Posted by : Angie Dec 29, 2019



Capítulo 10 - O destino quis que assim fosse

            O sol brilhava no céu limpo da Wild Area. Vários Pokémon aproveitavam o bom clima para se divertirem no exterior, como era o caso de Susan, George, Tommy, Rory, Peter, Nate e Carol, que se divertiam, de forma descontraída, no jardim da casa da família.

            No entanto, o exterior da habitação estava decorado de uma maneira particular. Várias decorações e efeitos de festa estavam pendurados pelo local, presos nos ramos da árvore. Uma mesa de madeira, colocada ao comprido, continha várias taças de diferentes espécies de Berries que podiam ser encontradas naquela área da região. E, por último, uma espécie de púlpito, construído em pedra, estava colocado em frente à grande mesa.

            Aquele banquete dava início a um dia muito importante e marcante para a família Pokémon. Só faltava uma coisa, e, por sinal, a mais importante. Wild era a razão daquela festa estar a ocorrer e o motivo pelo qual todas aquelas criaturas de espécies variadas estavam ali presentes. Aquele não era só o seu décimo aniversário como também a sua festa de despedida.

            Alguns momentos se passaram até a figura do rapaz atravessar, finalmente, a porta da casa. Os Pokémon, que conversavam animadamente, fizeram silêncio enquanto Wild, sem olhar para eles, caminhou até ao púlpito, onde abriu o envelope que segurava nas suas mãos, retirando um conjunto de folhas manuscritas. O rapaz encarou os papéis à sua frente, escritos por ele, e então começou.

            - Obrigado a todos por estarem aqui, neste dia tão especial. – começou, fazendo uma curta pausa para, finalmente, observar atentamente todos os Pokémon presentes no jardim à sua frente. – Hoje completo dez anos de vida! – gargalhou. – Tudo graças a três Pokémon incríveis que me decidiram acolher no meio de uma tempestade. Susan, George e Tommy, obrigado, do fundo do meu coração. – dizia, tentando manter-se calmo. – Eu não sei o que vos passou pela cabeça naquele dia, mas, a verdade é que agora estamos aqui reunidos graças a vocês. Desde cedo associei a imagem de Susan a uma figura maternal, graças ao seu instinto de proteção, e a de George ao lado paternal, devido a toda a segurança que me transmitia. Já Tommy, sempre me pareceu como um irmão mais velho, alguém que eu olhava e admirava com atenção. Foram eles os três que me forneceram um abrigo, uma casa e, a cima de tudo, uma família. O meu pai sempre disse que não eramos uma família muito convencional, mas eu nunca conheci outra realidade para além desta. E, mesmo que eu saiba que aquela linda borboleta não me deu à luz, eu sempre a vou considerar como uma mãe. E, se alguma vez conhecer realmente a minha mãe biológica, eu vou lhe dizer que tu fizeste lindamente o papel dela. – Wild sorriu e Susan limpava discretamente as lágrimas que lhe caíam pelo rosto. – É claro que esta família não poderia estar completa sem a Rory, a minha irmã mais nova, nascida de um ovo. Contigo aprendi que, não importa o tamanho, a força ou a idade para enfrentarmos qualquer obstáculo ou desafio. Tudo o que nós precisamos é ter força de vontade! – exclamou, recebendo uma gargalhada de Wynaut, no meio do público. – A verdade é que os meus dez anos de vida também contaram com a presença de vários amigos meus. O Peter foi, desde o primeiro dia, o meu grande defensor e companheiro. Já perdi a conta de todas as gargalhadas e artimanhas que fizemos juntos. Eu quero que todos saibam que aquele pequenote ali ao fundo será sempre o meu melhor amigo! – exclamou o rapaz, apontando para Bunnelby que saltitava de felicidade no meio dos outros Pokémon. – Outra figura fundamental para o meu crescimento e evolução pessoal foi o Nate, que começou como um adversário, quando me atacou e me deixou marcado para o resto da vida. – disse, levantando a camisola e revelando a cicatriz na sua barriga, ao mesmo tempo que todos os presentes se deixavam rir. – Apesar desse pequeno acidente, Nate foi, sem dúvida, quem mais me surpreendeu. Ouvir e conseguir perceber a sua história e ponto de vista foi um desafio, mas, agora, tenho a certeza que és um de nós, amigo! – Galvantula esboçou um sorriso envergonhado, como se estivesse a agradecer ao próprio rapaz. – Por último, temos a Carol. – murmurou, sentindo as suas bochechas aquecerem. – Vou ser honesto. Contigo senti algo que nem sequer sabia que existia. Foi estranho, ao início, mas depois passou. Sei que, no fundo, és uma grande amiga. E tenho a certeza que iremos ter mais oportunidades para nadar juntos no teu lindo lago. – o rapaz e a Pokémon sorriram, encarando-se por alguns segundos até Wild voltar a olhar para o papel que permanecia no púlpito. – Vocês são, sem dúvida alguma, a minha família e é aqui, com vocês, que eu me sinto seguro.

            Uma onda de saudações, exclamações e até algum choro invadiu o local. Susan e George abraçavam-se, orgulhosos por terem criado um jovem rapaz tão admirável como Wild. Tommy tentava permanecer sério, mas, no fundo, o Pokémon adorava o seu irmãozinho. Assim como Wynaut, que, juntamente com Bunnelby, saltitava e sorria, feliz por ver o menino crescer. Nate limpava algumas lágrimas, agradecendo por todo o carinho e aceitação da parte da família, depois de tudo o que ele fizera. Já Carol permanecia calma e serena, sem nunca retirar os olhos da figura de Wild, que continuava no topo do púlpito. O rapaz parecia ter algo mais a dizer.

            - No entanto, sei que tenho de continuar a crescer. Crescer à minha maneira. E não o posso fazer aqui, com vocês à minha volta e sempre prontos para me proteger. Quero ser independente, conhecer sítios novos, ver Pokémon diferentes e fazer novos amigos! – exclamou, agora não olhando para o papel, mas sim para todas as criaturas à sua frente. – É por isso que eu, depois de tanto refletir, decidi que vou sair numa jornada Pokémon pela região de Galar.

            Fez-se silêncio absoluto. Todos os Pokémon se entreolharam, incluindo Susan e George, que logo se voltaram para a figura do rapaz.

            - O quê?! – Butterfree parecia surpreendida.

            - Mãe… tu sabes que este dia iria chegar. Eu nunca escondi a minha vontade de sair numa jornada.

            - Mas tu ainda és tão pequeno…

            - Eu sei que o consigo fazer. E eu posso voltar de vez em quando para vos visitar.

            - Se é isso que tu queres, então acho que o deves fazer. – murmurou Bewear, esboçando um pequeno sorriso. – Tenho a certeza que analisaste bem a situação antes de tomar uma decisão definitiva. A tua mãe só não está pronta para se despedir de ti, deves entender isso, com certeza.

            - Claro que sim, pai. – assentiu. – Mas sei que estarás ao lado dela para a ajudar.

            - Posso-te emprestar alguns livros meus, se quiseres. Precisas de aprender a ganhar estratégia de combate! – exclamou Abomasnow. – Tens o meu apoio, irmãozinho.

            - Obrigado!

            - Mas eu vou ter saudades tuas… - disse Wynaut.

            - O teu irmão vai voltar para te visitar a ti e a todos nós, querida. – afirmava Milotic, que deslizou pelo chão do jardim de forma a aproximar-se do corpo da pequena Pokémon para a confortar.

            - Tenho a certeza que ele vai ter saudades nossas! – riu Nate. – Até das nossas disputas.

            - Espera lá. – disse Susan. – Se vais sair numa jornada, precisas de um Pokémon. Não podes andar por aí sozinho!

            - Um Pokémon inicial. – explicou Tommy. – A mãe tem razão.

            - Eu sei. – concordou Wild. – E eu sei quem vou levar comigo. – disse, sorrindo. – O Peter vai ser o meu Pokémon inicial! Quem melhor que ele para me acompanhar nesta aventura?

            Bunnelby, que até então permanecera em silêncio, saltitou pelo jardim, revelando um sorriso de uma orelha a outra e deixando escapar uma gargalhada.

            - Tu sabias disto tudo? – perguntou George.

            - É claro que sim! – respondeu Peter. – E não podia estar mais feliz! – dizia, enquanto saltitava até ao púlpito, aterrando em cima da cabeça do rapaz. – Eu e o meu melhor amigo vamos explorar a região de Galar! – gritou.

            Todos se deixaram rir naquele momento. Apesar de surpresos e um tanto nervosos, ninguém conseguia deixar de estar feliz por aquele acontecimento. Wild estava prestes a sair numa jornada acompanhado do seu companheiro.

            - Acho que temos muito que celebrar então! – exclamou Susan, cedendo à decisão do seu filho e aceitando a sua escolha. – Vamos comer!


            O dia, que antes permanecia alegre e ensolarado, transformou-se totalmente. Uma tempestade trouxe consigo grossas gotas de chuva e um vento descontrolado, que obrigaram a família e os amigos de Wild a abrigarem-se dentro de casa.

            Carol, Tommy e Susan preparavam mais comida na cozinha que, naquela altura, mais parecia um restaurante. Na enorme sala de estar, George vigiava os elementos mais novos, que brincavam alegremente.

            Naquele momento, o corpo de Butterfree entrava a esvoaçar pela divisão, indo ao encontro de Bewear, que permanecia em silêncio a observar a tempestade lá fora, através da grande janela de vidro.

            - Querido? – aproximou-se a borboleta, fazendo o Pokémon despertar. – Estás bem?

            - Estava só aqui a pensar… - murmurou. – Esta tempestade relembra-me o dia que encontrámos o nosso querido menino.

            Susan não podia deixar de concordar mais com o seu amado. Tal como no dia onde encontrara aquela mulher a abandonar uma criança inocente na Wild Area, naquele momento, as fortes rajadas de vento abanavam as árvores e arbustos de toda aquela localidade. Não se avistavam Pokémon na rua, provavelmente estariam todos abrigados nos seus esconderijos. E também não haviam rastos de treinadores Pokémon. A Wild Area parecia triste e deserta, tal como no dia em que Wild ali chegou.

            - Eu concordei com a decisão dele, mas… eu vou sentir muito a sua falta. – soluçou George, deixando que as lágrimas rolassem pelo seu rosto.

            - Oh meu amor, claro que vais. – Susan tentou acalmar o Pokémon. – Mas nós sabemos que o Peter irá lá estar para ele… teremos que simplesmente confiar no destino.

            - E se ele encontrar aquela mulher, Carol? E se ele nos trocar?

            - Quer queiramos, quer não, nós não podemos controlar a vida de Wild. – afirmou a mulher, de uma maneira séria e madura. – Ajudámo-lo a crescer. Ensinamos-lhe tudo aquilo que conseguimos. Agora está na altura dele crescer por si mesmo. – sorriu, com os olhos a brilhar. – Não é isso que os verdadeiros pais fazem?

            - Tu és uma ótima mãe. – confessou George. – Nós todos somos tão sortudos por te ter…

            - Não digas tolices. Somos todos uns felizardos por nos termos uns aos outros! – exclamou.

            Os dois Pokémon envolveram-se num abraço sentido e infinito. Atrás de si, as crianças da família pareciam brincar alegremente, sem sequer se aperceberem do que se passava. No entanto, algo do lado exterior da casa chamou à atenção de Wild.

            - O que é aquilo?!

            Todos os elementos ali presentes se aproximaram da janela para observar aquele acontecimento que nunca antes tinha ocorrido. Um helicóptero preto descia dos céus em direção à propriedade da família de Wild. Era uma viatura consideravelmente grande e viajava a alta velocidade. Mesmo em andamento, a porta da viatura abriu-se e uma Pokébola foi lançada ao ar, revelando uma criatura de três cabeças. O seu corpo era colorido por tons escuros de azul e roxo e nas suas costas seis asas permitiam que o Pokémon voasse pelos céus da Wild Area. Os olhos negros de Hydreigon davam-lhe um ar ameaçador e intimidante.


            - Que Pokémon é aquele?! – Carol estava surpreendida.

            - É muito assustador! – gritou Rory visivelmente perturbada.

            O olhar de Hydreigon penetrou a casa onde todos os elementos se encontravam. Sem nenhum dó de piedade, o Pokémon abriu a sua boca e uma esfera branca começou a ser formada à frente do seu rosto. Hyper Beam era o nome daquela técnica que, momentos depois, fora lançada pelo dragão, atingindo a casa da família de Wild.

            Num segundo, tudo mudou.


            Wild acordou. Sentiu os seus pulmões sujos e tossiu descontroladamente durante alguns segundos. O seu instinto de sobrevivência fez com que o menino abrisse os olhos, tentando procurar respostas, mas sem sucesso. Estava escuro e não conseguia mexer o seu corpo. Estava preso. Tento gritar, mas o som era abafado por todos os materiais à sua volta. Sentia-se ferido, cansado e desmotivado. Estava pronto para desistir. Mas então lembrou-se. Se ele estava ali, onde estava o resto da sua família e dos seus amigos?

            - Eu consigo. – sussurrou baixinho.

            Recorrendo à pouca força que tinha, o rapaz levantou os seus braços, desviando o tronco que prendia o seu corpo. Agora já conseguia ver o céu. Continuava a chover e várias gotas começaram a cair no seu rosto. O rapaz esboçou um fraco sorriso e passou a língua pelos lábios, sentido o sabor da chuva. Encolhendo o seu corpo por entre os materiais que o rodeavam, o menino conseguiu, com alguma dificuldade, colocar-se em pé.

            Agora, conseguia observar todo o cenário de destruição à sua volta. Encontrava-se em cima dos restos da casa da sua família. Dias, semanas, meses e anos de trabalho e dedicação encontravam-se agora completamente desfeitos e destruídos. O rapaz sentiu várias lágrimas rolarem pelas suas bochechas, lembrando-se de todas as memórias que vivera naquela casa. A ideia de algum dia a ver destruída parecia impossível. No entanto, esse pesadelo aconteceu realmente. E estava ali, diante dos seus olhos.

            - Presumo que tu sejas o Wild.

            Uma voz grave e masculina fez-se ouvir no local. Wild virou o seu corpo rapidamente, encontrando uma figura vestida de preto dos pés à cabeça. A sua voz irreconhecível, juntamente com o capuz que escondia o rosto daquele ser, tornavam o cenário bastante misterioso e sinistro. Ao seu lado, o Pokémon de três cabeças permanecia em posição de ataque, pronto para qualquer ordem.

            Atrás da figura desconhecida, a família e os amigos de Wild encontravam-se presos numa jaula de ferro. Tal como o menino, estavam feridos, mas todos eles permaneciam acordados a observar atentamente o desenrolar daquela cena. O helicóptero preto também se encontrava ali estacionado, com dois seguranças armados à porta.

            - Quem és tu?! E o que é que se está a passar?! – gritou, visivelmente alterado.

            - Calma, rapaz… - disse o homem num tom irónico. – A diversão ainda mal começou! – gargalhou.

            - Deixa o meu filho em paz! – gritou Susan, que lutava para sair da jaula, mas era eletrocutada sempre que tocava as barras de ferro.

            - Nós não te fizemos mal nenhum! Porque é que nos estás a fazer isto?! – protestava George.

            - Diz-me Wild, o que é que os teus papás estão para ali a dizer? – provocou o homem.

            - Papás? – o menino cerrou os punhos. – Como é que tu sabes sequer que eu consigo perceber o que eles dizem?! – estranhou ele.

            - Oh Wild… - a figura começou a caminhar de um lado para o outro, ignorando completamente a chuva que continuava a cair com cada vez mais intensidade. – Eu sei tudo! Sei que a tua verdadeira mãe te abandonou. Sei que cresceste com estes estranhos Pokémon. – dizia, apontando para a jaula onde estavam presos. – E sei que, de alguma maneira, desenvolveste essa tua capacidade de comunicar com eles. Falar com eles. Entender a sua linguagem. Tu fazes alguma ideia do quão anormal isso é?

            - Anormal? – repetiu o menino.

            - Pois claro! Ninguém tem essa tua capacidade. Apenas tu.

            - Isso é uma coisa má? – questionou, ingenuamente.

            - É horrível! – gargalhou o homem. – E chegou-me aos ouvidos que pensas em sair numa jornada por Galar? O quão estranho seria quando as pessoas começassem a descobrir essa tua anormalidade!

            - Não prestes atenção ao que ele diz, amigo! – gritava Peter.

            - O que tu tens é um dom! – exclamou Tommy, preocupado com toda aquela situação.

            - Calem-se! – gritou o homem, sendo acompanhado pelo Hydreigon ao seu lado que rugia de fúria. – Ainda bem que não percebo o que vocês dizem! Patéticos!

            - Patético és tu!

            Wild saltou para cima do corpo do homem, fazendo com que os dois caíssem ao chão e se envolvessem numa luta corpo a corpo. O rapaz desferiu vários murros e pontapés pelo corpo do desconhecido, mas a estatura do adulto era maior e mais forte, daí ele conseguir facilmente tomar o controlo daquela situação.

            - Chega!

            O homem levantou-se do chão, pegando em Wild pelo pescoço. O rapaz sentiu a sua visão desfocar e o ar parecia não chegar aos seus pulmões.

            - Tu és uma desgraça. – a raiva e o ódio na voz do homem eram nítidos para todos os presentes no local. Claramente tinha motivos desconhecidos para se sentir assim. - Uma completa distração. Não posso permitir que arruínes os meus planos!

            O homem soltou o corpo de Wild, fazendo com que este caísse de joelhos no chão. O menino sentia-se tonto e fraco, sem saber o que fazer.

            - Está na altura de te despedires da tua família. – afirmou. – Se não te armares em espertinho, eu prometo que irei tomar, devidamente, conta deles.

            Wild fitou o rosto escondido do homem por alguns segundos, refletindo sobre a proposta. Apesar de ser apenas uma criança, ele sabia perfeitamente qual seria o fim daquele encontro. Assentiu com a cabeça e levantou-se calmamente do chão. Virou o seu corpo na direção da jaula onde os Pokémon estavam presos e arrastou o seu corpo até ao local.

            - Wild… - Carol choramingava. – Não desistas, por favor.

            - Eu vou dar cabo daquele tipo! – gritava Nate.

            - Vocês não podem fazer nada. – murmurou o menino, encarando o chão.

            - Não foi isso que me ensinaste, Wild… - Rory falava com uma voz fraca, tentando controlar o choro.

            - Temos que aceitar o destino. – o menino levantou a cabeça, encarando todos aqueles Pokémon que tanto significavam para si. – Eu nunca iria poder agradecer ou compensar-vos por tudo aquilo que fizeram por mim. Mas agora posso. O destino quis que assim fosse. – dizia, esboçando um fraco sorriso.

            - Eu não acredito no que estou a ouvir! – exclamou Susan. – Tu não te vais sacrificar por nós!

            - Aquele homem é nitidamente louco! – gritava George desesperado.

            - E eu sou uma aberração. – afirmou Wild.

            - Não estás autorizado a dizer uma coisa dessas! – contrapôs Butterfree.

            - Vocês são criaturas Pokémon. E eu sou um humano. Como é possível que eu consiga compreender-vos?

            - Nós não sabemos! Mas não é por isso que és um anormal, Wild! – argumentou Abomasnow. – Tu és o meu irmãozinho!

            - Desculpem. – lamentou o rapaz. – Mas eu não posso permitir que vos aconteça algo de mal por minha causa.

            Sem dizer mais nada, Wild virou costas ao grupo de Pokémon. Uma onda de gritos, exclamações e lamentações inundou o local. Susan não queria acreditar que o seu filho iria sacrificar-se por ela. George lamentava-se por não conseguir defender o rapaz. Tommy, Rory e Peter gritavam para que ele voltasse e não desistisse. Nate choramingava, desejando poder sair daquela jaula e enfrentar aquele homem desconhecido. E Carol lamuriava-se por não poder passar mais tempo com o humano por quem se apaixonara.

            O rapaz caminhou até ao centro do local e levantou o seu olhar para a figura de preto que o observava atentamente. As gotas de água continuavam a cair intensamente no seu rosto e, por algum motivo, aquele era o melhor sentimento que Wild sentia naquele momento. Quase que o fazia esquecer de todo o medo, confusão e indignação que nutria. Por rápidos segundos, o rapaz relembrou todos os momentos felizes que passara com aqueles Pokémon. Esboçou um sorriso, lembrando-se de tamanha felicidade. Nunca mais iria sentir aquilo. Mas eles mereciam todo aquele sacrifício.

            - Estou pronto. – afirmou com convicção.

            De baixo da sua máscara, o homem esboçou um sorriso vitorioso. Nada nem ninguém iriam colocar-se no seu caminho. E aquele momento era prova disso. Sem dizer mais nada, levantou o seu braço direito e Hydreigon, que permanecia ao seu lado, elevou o seu corpo no ar.

            - Outrage!


            A chuva continuava a cair na Wild Area e o som das gotas de água a caírem pela terra do local era a única coisa que ali se ouvia.

            Já não havia nenhum sinal de Susan, George, Tommy, Rory, Peter, Nate ou Carol ali. O homem desconhecido e o seu Hydreigon também já não estavam presentes. E o helicóptero já não se encontrava estacionado no local.

            Pelo contrário, o cenário de destruição e luta era a única coisa que ali permanecia e era visível para qualquer um que ali passasse. A árvore que antes servia de base para a casa da família Pokémon encontrava-se destruída, assim como todos os seus pertences. E entre os destroços, o corpo de Wild encontrava-se caído no chão. Os seus olhos permaneciam abertos, encarando o céu infinito. No seu peito, uma garra de dragão atravessava o seu corpo de um lado ao outro. O menino já não respirava.

            Wild estava morto.

  

{ 8 comments... read them below or Comment }

  1. Oh meu Arceus.

    Que belo especial, uma ótima experiência.

    Não sei o que dizer, sei que fiz poucos comentários ao longo da sua historia mas saiba que gostei de cada um, particularmente o capítulo 8 com a aparição do Leon, mas devo dizer, que o capítulo 9 não ficou nada atrás, surgimento do Ethan foi uma total supressa para mim, mas mais supressa ainda foi este capítulo que foi como uma faca no estomago.

    Wild morrer? Não esperava esse plot twist. Fiquei tão triste por ele e pela família, ver a evolução dele como personagem, a sua inocência, as relações com os outros personagens, ele finalmente escolher o que quer fazer da vida para no final… ir tudo por água a baixo. Quem será aquele homem? Um membro da família de Wild? Hmmmmm…. Espero obter respostas na história principal.

    E oque irá acontecer a família de Wild? Agora sem casa, sem um membro querido da família, acredito que alguns poderão despertar um ódio por humanos, por terem destruído tudo que lhes restava…. Espero encontra-los em breve. Muito obrigado por esta história, Angie e fico muito orgulhoso por ter conseguido termina-la com chave de ouro.

    Que 2020 seja melhor ainda!

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    1. Oi companheiro!

      Penso que foi o primeiro leitor a terminar de ler "Wild", por isso tenho que lhe dar os meus parabéns por aguentar até aqui e o meu grande obrigado por ler e comentar nos capítulos! Isso significa muito para mim, mesmo!

      Os capítulos 8 e 9 foram muito especiais para mim, pois permitiu que outros personagens fora da família de Wild pudesse participar, dando início a uma série de acontecimentos que mais tarde se iriam ter o seu fim no capítulo 10.

      Como apontou muito bem, Wild, de fato, morreu. Ele podia ser uma criança completamente feliz mas, por algum motivo, esse homem teve de estragar tudo e vir matá-lo.E agora, claro, todas as suas questões fazem imenso sentido.

      Quem matou Wild? Onde estão os seus Pokémon? O meu conselho é, se quer realmente descobrir a verdade dessas questões, deve esperar e ler AVenturas em Galar! As respostas poderão ser descobertas lá!

      Até então!

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  2. Caralho por esse final eu não esperava, que incrível! Foi uma otima experiência! Adorei o clima de mistério e mal posso esperar por respostas. Até mais!

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    1. Que bom ver você por aqui, Shiny!

      Obrigado por ler a história de Wild e da sua família nada tradicional! E ainda bem que não esperava por esse final, o meu trabalho é tentar surpreender todos vocês.

      Se quer respostas, aconselho a acompanhar a história principal de Aventuras em Galar. Mais cedo ou mais tarde vamos começar a perceber o que aconteceu. Está tudo ligado!

      Obrigado por comentar e vemos-nos por aí!

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  3. Ele morreu.
    Eu sabia disso e esqueci. Te falei, sempre esqueço os finais.
    É realmente um mistério o que vai acontecer. Não saber quem foi esse cara que matou todos e destruiu tudo... Mas acabou a história de Wild. Mal posso esperar para ler e descobrir. Até a próxima!

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    1. White!

      É verdade, sim. O desfecho negro e macabro de Wild aconteceu. O mistério que rodeia a sua morte será resolvido, com tempo, na história principal de Aventuras em Galar, portanto espero vê-la por lá também!

      Até!

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  4. Chegamos ao fim dessa jornada que... Nem começou! kkkkkkkk Como assim?

    Diga Angie! Tudo bem?

    Olha, eu vou ser sincero com você. O Dento estragou a surpresa quando me obrigou a ler a timeline, mas ainda assim você fez esse capítulo acontecer com tanta maestria que nem parecia que eu tinha tomado um spoiler. Eu ainda consegui ficar chocado com a forma como as coisas ocorreram, e o fim trágico de Wild levanta várias questões que agora ficam sem resposta. Será que teremos noção do que realmente aconteceu quando estivermos acompanhando Aventuras em Galar?

    Achei incrível como você conduziu a história de forma tão amigável e de repente uma brusca mudança de atmosfera joga tudo pros ares. Fator surpresa pelo visto é uma de suas grandes armas kkkkkkk

    Nos despedimos de Wild. É até estranho depois de acompanhar todo esse desenvolvimento do personagem saber que ele não estará mais por aí. Mas como o próprio título diz, o destino quis que assim fosse.

    Até a próxima! õ/

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    1. Hey Shadz!

      Finalmente chegou até aqui! E como disse é, de facto, uma sensação estranha a forma tão abrupta como a história de Wild muda e termina. Mas, por alguma razão ainda desconhecida, as coisas tiveram de ocorrer assim. Não o veremos na história principal de Aventuras em Galar, mas teremos certamente a resolução do mistério por trás da identidade do seu assassino.

      Ficarei à sua espera pelos capítulos, companheiro! Desde já, agradeço por acompanhar esta jornada tão querida para mim.

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