maravilhado com o local à sua volta. À sua frente, um extenso lago ocupava uma parte significativa daquela área e, ao seu redor, diferentes espécies de árvores e flores habitavam livremente, compondo uma das paisagens mais bonitas que Wild alguma vez vira.

            - Isto é lindo, mãe! – exclamou o rapaz, abrindo os braços. – Pena que o pai e Tommy não possam estar aqui para ver também.

            - Tens razão, querido. Mas alguém tem de ficar a proteger a nossa casa. – explicou Susan, sobrevoando por cima do grupo, mantendo-os protegidos.

            - Mas nós podemos divertir-nos sem eles, amigo! – afirmou Peter. – Vai um mergulho?

            - Eu também quero! – brincou Rory, pronta para entrar na água.

            No entanto, Susan parecia pensativa, enquanto observava atentamente o lago gigante à sua frente. As águas começavam a agitar-se cada vez mais, parecia que algum Pokémon se aproximava da superfície.

            Uma gigante serpente aquática saltava do fundo lago. O seu corpo era colorido por um tom claro, enquanto que a sua cauda era revestida por escamas azuis e rosas. Na sua cabeça pontiaguda, a Pokémon revelava um rosto calmo e sereno. O seu nome era Milotic e era conhecida por ser um dos Pokémon mais bonitos de todo o mundo.




            Logo atrás, outra serpente marinha surgia, no entanto, esta parecia furiosa. O seu corpo era revestido por escamas azuis e, na sua barriga, amarelas. Algumas barbatanas também compunham o corpo esguio daquele Pokémon que, de boca aberta, revelava as suas presas assustadoramente fortes. Aquele era Gyarados.




            Os dois Pokémon pareciam estar a meio de uma disputa e, apesar de Susan temer pela segurança do grupo, os três elementos pareciam focados no combate entre as duas criaturas. Especialmente Wild, hipnotizado pela beleza de Milotic.

            - Acho que é melhor irmos embora. – murmurou Susan, tentando manter-se discreta.

            - Não... – Wild respondeu de imediato, sem tirar os olhos da Pokémon.

            Gyarados parecia revoltado, disparando vários Dragon Rage na direção de Milotic, que se esquivava facilmente entre as águas do lago. Apesar de estar a ser atacada, a Pokémon mantinha a sua beleza nos movimentos. Era impossível sentir outra coisa que felicidade ao olhar para a beldade de Milotic.

            - Deves pensar que por seres bonita podes atravessar o meu território! – gritou Gyarados. – Não me vais escapar!

            O forte Pokémon alcançou finalmente o corpo de Milotic, agarrando a sua cauda com a técnica Crunch. A criatura gritou de dor, mas, contra-atacando com Dragon Tail, Milotic conseguiu livrar-se das garras de Gyarados, fazendo com que este mergulhasse nas águas do lago. Alguns segundos depois, a criatura estava de volta à superfície, e agora parecia que trazia ainda mais raiva consigo.

            - Estou farto! – gritou.

            - Eu também. – a voz de Milotic soava incrivelmente calma, para aquela situação. – O que te leva a pensar que uma parte deste lago maravilhoso é teu? Ele é de todos os Pokémon.

            - Cala-te! Todos os Pokémon que habitam neste lago sabem que eu comando estas águas!

            - Honestamente, tu precisas de te acalmar…

            O corpo de Milotic começou a emitir um brilho à sua volta, criando uma aura cor de rosa sobre toda a superfície do lago. Aquele era o seu poder especial: transmitir paz e acalmar todos à sua volta. Sem dizer mais nada, Gyarados cerrou a sua boca e os seus olhos e caiu sobre as águas do lago, mergulhando num sono profundo.

            Wild, Susan, Rory e Peter, que continuavam a observar aquele acontecimento mostravam-se deslumbrados com aquele fenómeno. Aquela Milotic tinha o poder de acalmar um Gyarados furioso! Wild queria conhecer aquela beldade.

            - Milotic! – chamou.

            A serpente virou-se, encontrando um pequeno rapaz a chamar por si, acompanhado de três Pokémon. Milotic esboçou um pequeno sorriso e mergulhou, nadando até à margem do rio, onde se encontravam os seus mais recentes admiradores.

            - Eu peço desculpa pela forma como aquele Gyarados agiu… - começou, observando com atenção o grupo à sua frente. – O meu nome é Carol.

            - E-e-eu sou o-o Wi-ld.

            O rapaz mal conseguiu abrir a sua boca. Estava espantado com a beleza daquela criatura que, agora, estava mesmo à frente dos seus olhos. O seu corpo parecia brilhar no meio da água e o seu espírito transmitia paz. Por momentos, Wild desejou poder sentar-se sobre o corpo de Milotic e mergulhar até às profundezas do lago. Estar sozinho com ela era tudo o que o rapaz queria. Mas aquele sentimento era estranho. Ele nunca sentira algo assim antes.

            A serpente riu, ao aperceber-se que o menino estava nervoso. Achava aquilo querido.

            - Olá, eu sou a Susan. – Butterfree desceu dos céus e aterrou junto do grupo.

            - Podes-me chamar Rory!

            - E a mim Peter. Eu sou o melhor amigo do Wild.

            O rapaz sorriu envergonhado. Por mais que tentasse falar, parecia que a sua voz falhava sempre.

            - O que aconteceu ali? – perguntou Susan.

            - Aquele Gyarados tem uns problemas comportamentais… - explicou. – De vez em quando é preciso acalmá-lo.

            - Tu és muito forte! – exclamou Rory. – E bonita também!

            - Obrigada, querida! – Carol esboçou um sorriso simpático. – Então e o que fazem vocês por aqui?

            - Viemos mostrar este magnífico lago ao nosso amigo Wild. – explicou Peter.

            - E então, está aprovado, Wild?

            O rapaz, que permanecia em silencio, estremeceu ao ouvir Milotic dizer o seu nome. Ela realmente dissera o seu nome. E estava a falar com ele. E estava a olhar para ele. O corpo do rapaz começava a suar lentamente, revelando sinais de nervosismo.

            - Wild?

            - Ah! – exclamou o rapaz, acordando dos seus pensamentos. – Sim, sim! Aprovadíssimo!

            - Ainda bem que gostas. – Carol sorriu. – Infelizmente, eu vou ter de ir.

            - Oh... – soltou o menino. – Tão cedo?

            - Sim. – respondeu a Pokémon. - Há coisas para fazer no fundo do lago. Mas, espero voltar a ver-vos em breve. Posso levar-vos a passear numa próxima vez. – afirmou de forma simpática.

            - Tenho a certeza que o Wild adoraria! – exclamou Susan.

            - Sim… - admitiu o rapaz.

            - Sabes onde me encontrar.

            A criatura lançou um último olhar ao rapaz, que a observava atentamente. Permaneceram assim, em silencio, durante alguns segundos, que, na realidade, pareceram séculos, até que o corpo de Milotic se virou e voltou a mergulhar para o fundo do lago.

            Wild continuou a observar às águas, concentrado e em silêncio. O rapaz questionava-se sobre o que Milotic estaria a pensar, para onde iria e como era a sua vida submarina. Por alguma razão, ele nutria um interesse especial por aquela Pokémon.

            - Wild… - chamava Susan. – Tu podes sempre voltar a vê-la.

            O rapaz virou-se na direção da borboleta que o observava.

            - Eu nunca senti isto antes… - murmurou. – O que é isto?

            - Vais ter de descobrir por ti mesmo. – Susan sorriu, orgulhosa por ver o seu filho crescer. – Não te preocupes… em breve irás perceber.

            O rapaz voltou-se a calar. Sentia um misto de sentimentos dentro de si. Desejava que tudo aquilo desaparecesse, mas agora, depois de estar com Milotic, parecia impossível.

            - Amigo, a Carol é muito gira, não achas? – Peter aproximava-se sorridente.

            - Não fales dela dessa maneira. – murmurou Wild.

            - Como?! – o coelho parecia confuso.

            O menino sentia a sua cara ficar vermelha, ao mesmo tempo que o seu corpo ficava mais quente. Parecia que o sangue das suas veias estava a ferver dentro de si.

            - A Carol não é gira! – exclamou o rapaz. – Ela é linda! Maravilhosa! Bondosa! Simpática! Forte! Corajosa! Perfeita!

            Os três Pokémon entreolharam-se e deixaram-se rir, deixando o rapaz ainda mais confuso.

            - O que foi? – perguntou.

            - Parece que tu gostas dela… - murmurou Rory.

            - Então é isso? – disse, voltando o olhar para Susan. – Eu gosto da Carol?

            - Talvez… talvez mais do que tu imaginas. – sorriu a borboleta.


            A tarde começava a cair e o céu da região de Galar recebia os primeiros tons de laranja de mais um pôr do sol. Wild e a sua família estavam de regresso a casa. Enquanto todos os elementos se reuniam no jardim exterior, o rapaz permanecia no interior da casa, observando atentamente a paisagem a partir da janela gigante da sala.

            Apesar do seu corpo estar ali, fisicamente, a sua mente encontrava-se bem longe. Imaginava-se ao lado de uma gigante serpente aquática que falava e passeava com ele. Os dois pareciam felizes ao lado um do outro.

            - Aqui estás tu! – exclamou George, entrando sala adentro. – Andava à tua procura, rapaz.

            O menino surpreendeu-se ao ouvir a voz do Pokémon. Pensava que estava sozinho com os seus pensamentos, mas enganara-se mais uma vez.

            - Hm… sim. – disse vagamente.

            - Que cara é essa? – o urso aproximou-se do rapaz, sentando-se ao seu lado.

            - Eu não sei… estava aqui a pensar sobre uma coisa.

            - Essa coisa chama-se Carol?

            - A mãe já te foi contar, não já? – Wild não se mostrava admirado. – O que é que ela te disse?

            - Só me falou de uma bonita Milotic que roubou a tua atenção… e que aparentemente continua a deixar-te muito pensativo. – brincou.

            - Ela está certa então.

            - Queres falar sobre isso?

            O menino pensou por alguns segundos, tentando organizar os seus pensamentos antes de os dizer verbalmente.


            - Eu acho que ela é muito bonita. E muito forte também. A forma como ela se movimenta é deslumbrante. E eu gostava de estar mais tempo com ela. Gostava que ela estivesse aqui comigo agora. – disse, calmamente. – Mas eu não sei o que isto significa, pai.

            - Interessante. – George deixou escapar uma pequena gargalhada. – Fazes-me lembrar eu, quando conheci a tua mãe.

            - Como assim?

            - A tua mãe nunca te contou como nos conhecemos?

            - Não… mas agora quero saber!

            - Basicamente, ela roubou todas as Berries que eu encontrei para comer. Na altura, lutámos bastante. – dizia pensativo. - Oh, que combate…

            - Quem ganhou?

            - A tua mãe! – exclamou o panda. – Ela conseguiu prender-me com aquela seda maravilhosa. Mas depois, eu acho que ela teve um pouco de pena de mim. E acabámos por comer as Berries os dois. – ele sorriu, lembrando-se daquele momento que, certamente, estaria guardado para sempre na sua memória. – Acabámos por nos conhecer melhor e o resto é história…

            - Eu nunca tinha ouvido essa história! – Wild estava maravilhado. – Mas o que é que isso tem a ver comigo e a Carol? – perguntou.

            - Eu acho que vocês acabaram de se conhecer e ainda é demasiado cedo para tu perceberes o que sentes realmente. – explicou. – Com certeza estarão juntos mais vezes. E depois sim, terás respostas para todas as tuas dúvidas.

            Wild calou-se e deixou-se envolver nos braços de George. O rapaz sabia que, certamente, o seu pai teria razão. De facto, ele tinha acabado de conhecer Carol e não sabia praticamente nada sobre ela. Mas, talvez com o passar do tempo, todos aqueles pensamentos duvidosos que invadiam a sua mente se tornassem mais claros, ou desaparecessem até.

            A única coisa que ele tinha a certeza, naquele momento, é que podia contar com a sua família para qualquer problema. Acontecesse o que acontecesse, eles estariam ali, sempre ao seu lado para o ajudar.

  

{ 2 comments... read them below or Comment }

  1. Ei, Angie! Tudo certo?

    Concluí então a leitura da primeira metade de Wild! Está passando tão rápido que acho que vou sentir falta desse clima da história quando ela terminar. Mas pelo menos ainda tenho mais cinco capítulos para aproveitar antes disso acontecer. Então vamos ao que interessa!

    Wild está apaixonado! Qual não foi a minha surpresa ao perceber isso na forma como o garoto estava fixado na Carol? Sabe, por um momento eu até cheguei a estranhar um personagem humano se apaixonando por um Pokémon selvagem, mas de certa forma isso faz muito sentido. Foi o meio onde o Wild cresceu e foi criado. Não há um filtro que o impeça de nutrir esses sentimentos, até porque ele tem uma conexão muito forte com Pokémons selvagens em razão de sua criação ter sido através deles próprios. Logo, ele tem essas habilidades de se comunicar que humanos comuns não possuem.

    Eu achei que a Carol ia fazer parte do grupo, mas parece que ela tem algumas responsabilidades a cumprir no lago. Compreensível, porque sem ela quem será capaz de lidar com aquele Gyarados enlouquecido?

    Cara, eu quero muito ver como esses sentimentos íntimos do Wild vão se desenvolver daqui em diante. Aguardo ansioso pela continuação dessa trama.

    Até a próxima! õ/

    ReplyDelete
    Replies
    1. Hello Shadow!

      Companheiro, os seus comentários são sempre tão bem construídos e desta vez não fugiu à regra.

      É verdade sim! Wild está apaixonado. Por um Pokémon. É estranho, sim. Mas toda a sua história é estranha, portanto, o facto de ele se apaixonar por uma bonita Milotic não é a coisa mais louca de sempre. E sim, esta personagem não irá integrar o núcleo familiar de Wild. Assim como Nate, ela faz parte das relações que Wild desenvolve fora desse ambiente mais "seguro". Afinal, em ambos os casos, o rapaz está a experienciar comportamentos completamente novos. Para além disso, sinto que não seria muito natural retirar Milotic do seu habitat aquático. E como disse, ela tem que proteger todos os habitantes desse lago contra o Gyarados raivoso.

      Iremos voltar a ver Carol nos próximos capítulos, com certeza! Posso-lhe confessar que os últimos cinco foram, provavelmente, os que mais gostei de escrever e admirei o bom resultado.

      Vai com tudo, Shadow! Continue por aí e obrigado por ler!

      Delete

- Copyright © 2019 Aventuras em Galar - Escrito por Angie - Powered by Blogger - Designed by CanasOminous -